domingo, 28 de março de 2010

Especial Virgínia Woolf

"A vida é o que as pessoas aprendem"

Virgínia Woolf - Biografia

Virginia Woolf (Londres, 25 de Janeiro de 1882 — Lewes, 28 de Março de 1941) foi uma das mais importantes escritoras britânicas.Filha do editor Leslie Stephen, o qual deu-lhe uma educação esmerada, de forma que a jovem teria frequentado desde cedo o mundo literário.
Em 1912, casou-se com Leonard Woolf, com quem funda, em 1917, a Hogarth Press, editora que revelou escritores como Katherine Mansfield e T.S. Eliot. Virginia Woolf apresentava crises depressivas. Em 1941, deixou um bilhete para seu marido, Leonard Woolf, e para a irmã, Vanessa. Neste bilhete, ela se despede das pessoas que mais amara na vida, e se mata de forma triunfante.

Virginia Woolf foi integrante do grupo de Bloomsbury, círculo de intelectuais que, após a Primeira Guerra Mundial, se posicionaria contra as tradições literárias, políticas e sociais da Era Vitoriana. Deste grupo participaram, dentre outros, os escritores Roger Fry e Duncan Grant; os historiadores e economistas Lytton Strachey e John Maynard Keynes; e os críticos Clive Bell e Desmond McCarthy.

A obra de Virginia é classificada como modernista. O fluxo de consciência foi uma de suas marcas mais conhecidas e da qual é considerada uma das criadoras.Viveu e sobreviveu pela arte que atravessava os canais vitais e mais íntimos do seu ser. Sofreu como todo ser humano está destinado a sofrer, mas soube através do movimento mínimo de suas mãos imbuir as palavras assomadas com a dor e com a alegria que tanto a maceravam.

Suas reflexões sobre a arte literária - da liberdade de criação ao prazer da leitura - baseadas em obras-primas de Conrad, Defoe, Dostoievski, Jane Austen, Joyce, Montaigne, Tolstoi, Tchekov, Sterne, entre outros clássicos, foram reunidos em dois volumes publicados pela Hogarth Press em 1925 e 1932 sob o título de The Common Reader - O Leitor Comum, homenagem explícita da autora àquele que, livre de qualquer tipo de obrigação, lê para seu próprio desfrute pessoal. Uma seleta destes ensaios, reveladores da busca de Virginia Woolf por uma estética não só do texto mas de sua percepção, foi reunida em língua portuguesa em 2007 pela Graphia Editorial, com tradução de Luciana Viegas.


Obras:

A viagem (The Voyage Out) (1915)
Noite e dia (Night and Day) (1919)
O quarto de Jacó (Jacob's Room) (1922)
Mrs. Dalloway (1925)
O Leitor Comum (The Common Reader) (1925 - Primeiro volume)
Rumo ao farol (To the Lighthouse) (1927)
Orlando - Uma biografia (Orlando: A Biography) (1928)
As ondas (The Waves) (1931)
O Leitor Comum (The Common Reader) (1932 - Segundo volume)
Flush (Flush: A Biography) (1933)
Os anos (The Years) (1937)
Roger fry (1940)
Entre os atos (Between the Acts) (1941)
Contos Completos (1917-1941)

Virgínia Woolf - Bilhete de suicídio

No dia 28 de Março de 1941, após ter um colapso nervoso Virginia suicidou-se. Ela vestiu um casaco, encheu seus bolsos com pedras e entrou no Rio Ouse, afogando-se. Seu corpo só foi encontrado no dia 18 de abril.
Em seu último bilhete para o marido, Leonardo Woolf, Virginia escreveu:

"Querido,

Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.V."

Virginia Woolf - filme As Horas


O romance Mrs. Dalloway ficou conhecido pelo filme As Horas, baseado na obra homônima de Michael Cunningham, filme no qual Virginia foi interpretada por Nicole Kidman, premiada com um Oscar por seu retrato da escritora britânica. As Horas conta várias histórias, mescla a vida da própria autora numa personagem e coloca algumas particularidades de Mrs. Dalloway numa dessas histórias. Em Mrs. Dalloway, Virginia descreve um único dia da personagem, quando ela prepara uma festa.


Em três períodos diferentes vivem três mulheres ligadas ao livro Mrs. Dalloway. Em 1923 vive Virginia Woolf (Nicole Kidman), autora do livro, que enfrenta uma crise de depressão e idéias de suicídio. Em 1951 vive Laura Brown (Julianne Moore), uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles, planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro. Nos dias atuais vive Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora de livros que vive em Nova York e dá uma festa para Richard (Ed Harris), escritor que fora seu amante no passado e hoje está com AIDS e morrendo.








Virgínia Woolf - Aforismo

" Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial".

Virgínia Woolf - Aforismo

"Da felicidade para a melancolia não medeia espessura maior que a de uma lâmina de faca". (...)

Virgínia Woolf - Aforismo

"Eu vivo na mais profunda escuridão que só eu conheço, só eu sei o estado em que estou"

Virgínia Woolf - Mrs Dalloway

"Não, agora nunca mais diria, de ninguém neste mundo, que eram isto ou aquilo. Sentia-se muito jovem; e, ao mesmo tempo, indizivelmente velha. Passava como uma navalha através de tudo; e ao mesmo tempo ficava de fora, olhando. Tinha a perpétua sensação, enquanto olhava os carros, de estar fora, longe e sozinha no meio do mar; sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse. Não que se julgasse inteligente, ou muito fora da comum. Nem podia saber como tinha atravessado a vida com os poucos dedos de conhecimento que lhe dera Fräulein Daniels. Não sabia nada; nem línguas, nem história; raramente lia um livro agora, exceto memórias, na cama; mas como a absorvia tudo aquilo, os carros passando; e não diria de Peter, não diria de si mesma: sou isto, sou aquilo.”

quinta-feira, 25 de março de 2010

Paul Éluard

Acaricia o horizonte da noite,
busca o coração de azeviche
que a aurora recobre de carne.
Ele te porá nos olhos pensamentos inocentes,
chamas, asas e verduras
que o sol ainda não inventou.
Não é a noite que te falta,
mas o seu poder.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Especial Goethe

"O que passou, passou,
mas o que passou luzindo,
resplandecera para sempre"

Goethe: Biografia

Escritor alemão autor de uma gigantesca produção literária. Escreveu principalmente poesias e peças de teatro.


