sábado, 31 de dezembro de 2011

Al Berto, in "Entrevista à revista Ler (1989)"

É preciso repensar a nossa vida. Repensar a cafeteira do café, de que nos servimos de manhã, e repensar uma grande parte do nosso lugar no universo. Talvez isso tenha a ver com a posição do escritor, que é uma posição universal, no lugar de Deus, acima da condição humana, a nomear as coisas para que elas existam. Para que elas possam existir… Isto tem a ver com o poeta, sobretudo, que é um demiurgo. Ou tem esse lado. Numa forma simples, essa maneira de redimensionar o mundo passa por um aspecto muito profundo, que não tem nada a ver com aquilo que existe à flor da pele. Tem a ver com uma experiência radical do mundo. 
Por exemplo, com aquela que eu faço de vez em quando, que é passar três dias como se fosse cego. Por mais atento que se seja, há sempre coisas que nos escapam e que só podemos conhecer de outra maneira, através dos outros sentidos, que estão menos treinados… Reconhecer a casa através de outros sentidos, como o tacto, por exemplo. Isso é outra dimensão, dá outra profundidade. E a casa é sempre o centro e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo. 

Clarice Lispector - frag de A Paixão Segundo G.H.

Estou querendo viver daquilo inicial e primordial que exactamente fez com que certas coisas chegassem ao ponto de aspirar a serem humanas. Estou querendo que eu viva da parte humana mais difícil: que eu viva do germe do amor neutro, pois foi dessa fonte que começou a nascer aquilo que depois foi se distorcendo em sentimentações a tal ponto que o núcleo ficou esmagado em nós mesmos pela pata humana. É um amor muito maior que estou exigindo de mim – é uma vida tão maior que não tem sequer beleza. Estou tendo essa coragem dura que me dói como a carne que se transforma em parto. 

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Mafalda

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Madredeus - A Praia Do Mar

Corre a menina à beira do mar
corre, corre, pela praia fora
que belo dia que está não está
e o primeiro a chegar não perde
Andam as ondas a rebentar
e o relógio a marcar horas
a sombra é quente, e quase não há
e o sol a brilhar já ferve
Corre a menina à beira do mar
corre enquanto a gaivota voa
vem o menino para a apanhar
e a menina sentindo foge
Anda o barquinho a navegar
vem do Porto para Lisboa
foge a menina da beira mar
foge logo quando a maré sobe
Andam a brincar
na praia do mar
as ondas do mar
andam a rebentar
na praia do mar
andam a brincar
as ondas do mar
andam a rebentar
as ondas do mar
andam a rebentar
E é tão bonita a onda que vem
como a outra que vejo ao fundo
a espuma branca que cada tem
é a vida de todo o mundo



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Carlos Drummond de Andrade - Consolo Na Praia

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Rubem Alves - O tempo e as jabuticabas

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela
menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela
chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.


Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.


Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos
para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem
para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.


Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir
estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.


Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões
 de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas
não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a
essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta
com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não
foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,
e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.


Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse
amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'

O essencial faz a vida valer a pena.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Alexander Search - O mundo

O mundo, tal como o entendo, 
Não vai além daquilo que o cego 
De cor e sombra pode encontrar 
Na escuridão que é a sua sina; 
       Este mundo, imenso e luzente, 
       O qual nós viemos herdar 
       Com um orgulho inconsciente, 
Vale tanto quanto as nossas rimas 
E haveres, sua lama dourada — 
Nada, é o mais que dele vou falar 
E aqui, no leito do nada, 
Para o outro lado vou-me voltar. 

Pedro Homem de Mello - Eternidade

A minha eternidade neste mundo 
Sejam vinte anos só, depois da morte! 
O vento, eles passados, que, enfim, corte 
A flor que no jardim plantei tão fundo. 

As minhas cartas leia-as quem quiser! 
Torne-se público o meu pensamento! 
E a terra a que chamei — minha mulher — 
A outros dê seu lábio sumarento! 

A outros abra as fontes do prazer 
E teça o leito em pétalas e lume! 
A outros dê seus frutos a comer 
E em cada noite a outros dê perfume! 

O globo tem dois pólos: Ontem e hoje. 
Dizemos só: — Meu pai! ou só:— Meu filho! 
O resto é baile que não deixa trilho. 
Rosto sem carne; fixidez que foge. 

Venham beijar-me a campa os que me beijam 
Agora, frágeis, frívolos e humanos! 
Os que me virem, morto, ainda me vejam 
Depois da morte, vivo, ainda vinte anos! 

Nuvem subindo, anis que se evapora... 
Assim um dia passe a minha vida! 
Mas, antes, que uma lágrima sentida 
Traga a certeza de que alguém me chora! 

