segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Charles Bukowski - APRENDE-SE

aprende-se a resistir porque não resistir
é entregar o mundo na mão deles
e eles são menos que
nada.


resistir significa simplesmente mostrar a que veio
e quanto pior a disputa
mais prazerosa é
a vitória.


dizem que você deve lutar pela sua
liberdade.
sei disso.
só que não lutei contra os japoneses, os italianos, os alemães
ou os russos
pela minha liberdade.
lutei contra os americanos: os pais, os pátios das escolas,
os patrões, as mulheres de rua, os amigos, o
próprio
sistema.


a luta, é claro, não tem fim.
novas dificuldades surgem como um trem pontual.
pode não ser mais a manhã de ressaca ou a
linha de montagem da fábrica
mas a traição, a falsidade e as falsas esperanças tomam seu
lugar.

acredito que somos testados mesmo quando
dormimos, e geralmente tudo é tão fatal
que só podemos rir.


para resistir é preciso um pouco de sorte, algum conhecimento e
um razoável senso de
humor porque os insensíveis se tornaram mais insensíveis,
os fortes mais fortes,
os que tinham coragem menos corajosos e
tudo que nos resta é
considerar o jeito
que o elefante fica em silêncio na floresta esperando pra morrer,
o jeito que o homem fracassa de novo e de novo e de novo,
o jeito que o padre esquece suas preces,
o jeito que o amor pode se tornar uma loucura,
ou o jeito que a chuva fria penetra no túmulo
de Mozart. apesar disso e
de tantas outras coisas
é que finalmente se aprende
a resistir.

domingo, 6 de novembro de 2016

Haruki Murakami - Norwegian wood (frag)

Perguntei-me subitamente quantas dezenas ou centenas de domingos iguais àquele ainda se repetiriam na minha vida. “Domingos silenciosos, pacíficos e solitários”, disse em voz alta para mim mesmo. Aos domingos, eu não dava corda em mim mesmo.