Johann Wolfgang von Goethe, nasceu em 28 de agosto de 1749 em Frankfurt am Main (sobre o rio Meno), Alemanha, e faleceu em março de 1832, aos 82 anos, em Weimar. Filho mais velho de um advogado rico, Johan Kaspar Goethe, e de uma aristocrata de Frankfurt, Katharine Elizabeth Textor, teve, de acordo com sua autobiografia, uma infância cercada de estimulação e conforto, e recursos para uma juventude boêmia e tão emocionalmente febril que algumas vezes chegou a recear perder a razão. De seus sete irmãos, apenas sua irmã Cornélia, nascida em 1750, sobreviveu.

Durante a Guerra dos Sete Anos envolvendo a França, a Áustria e a Rússia de um lado, e do outro a Inglaterra e a Prússia, de complexos e inextricáveis motivos, aconteceu que tropas franceses ocuparam Frankfurt e seu comandante foi alojado na casa de Goethe, para desconforto da família e irritação de seu pai que não era simpático aos franceses. Dessa época Goethe guardava algumas lembranças desagradáveis, como a reprovação paterna por ele assistir ao teatro encenado por atores franceses e também pelo escândalo armado em torno de seu amor infantil por Gretchen, uma menina que tentou tirar vantagem da paixão do garoto com prejuízo para a família.

Sua instrução nos primeiros anos foi dada por seu pai, e depois continuada por mestres contratados como tutores. Em outubro de 1765, aos 16 anos, iniciou estudos de Direito na universidade de Leipzig, cidade da qual logo descobriu o lado boêmio e a qual considerava uma pequena Paris. Lá estudou também desenho, e desenvolveu interesse pela pintura.

Obcecado por sexo, Goethe tinha as mulheres como indispensáveis energizadoras do corpo, e civilizadoras do espírito do homem, e fonte de sua vida criativa. Em Leipzig Goethe apaixonou-se por Anna Katharina Schonkopf, filha de um comerciante de vinhos local. Escreveu Das Leipziger Liederbuch, inspirado nesse amor. Em 1768 retornou para casa em Frankfurt a fim de recuperar a saúde, debilitada pelos excessos da vida em Leipzig. Enquanto convalescia ocupou-se de leituras, introspecção religiosa, e experiências com alquimia e astrologia. Após sua recuperação os pais o enviaram a Strasbourg, capital da Alsácia, uma cidade que era francesa porem de forte cultura alemã, a fim de prosseguir seus estudos de Leis.

No inverno de 1770-1771 Goethe, já advogado, participa no movimento Sturm und Drang ("Tempestade e impetuosidade") liderado por Johan Gottfried Herder, de quem se fizera amigo. Esse movimento, que teve curta duração, propunha um estilo novo na literatura e no teatro, com uma linguagem cheia de vitalidade primitiva, em contrastante com a afetação gentil de origem francesa própria da literatura de sua época. A peça Geschichte Gottfriedens von Berlichingen mit der eisernen Hand dramatisiert ("História de Gottfriedens von Berlichingen dramatizada com mão de ferro") escrita de 1771-1773, e o seu poema Prometheus, que exorta o homem a acreditar, não nos deuses, mas em sua própria força, estão vazados nesse novo estilo de linguagem direta, no qual também escreve poemas para sua nova paixão, Frederica Brion, filha do pastor de Sessenheim, uma pequena vila cerca de 40 quilômetros a nordeste de Strasbourg, à margem da ferrovia para Lauterstein.

Após terminar o romance com Frederica, Goethe retornou a Frankfurt onde, de 1771 a 72, advogou, escreveu poesia e teatro, e colaborou no Frankfurter Gelehrte Anzeigen. Por força do seu trabalho jurídico, passou quatro meses em Wetzlar, sede da corte de justiça imperial. Enquanto advogou em Wetzlar, ainda em 1772, enamorou-se de Charlotte Buff, a noiva de um colega, uma paixão que quase o levou ao suicídio.

Em 1774, Goethe mudou-se para Wetzlar onde escreveu versos ainda sob a influência dos antigos, imitando a Píndaro, poeta grego, e dedicados às suas paixões do momento. No mesmo ano publicou sua primeira história auto-reveladora, Die Leiden des Jungen Werthers ("As desventuras do jovem Werther ") contando seu desesperado amor por Charlotte Buff. O personagem Werther, que comete suicídio, torna-se o protótipo do herói romântico. Curou-se com outra paixão, desta vez por Maximiliane von La Roche, filha da escritora Sophie von La Roche.

Uma nova paixão inspiradora desenvolveu em 1775 o levou a noivar com Lili Schonemann, que vivia com a mãe, viuva de um rico banqueiro de Frankfurt e figura da elite social da cidade. Lili o inspirou a escrever duas operetas Erwin und Elmire e Claudine von Villa Bella. O pouco interesse em participar do círculo da aristocracia local fez arrefecer sua paixão e o levou a romper o noivado.

Ainda em 1775, ano de muitos eventos em sua vida, Goethe fez uma viagem à Suíça com os amigos Conde von Haugwitz e Friedrich Leopold, Conde de Stolberg, este um ano mais moço que ele e acabara de completar seus estudos na universidade. Neste ano escreveu também Stella, a história de um homem, Fernando, que encontra um modo de conciliação entre sua mulher Cecília e sua amante Stella: viverem juntos os três. A peça provocou protestos e Goethe viu-se obrigado a modificar a solução dada, promovendo o suicídio de dois personagens da trama.

Em fins de 1774, Carlos Augusto, jovem duque de Saxe-Weimar-Eiisenach, havia passado por Frankfurt a caminho de Paris e convidara o poeta para visitar Weimar, a capital do ducado. Em 1775, depois de herdar o governo do Ducado, o príncipe repetiu o convite e Goethe aceitou. No mesmo ano mudou-se para Weimar, disposto a viver os prazeres da corte. Em pouco tempo a população o acusava de desencaminhar o príncipe, que reagiu fazendo o poeta comprometer-se com setores do governo que deixou a seu cargo. Era parte de seu trabalho, como ministro do pequeno principado, inspeccionar minas, supervisionar a irrigação do solo, providenciar uniformes para a pequena milícia, e outros serviços administrativos.

Os duros afazeres de seu cargo obrigaram-no a deixar de lado obras já iniciadas, como Egmont, Faust, Torquato Tasso e Iphigenie auf Tauris. Mas não o distraíram de sua obsessão pelas mulheres. Seu grande amor na época foi Charlotte von Stein, mulher de outro funcionário palaciano. Frau von Stein dominou a vida do poeta por 12 anos, "O belo talismã de minha vida", como ele próprio a chamava, mulher de gosto refinado, era mais velha que ele 7 anos, e mãe de sete filhos. Ele a conheceu quando tinha 26 anos e ela 33 e chegou a escrever-lhe mais de 1.500 cartas.. Esta paixão inspirou o Die Geschwister e outros poemas.

Por volta de 1780 já era fanado o movimento Sturm und drang e Goethe havia retornado ao humanismo clássico. Então, juntamente com Herder, foi membro da sociedade secreta os Illuminati, a qual, a partir de 1780 foi conhecida como "Maçonaria Iluminada", alcançou grande prestígio entre as elites européias, sendo extinta pelo governo da Bavária, que instituiu em 1787 pena de morte para os membros recalcitrantes.

No outono de 1786, Goethe decidiu sacudir o jugo de seu cargo e viajou subitamente para a Itália. Estava no famoso balneário de águas quentes de Karlovy Vary, mais conhecido pelo nome alemão de Karlsbad (hoje na República Checa), quando escapou numa diligência postal levando consigo, além da roupa do corpo, apenas um bornal. Adotou um nome falso e passou incógnito por Munich, Brenner, Lago di Garda, Verona e Veneza. Em Roma, encontrou a colônia de artistas alemães que o recebeu com grande simpatia, ele próprio passando por pintor. No ano seguinte viajou a Nápoles e Sicília.

Desistindo da pintura, ainda em Roma voltou à literatura. Escreveu a peça dramática Iphigenie Auf Tauris ("Ifigênia na Táurida"), concluída em Roma em 1787. Publicaria posteriormente o diário da sua estada na Itália, sob o título Italianische Reise ("Viagem Italiana").

É de 1788 Egmont, tragédia de fundo político, em 5 atos, que se passa em meados do século XVI e que tem por cenário a luta dos holandeses contra o domínio espanhol. Egmont, que acaba traído, preso e condenado à morte, quer a liberdade por via negociada. O príncipe Guilherme de Orange, seu amigo, quer a luta armada. Ao ver o fim que esperava Egmont, sua amante Clarinda comete o suicídio.

De sua viagem à Itália, que findou em 1788, o principal produto foi Romische Elegien ("Elegias romanas") poemas sensuais escritos de 1788 a 1789, nos quais admira os vestígios da Antigüidade clássica e louva os antigos. Estava então amasiado com Christiane Vulpis, filha de um funcionário humilde do ducado. Com Christiane ele montou um lar depois que ela lhe deu o filho August, o mais velho e único sobrevivente de 5 crianças, mas somente se casaram em 1806. Até seu casamento apresentou a jovem Christiane como governanta de sua casa.

Em Weimar, uma das poucas casas que aceitavam receber Goethe e Christiane era a de frau Schopenhauer, mulher que, deixada viuva, adotara o amor livre e atraia a boemia de Waimar. Sempre censurada pelo filho, o filosofo Arthur Schopenhauer, que repudiava seu modo de vida, brigou com ele para nunca mais se verem.

É de 1790 a peça teatral Torquato Tasso, que aborda as dificuldades da linguagem e o problema do conflito entre o compromisso social do poeta e de como preservar sua individualidade.

Friedrich von Schiller (1759-1805), outra importante figura da literatura alemã, passa a residir em Weimar em 1794 e se torna grande amigo de Goethe. As cartas trocadas por ambos encheram quatro volumes impressos. Schiller estimulou-o a continuar a escrever o Fausto, do qual Goethe havia publicado a primeira parte em 1790. Nos anos seguintes Goethe contribuiu para o jornal de Schiller Die Horen, publicou Wilhelm Meisters Lehrjahre em 1795-96, e continuou a escrever em seu próprio jornal literário Propyläen.

Já sem os seus compromissos no governo de Weimar, Goethe continuou porém diretor do teatro da corte até 1817. Também acompanhou o Duque Garlos Augusto na campanha de 1792 em território francês, que culminou com a batalha de Valmy, um desastre que ele narra em duas obras Campagne in Frankreich-1792 e Belagerung von Mainz. A idéia das forças austro-prussianas era restaurar no trono Luiz XVI, deposto pela Revolução Francesa e cujo fado estava para ser a morte na guilhotina pouco depois.

Goethe dedicou-se em 1795 e o ano seguinte ao romance Wilhelm Meisters Lehrjahre ("Os anos de aprendiz de Wilhelm Meister"), que segue o mesmo tema da relação do homem com a sociedade abordado em Torquato de Tasso, com a exortação de que o homem deve se descobrir a si mesmo em meio aos diversos encargos e provas da vida em sociedade,

Em 1803 para ajudar seu amigo o médico, poeta e filósofo Schelling, empenhou-se no caso do divórcio da escritora Carolina Schlegel, que separou-se de Augusto Wilhelm von Schlegel, um intelectual professor na Universidade de Jena, para casar-se com Schelling em 1803. Com seu prestígio pessoal, interferiu também para que Hegel fosse nomeado professor extraordinário da universidade de Berlim em 1805. A morte de Schiller, no mesmo ano, o deixou abalado e em sua homenagem escreveu Epilog zu Schillers Glocke.

Em 1806 Weimar foi invadida pelos franceses e o medo do que podia acontecer a seus bens levou Goethe a casar-se com Christiane Vulpius. A ela devia os cuidados e a dedicação que lhe salvaram a vida naquele ano, quando esteve gravemente doente.

Napoleão, ao invadir a Alemanha em 1808, quis ver o escritor, em cujo nome só se falava. Goethe foi ao seu encontro no Congresso de Erfurt,, e foi por ele condecorado com a grande cruz da Legião de Honra.

Em 1808 Goethe publicou a primeira parte do seu longamente preparado Fausto. Nesta primeira parte, o demônio, Mefistófeles, obtém permissão nos céus para tentar Fausto, um intelectual desiludido com o mundo. Em seu gabinete, Fausto medita sobre sua existência e o sentido da vida, que não consegue desvendar; e pensa em suicídio. O demônio se apresenta e lhe propõe: acompanhá-lo em sua vida terrena, em troca de sua alma, no além. Fausto é levado a conhecer Gretchen, uma jovem angelical por quem se apaixona. Um sonífero dado à mãe da moça possibilita que Fausto passe a noite com ela e a engravide. Ao tomar conhecimento dos fatos, Valentim, irmão de Gretchen, briga com Fausto que acaba por matá-lo e fugir. Desesperada Gretchen escuta a voz incriminadora de sua consciência e mata a criança. Mais tarde Fausto encontra Gretchen louca e encarcerada para ser executada.

Seu biógrafo mais recente, Daniel Wilson, informa que Goethe, como conselheiro em Weimar, havia recomendado por escrito a pena de morte para os casos de infanticídio. Outros membros do conselho do Ducado fizeram coro com ele, resultando a condenação e execução de Anna Catharina Hoehne por esse crime, em 1783.

É sabido que a idéia original do Fausto não é uma criação de Goethe. O escritor alemão dramatizou um relato histórico sobre um verdadeiro Fausto, que viveu na Alemanha no final do século XVI. Era um mágico, astrólogo e alquimista, que andava pelo país gabando-se de poder predizer o futuro e explorando a credulidade do povo ignorante e supersticioso, e dele se dizia que tinha parte com o demônio. Uma das testemunhas da sua existência foi Agrippa von Nettesheim. Segundo um crítico de Goethe, a história do verdadeiro Fausto foi contada primeiro por Christopher Marlowe em um drama impresso em Frankfurt em 1587. De acordo com a peça, Gregorius Faustus, ou Gregorius Sabellicus Fautus Junior (c 1480-1510/1), estudou teologia em Wittenberg, mas, arrogante e superficial, e desejando conhecer todas as coisas na terra e nos céus, recorreu à magia e invocou o Demônio. O Demo lhe aparece, com o nome de Mefistófeles e faz com ele um trato: concorda em ser seu criado por 24 anos, porém com direito à sua alma. O contrato é selado com o sangue de Fausto, que daí em diante tem uma vida de maravilhosas aventuras. Mas, ao final do prazo, é levado pelo demônio e seu corpo sem vida é encontrado na calha do esgoto público.

Goethe deu ao seu "Fausto" um final diferente, permitindo que ele fosse salvo. A segunda parte, com um tema algo diverso, foi publicada mais tarde em 1832.

No início do mesmo ano da publicação da primeira parte do "Fausto", 1808, Goethe começou a escrever Der Wahlverwandtschaften ("Afinidades eletivas"), que terminaria ao final do ano seguinte. Este romance está centrado na análise moral e psicológica do jogo de atratividade e repulsa entre casais ligados por atrações inevitáveis e trata da explosão da paixão em um mundo cuja ordem é por demais frágil para suportar essa invasão. Fala de afinidades magnéticas animais que atrairiam os seres humanos entre si do mesmo modo que os elementos químicos. Nele Goethe considera o matrimônio uma "síntese de impossibilidades". O livro é contemporâneo de seu amor por Minna Herzlieb, uma jovem de dezoito anos, inspirado pelo amor a Minna Herzlieb, filha adotiva de seus amigos Frommann, livreiros em Jena, sendo ele sessentão. A obra foi considerada imoral e levantou protestos.

Na ocasião fez também uma incursão pela ciência, marcada por uma infeliz teoria da luz, que ele propôs na obra Zur Farbenlehre ("Teoria das cores" - 1810), ignorando as descobertas de Newton, e também por suas idéias sobre a "metamorfose das plantas", contida no seu Die Metamorphose der Pftanzen Zu Erklaren, de 1790, muito criticada pelos botânicos. Entre suas últimas obras conta-se sua autobiografia, Dichtung und Wahrheit (Poesia e Verdade"), de 1811.

Christiane, sua mulher, veio a falecer em 1816, e no ano seguinte ele deixou a direção do Teatro de Weimar, ano em que também seu filho se casa.. De 1816 a 1817 publicou Italianische Reise, I-II ("Viagem à Itália"), já referido.

Em 1819, quando namora Mariana Von Willemer, jovem de 18 anos, mulher de seu amigo Von Willemer, escreveu West-östlicher Divan ("Divã do Leste e Oeste"-1819). Essa obra, impregnada de formas e imagens orientais, não foi idéia original de Goethe, pois inspirou-se na versão dos poemas persas de Hafiz, traduzidos por Joseph, Barão von Hammer-Purgstall (1774-1856), um renomado orientalista e diplomata austríaco mais jovem que ele. No mesmo ano publicou também Trilogie der Lindenschuaf.
Uma última paixão pela jovem Ulrique von Levetzow marca seu final de vida e lhe inspira l'Élégie de Marienbad, enquanto também trabalha a obra de maior fôlego, Wilhelm Meisters Wanderjahre oder Die Entsagenden ("Os anos de viagem de Wilhelm Meister ou os Renunciantes") escrita de 1821 a 1829, na qual aborda o tema da busca de uma ordem de vida que englobasse as diferenças individuais, mas que haveria de requerer para isto um certo grau de sacrifício e de renuncia.

Goethe continuou criativo até seus últimos anos. Em 1832 é conhecida a segunda parte do Fausto. Mefistófeles leva Fausto à corte e ambos salvam o império da falência. O imperador exige, como prova das artes mágicas de Fausto, que ele faça aparecer Helena e Paris, figuras da mitologia grega. Fausto realiza a proeza, mas desmaia ao tentar abraçar Helena. Juntamente com seu ex-criado, que havia conseguido produzir um homem artificial, o. Homúnculos, segue para a Grécia, à procura de Helena. Na Grécia o Homúnculos deseja adquirir proporções normais e, aconselhado por Proteus, que que tem o poder de tudo transformar, mergulha no mar, porém nas águas se transforma em luz fosforescente. Fausto encontra Helena e fogem para se casar em um castelo medieval. Com ela Fausto tem um filho, mas Helena volta ao reino das sombras. Fausto apoia o imperador que está ameaçado por uma revolta e, com a ajuda de Mefistófeles, vence o inimigo. Como recompensa recebe terras e almeja uma vida tranqüila. Porém tem que lutar contra quatro mulheres que representam a Culpa, a Carência, a Preocupação e a Necessidade. Não consegue vencer a Preocupação, que o atinge e o cega. Morre desejando uma sobrevida espiritual e, por essa sua fé, os anjos salvam sua alma e Mefistófeles perde o jogo.

Em 1832, a 22 de março, Goethe veio a falecer em sua casa, em Weimar.



Fonte: Cobra, Rubem Queiroz - NOTAS: Vultos e episódios da Época Contemporânea. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 1997 ("www.geocities.com/cobra_pages" é "Mirror Site" de www.cobra.pages.nom.br)

Goethe - citação

"Devemos ouvir pelo menos uma pequena canção todos os dias, ler um bom poema, ver uma pintura de qualidade e, se possível, dizer algumas palavras sensatas."

Goethe - citação

"Só é merecedor da liberdade e da vida
 Quem tem de conquistá-la de novo todos os dias."

Goethe - citação

"O homem deseja tantas coisas, e no entanto precisa de tão pouco."

domingo, 21 de março de 2010

Frag. Camões

"Vai-te ao longo da costa discorrendo,
e outra terra acharás de mais verdade,
lá quase junto donde o Sol ardendo
iguala o dia e noite em quantidade."

The Gathering - The West Pole(tradução)

Como o sol à tarde
Ele brilha o caminho através das nuvens cobertas
Douradas folhas caem no outono
Se jogam na brisa empoeirada
Eu me deito no parque vazio
Olhos cansados

Sua memória some
Como a poeira some nas sombras
A noite continua vindo
Pingos de chuva secos no vento do verão

Como o sol à tarde
Ele brilha o caminho através do céu envelhecido
Chegando no Outono

Como eu assisto o milagre
Da mudança das estações
Eu vejo as folhas morrerem

Sua memória some
Como a poeira some nas sombras
A noite continua vindo
Pingos de chuva secos no vento do verão

Mas eu ainda posso ver você e eu ainda posso ouvir
Você está girando em torno da minha cabeça

Eu ainda posso ouvir você e eu ainda posso ver

A maré está baixa
Eu pensei ter ouvido a nota perfeita
Eu achei que ouvi você chamar meu nome

Sua memória some
Como a poeira some nas sombras
A noite continua vindo
Pingos de chuva secos no vento do verão

Goethe in Os Sofrimentos do Jovem Werther(frag)

"Assim como a natureza se inclina para o outono, também o outono vive dentro de mim e em torno de mim. As folhas da minha alma vão amarelecendo, enquanto as folhas das arvores vizinhas tombam."

Baudelaire - CANTO DE OUTONO (frag)

I

Em breve iremos mergulhar nas trevas frias;
Adeus, radiosa luz das estações ligeiras!
Ouço tombar no pátio em vibrações sombrias
A lenha que ressoa à espera das lareiras.

Em meu ser outra vez se hospedará o inverno:
Ódio, arrepio, horror, labor duro e pesado,
E, como o sol a arder em seu glacial inferno,
Meu coração é um bloco rubro e enregelado.

Tremo ao ouvir tombar cada feixe de lenha;
Não faz eco mais surdo a forca que se alteia.
Minha alma se compara à torre que despenha
Aos pés do aríete incansável que a golpeia.

Parece-me, ao sabor de sons em abandono,
Que alhures um caixão se prega a toda pressa.
Para que? - Ontem era o verão; eis o outono!
Rumor estranho de quem parte e não regressa...

Autumn - Summer's End(tradução)

Colhendo os tesouros dos campos, fruta proibida
Com visões concretas por dentro
Consumindo os sonhos
Rompidos através de seu frágil escudo
Levam-lhe para um passeio

Viemos aos bosques, a um banquete escondido
Dançando no solo cultivado de musgo
Escondendo-se do mundo racional
Dançando no solo cultivado de musgo

O cheiro do tempo de colheita
O imenso céu torna-se cinza
O sol levemente brilha
Até adormecer
Com a ruína da terra

Viemos aos bosques, a um banquete escondido
Dançando no solo cultivado de musgo
Escondendo-se do mundo racional
Dançando no solo cultivado de musgo

Fim do verão,
Embebido de percepção
Fim do verão,
Verdade e decepção

Testemunhas da loucura, observando o esplendor
Cubra seus olhos para afundar
Testemunhas da loucura, observando o esplendor
Sonhando em um sonho de seu sono

E sufoque o sol por um momento
Tocando sua beleza e maldade
Abrace o escuro que olha em seus olhos
No limite onde a realidade morre

Fim do verão

Mabon - Sabbat do Equinócio do Outono

O Sabbat do Equinócio do Outono, é o Segundo Festival da Colheita e a época de celebrar o término da colheita dos grãos que começou em Lammas. Também é a época de agradecer, meditar e fazer uma introspecção.

Nesse período da Roda do Ano, duas lendas mitológicas são apropriadas: Mabon e Modron (celta) e a história de Perséfone (grega).

Mabon é um antigo Deus celta que simboliza os princípios masculinos da fertilidade. É o nome galês
do Deus da mocidade, a Divina Criança, que os Druidas acreditavam estar dentro de todos nós. Ele
é uma criança do Outro Mundo, nascida de pais terrestres, que desapareceu em sua terceira noite
de vida.No Panteão Celta, Mabon, também conhecido como Angus, era o Deus do Amor.

Mabon ap Modron significa “Filho da Grande Mãe”. No Equinócio de Outono, marca-se o tempo desua mudança. Nesse momento Magons desaparece, com apenas três noites de nascimento. Ele vai morar novamente no mundo mágico de Modron, o seu ventre. Esse é um lugar nutridor e encantado,
mas ao mesmo tempo de desafios. É um lugar de poder e renovação para que Mabon possa nascer
através de sua mãe como campeão, o filho da Luz. Esse Sabbat simboliza a luz de Mabon entrando
na Terra (ventre da Deusa), recarregando-se para tornar-se uma nova semente. Seu desaparecimento é um mistério, mas Mabon é eventualmente resgatado, no Solstício de Inverno, graças ao conhecimento de alguns animais: o pássaro negro, o veado, a coruja, o bisão e o salmão.

De acordo com o mito antigo, no dia do Equinócio de Outono, Hades (o deus grego do Submundo) encontrou-se com Perséfone, que colhia flores. Ficou tão encantado com sua beleza jovem que, instantaneamente, se apaixonou por ela, Agarrou-a, raptou-a e levou-a em sua carruagem para a escuridão do seu reino a fim de governar eternamente ao seu lado como sua imortal Rainha do Submundo. A deusa Deméter procurou, por todos os lugares, sua filha levada à força, e, não a encontrando, seu sofrimento foi tão intenso que as flores e as árvores murcharam e morreram. Os grandes deuses do Olimpo negociaram o retorno de Perséfone; porém, enquanto ela estava com Hades, foi enganada e comeu uma pequena semente de romã, tendo, então, que passar metade de cada ano com Hades no Submundo, por toda a eternidade.

Os Druidas honravam o salgueiro nesse Sabbat, a árvore associada à Deusa e à morte, e cortavam seus bastões do salgueiro somente após Mabon. Entrando em seu aspecto de Anciã; entretanto, seu aspecto de Virgem esstá impregnado nas sementes do Deus.

Muitas festas que celebram a colheita ocorrem em países rurais; o Dia da Ação de Graças é um deles. As plantas, árvores, flores e ervas que estão associadas com mabon são a aveleira, o milho, o álamo, bolotas, galhos de carvalho, folhas de outono, ramos de trigo, cones de cipreste, cones de pinheiro.

Esse Sabbat é simbolizado pelo espiral duplo, um vai e outro que retorna, para nos lembrar que começamos a jornada pelo ponto mais escuro do ano e que a morte sempre é seguida pelo renascimento, da mesma maneira que o Inverno sempre é seguido pelo Verão.

Nome alternativosss: Equinócio de Outono, Encontro do Inverno, Winter Finding, Alban Elfed, Colheita do Vinho, Cornucópia, Festa de Avalon, Segunda Colheita.

Outono no Calendário Sagrado do Ciclo sazonal

A estação do Outono simboliza, no Calendário Sagrado do Ciclo sazonal, o período ideal para o estudo de si.
No Equinócio de Outono, nos fechamos, e nossos corações voltam-se para nós mesmos.
Nesse dia devemos pedir harmonia no amor e proteção para as pessoas que amamos.
Este é o Festival em que devemos pedir pelos que estão doentes e pelas pessoas mais velhas, que precisam de nossa ajuda e conforto.
É o Ano Novo dos xamãs ancestrais e dos indianos. Este mês tem como guardiães os Silfos, elementais do Ar. Quando chove e venta muito à noite, dizem que são os Silfos festejando a entrada do Novo Ano.
É o período de interiorização, de fazer silêncio para poder contemplar o que nos habita e executar a depuração profunda do ser, na busca da singularidade, autenticidade e identidade pessoal.
Nos despojamos de tudo o que não serve e que não corresponde ao momento atual. Joga-se fora tudo o que não é usado.
É um momento favorável para balanço profundo da vida, em busca daquilo que nos corresponde, aprendendo com os erros, curando feridas, amadurecendo e evoluindo no conhecimento de si. É um período em que se ganha maturidade, conhecimento e consistência.
Este movimento de encontro consigo mesmo, no Outono, é totalmente coerente com a natureza do signo de Áries na Astrologia. Para nós, aqui no hemisfério sul, o signo de Áries vai além da sua condição primaveril do impulso, da criancice, para tomar outro rumo: o do encontro com a individualidade e a identidade pessoal. Áries, para o Sul, é uma vibração que ressalta a maturidade, a consciência de si, a liderança competente e ciente do que se quer.
No Outono, o Sol percorre os signos de Áries, Touro e Gêmeos, criando condições favoráveis para nós aqui na Terra nos sintonizarmos aos assuntos e processos que são detonados por este trânsito. Tal sintonia é objetiva e possível de ser identificada, além de usada a favor de nosso processo pessoal de realização.

Equinócio de Outono

Equinócio é o momento exato em que o Sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste. A palavra de origem latina significa "noite igual ao dia", pois nestas datas dia e noite têm igual duração.

Segundo Aurélio:
equinócio

[Do lat. aequinoctiu.]

Substantivo masculino.

1.Ponto da órbita da Terra em que se registra uma igual duração do dia e da noite, o que sucede nos dias 21 de março e 23 de setembro.

2.Astr. Qualquer das duas interseções do círculo da eclíptica com o círculo do equador celeste:

equinócio da primavera, ou ponto vernal, e equinócio do outono, ou ponto de Libra.

3.Astr. Instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste.

Feliz Outono !!

letras com trevo

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sexta-feira, 19 de março de 2010

Especial Cruz e Souza

"Que importa que morra o poeta?
 Importa que não morra o poema!"

Cruz e Souza: Biografia

João da Cruz e Sousa nasceu a 24 de novembro de 1861 em Nossa Senhora do Desterro, capital da Província de Santa Catarina, atualmente, Florianópolis. O nome João da Cruz é uma alusão ao Santo homenageado no dia de seu nascimento, San Juan de la Cruz. Filho dos escravos alforriados Guilherme, pedreiro; e de Eva Carolina da Conceição, cozinheira e lavadeira, João da Cruz foi criado pelo Coronel Guilherme Xavier de Sousa (que viria tornar-se Marechal) e sua esposa Clarinda Fagundes de Sousa, que não tiveram filhos. Assim, acabou por herdar o nome Sousa e obteve uma educação proporcional a dos brancos abastados de seu tempo. Com apenas 9 anos de idade já escrevia e recitava seus poemas para os familiares. Com o falecimento de seu protetor em 1870, as condições de vida tornaram-se menos confortáveis para o jovem João da Cruz.


Em 1871, entrou no Ateneu Provincial Catarinense. A partir de 1877, lecionava aulas particulares por necessidade financeira e impressionava seus companheiros de estudo pela capacidade intelectual. Conhecedor profundo de francês, chegou a ser citado numa carta do naturalista alemão Fritz Muller. Nesta carta dirigida ao próprio irmão em 1876, o naturalista citava João da Cruz como um exemplo contrário das teorias de inferioridade intelectual dos negros.

No ano de 1877, suas obras poéticas passaram a ser publicadas em jornais de Santa Catarina. Ao lado dos amigos Virgílio Várzea e Santos Lostada, João da Cruz fundou um jornal literário intitulado "O Colombo", em 1881. No ano seguinte fundo a "Folha Popular". Nesta mesma época, partiu em excursão pelo Brasil junto a uma companhia teatral e declamava seus poemas nos intervalos das apresentações. Também se engajou na luta social e passou a liderar conferências abolicionistas. Em 1883, foi nomeado promotor da cidade de Laguna. Mas não chegou a assumir o cargo devido ao furor preconceituoso de chefes políticos da região.

Em 1885 publica seu primeiro livro de co-autoria de Virgílio Várzea, intitulado Tropos e Fantasias. Até 1888 atuou em jornais, revistas e no centro da Imigração da Província de Santa Catarina. Neste mesmo ano, viajou para o Rio de Janeiro a convite de Oscar Rosas.

Em 1891 transferiu-se definitivamente para a então capital da República, Rio de Janeiro. A partir daí entrou em contato com novos movimentos literários vindos da França. Neste caso, João da Cruz e Sousa identificou-se especialmente com o chamado Simbolismo. O negro sulista que se enveredava pelos caminhos do Simbolismo, sofria duras críticas do meio intelectual de sua época; já que nesse momento, o Parnasianismo era a referência literária emergente.

Em novembro de 1893 casou-se com Gavita Rosa Gonçalves, também descendente de escravos africanos. Deste matrimônio nasceram quatro filhos, Raul, Guilherme, Reinaldo e João. Mas todos faleceram de tuberculose pulmonar. Sua esposa, ainda sofreu de distúrbios mentais que chegaram a refletir até mesmo nos escritos do poeta.

Ainda em 1893 publicou dois livros: Missal (influenciado pela prosa de Baudelaire) e Broquéis; obras que marcaram o lançamento do movimento simbolista brasileiro. Em 1897, concluiu um livro de prosa poética denominado Evocações. Quando preparava-se para publicá-lo, viu-se abatido pela tuberculose e partiu para Minas Gerais em busca de tratamento. Faleceu em 19 de março de 1898 aos 36 anos de idade. Seu corpo foi levado para o Rio de Janeiro num vagão para transporte de gado. O amigo José do Patrocínio pagou as despesas com o funeral e o enterro no cemitério São Francisco Xavier. No ano de sua morte ainda foi publicado Evocações. Em 1900, Faróis; e em 1905, o volume de Últimos Sonetos.

O negro que contrariou o preconceito racial e se pôs a liderança do Simbolismo brasileiro, é autor de uma obra que traz versos como: "Anda em mim, soturnamente / Uma tristeza ociosa / Sem objetivo, latente / Vaga, indecisa, medrosa" (Tristeza Do Infinito - Últimos Sonetos). Além de: "De dentro da senzala escura e lamacenta / Aonde o infeliz / De lágrimas em fel, de ódio se alimenta / Tornando meretriz" (Da Senzala – O Livro Derradeiro). Percebe-se num primeiro momento o sofrimento de uma alma que ecoou diretamente em sua obra. Mas posteriormente, a consciência social e humanista de um cidadão. Cruz e Sousa, o Dante Negro ou Cisne Negro, foi um poeta Simbolista que ainda não obteve o reconhecimento literário devido, mas agrega em sua obra a essência única de um autor que cativa e comove por sua autenticidade.

Cruz e Souza - Rosa Negra

Nervosa Flor, carnívora, suprema,
Flor dos sonhos da Morte, Flor sombria,
Nos labirintos da tu’alma fria
Deixa que eu sofra, me debata e gema.

Do Dante o atroz, o tenebroso lema
Do Inferno a porta em trágica ironia,
Eu vejo, com terrível agonia,
Sobre o teu coração, torvo problema.

Flor do delírio, flor do sangue estuoso
Que explode, porejando, caudaloso,
Das volúpias da carne nos gemidos.

Rosa negra da treva, Flor do nada,
Dá-me essa boca acídula, rasgada,
Que vale mais que os corações proibidos!

Cruz e Souza - Impassível

Teu coração de mármore não ama

Nem um dia sequer, nem um só dia.
Essa inclemente natureza fria
Jamais na luz dos astros se derrama.

Mares e céus, a imensidade clama
Por esse olhar d'estrelas e harmonia,
Sem uma névoa de melancolia,
Do amor nas pompas e na vida chama.
A Imensidade nunca mais quer vê-lo,
Indiferente às comoções, de gelo
Ao mar, ao sol, aos roseirais de aromas.
Ama com o teu olhar, que a tudo encantas,
Ou se antes de pedra, como as santas,
Mudas e tristes dentro das redomas.

Cruz e Souza - Ambos

Vão pela estrada, à margem dos caminhos
Arenosos, compridos, salutares,
Por onde, a noite, os límpidos luares
Dão às verduras leves tons de arminhos.

Nuvens alegres como os alvos linhos
Cortam a doce compridão dos ares,
Dentre as canções e os tropos singulares
Dos inefáveis, meigos passarinhos.

Do céu feliz na branda curvidade,
A luz expande a inteira alacridade,
O mais supremo e encantador afago.

E com o olhar vibrante de desejos
Vão decifrando os trêmulos arpejos,
E as reticências que produz o vago.

Cruz e Souza - Irradiações

Qual da amplidão fantástica e serena
À luz vermelha e rútila da aurora
Cai, gota a gota, o orvalho que avigora
A imaculada e cândida açucena.

Como na cruz, da triste Madalena
Aos pés de Cristo, a lágrima sonora
Caia, rolou, qual bálsamo que irrora
A negra mágoa, a indefinida pena...

Caia por vós, esplêndidas crianças
Bando feliz de castas esperanças,
Sonhos da estrela no infinito imersas;

Caia por vós, as músicas formosas,
Como um dilúvio matinal de rosas,
Todo o luar benéfico dos versos!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Álvares de Azevedo - frag.

J. Keats - Citação

"A poesia nos deve surpreender pelo seu delicado excesso e não porque
é diferente. Os versos devem tocar nosso próximo, como se ele tivesse
lembrado algo que nas noites dos tempos já conhecia em seu coração. A
beleza de um poema não está na capacidade que ele tem de deixar o
leitor contente. A poesia é sempre uma surpresa, capaz de nos tirar a
respiração por alguns momentos. Ela deve permanecer em nossas vidas
como o pôr-do-sol: Algo milagroso e natural ao mesmo tempo."

domingo, 14 de março de 2010

William Blake Aforismo

"Tudo que escrevemos é fruto da memória ou do Desconhecido"

Aforismo - Paulo Coelho

"Cada palavra deixa em seu coração uma lembrança - e é a soma dessas lembranças que formam as frases, os parágrafos, os livros."

Ferreira Gullar - citação

"A Arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, uma transformação simbólica do mundo.
Quer dizer: o artista recria um mundo outro - mais bonito ou mais intenso ou mais significativo ou mais
ordenado - por cima da realidade imediata."

Paul Verlaine - Frag.

"Que teu verso seja o bom acontecimento
Esparso no vento crispado da manhã
Que vai fluindo a hortelã e o timo...
E tudo mais é só literatura"

Manuel Bandeira - Frag.

"Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto."

Baudelaire - Albatroz (frag.)

"O poeta é semelhante ao príncipe do céu

Que do arqueiro se ri e da tormenta no ar;
Exilado na terra e em meio do escarcéu,
As asas de gigante impedem-no de andar."

Dia Nacional da Poesia

imagens para octopop

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sábado, 13 de março de 2010

Sirenia - Euphoria (tradução)

Eu sinto a magia se aferventando
Eu sinto que o paraíso trabalha
Ascendendo como um sol interior
Todo meu esforço está minguando
Uma felicidade lúcida se inicia
E o mundo navega para longe

Eu sou uma semente fria
Eu sou sua folha mais doce
Eu vou aliviar sua mente
Eu vou te libertar

Minha rainha venha, desperte em mim
Alucinação ou uma elevação do sonho?
Eu imploro, venha me levar às alturas
Assistiremos os anjos voarem
Depois cavalgaremos o céu carmesim

Ouço você gritando nessas horas de um inferno de vida
E o vazio por dentro, você o carregou tão bem
Parece que viver agora se torna mais difícil a cada dia
Parece que você já não se importa com a vida como antes

Ventos de euforia e necessidades lúcidas
Um chamado, um desejo do meu âmago
Uma esperança além da perda e dos sonhos destruídos
Um caminhar efêmero nos campos Elíseos
Um novo amanhecer está despontando dentro de mim
Eu cavalgo a nona nuvem no sétimo sonho
Um refúgio além da vida e da sua crueldade
Se a vida passará por mim, então que assim seja...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Oscar Wilde - Aforismo

Viver é a coisa mais rara do mundo.
A maioria das pessoas apenas existe.