Adro! Cabanas! Meu cantar do Norte! 
(Negasse eu tudo acreditava em Deus!) 
Não peço mais: — Depois da minha morte 
Haja vinte anos que ainda sejam meus! 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

R.E.M - Losing my religion (tradução)

A vida é maior
É maior do que você
E você não sou eu
Os caminhos por onde irei
A distância em seus olhos
Oh, não, eu falei demais
Eu causei tudo isso

Aquele sou eu no canto
Aquele sou eu sob os holofotes
Perdendo minha religião
Tentando te acompanhar
E eu não sei se eu consigo fazer isso
Oh, não, eu falei demais
Eu não disse o suficiente

Eu pensei ter ouvido você rindo
Eu pensei ter ouvido você cantar
Eu pensei ter visto você tentar

Cada sussurro
De cada hora acordado
Estou escolhendo minhas confissões
Tentando ficar de olho em você
Como um tolo magoado, perdido e cego
Oh, não, eu falei demais
Eu causei tudo isso

Considere isto
A dica do século
Considere isto
O deslize que me deixou
De joelhos, fracassado
E se todas essas fantasias
Viessem nos rodear
Agora eu falei demais

Eu pensei ter ouvido você rindo
Eu pensei ter ouvido você cantar
Eu pensei ter visto você tentar

Mas foi apenas um sonho
Foi apenas um sonho

Aquele sou eu no canto
Aquele sou eu sob os holofotes
Perdendo minha religião
Tentando te acompanhar
E eu não sei se eu consigo fazer isso
Oh, não, eu falei demais
Eu não disse o suficiente

Eu pensei ter ouvido você rindo
Eu pensei ter ouvido você cantar
Eu pensei ter visto você tentar

Mas foi apenas um sonho
Tentar, chorar, por quê, tentar
Foi apenas um sonho
Apenas um sonho, apenas um sonho, sonho

Queen - Bohemian Rhapsody(tradução)

Isso é a vida real?
Isso é só fantasia?
Pego num desmoronamento
Sem poder escapar da realidade

Abra seus olhos
Olhe para o céu e veja
Eu sou apenas um pobre menino,
Eu não preciso de compaixão

Porque eu venho fácil, fácil vou
E possuo altos e baixos
De qualquer jeito que o vento soprar,
Isso realmente não importa pra mim, pra mim

Mamãe, acabei de matar um homem
Coloquei uma arma em sua cabeça
Puxei o gatilho, agora ele está morto
Mamãe, a vida acabou de começar

Mas agora eu joguei tudo fora
Mamãe, ooo
Não foi minha intenção te fazer chorar
Se eu não estiver de volta a esta hora amanhã

Continue, continue
Como se nada realmente importasse

Tarde demais, chegou minha hora
Sinto arrepios em minha espinha
Meu corpo está doendo toda hora
Adeus a todos - eu agora tenho que ir

Tenho que deixar todos vocês para trás
E encarar a verdade
Mamma, ooo, eu não quero morrer
Às vezes eu desejo nunca ter nascido

Eu vejo uma pequena silhueta de um homem
Palhaço, palhaço você fará o fandango
Raios e relâmpagos me assustam muito, muito.
Gallileo, Gallileo,

Gallileo, Gallileo,
Gallileo Figaro - magnífico;

Mas eu sou apenas um pobre menino e ninguém me ama
Ele é só um pobre menino de uma pobre família
Poupe sua vida desta monstruosidade

Fácil vem, fácil vai - você vão me deixar ir?
Em nome de Deus! Não - nós não o deixaremos ir
Deixe-o ir

Em nome de Deus! Nós não o deixaremos ir - deixe-o ir
Em nome de Deus! Nós não o deixaremos ir - deixe-me ir
Não o deixe ir - deixe-me ir, nunca
Nunca deixar-te ir - deixe-me ir

Nunca deixe-me ir ooo
Não, não, não, não, não, não, não
Oh mamma mia, mamma mia, mamma mia deixe-me ir
Belzebu, tem um diabo reservado pra mim

Pra mim (2x)

Então você acha
Que pode me apedrejar e cuspir em meus olhos?
Então você acha que pode me amar
E me deixar pra morrer?

Oh baby - não pode fazer isso comigo, baby
Só tenho que sair
Só tenho que sair logo daqui

Oh, oh yeah, oh yeah

Nada realmente importa
Qualquer um pode ver
Nada realmente importa
Nada realmente importa pra mim

E de qualquer forma o vento sopra...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Edguy - Forever(tradução)

Sentando à janela
Encarando a noite
Esperando pela luz do dia
E o som do silêncio
A luz de velas brilhando fracamente
Separação me deixou à beira
De ficar insano

Sozinho tentei desperdiçar meu tempo
Segundos tornam-se décadas
Do mesmo modo que fecho meus olhos e espero
Às vezes eu me pergunto
Qual é a razão porquê
Nós anseamos por alguém para abraçar
E dizer olá para dizer adeus

Siga em frente - e eu continuarei para sempre
O desejo afasta más lembranças para longe
E ainda siga em frente e eu continuarei para sempre
Porque quando vejo seu sorriso
Eu me atrevo a acreditar novamente

Há alguém lá fora
Para se manter procurando?
Se você não sabe, então minta para mim
Olhar azul de desapontamento
Se é isso o que acarreta
Para talvez ver a luz
Eu atreverei-me a derrubar outra lágrima

Oh eu sei
O frio sopra esta noite
Mas de qualquer maneira eu tenho que ir
Diga-me garota onde você está agora?

Siga em frente e eu continuarei para sempre..

Eu tentei construir uma parede
E não deixar ninguém dentro
Ser independente
Sem amor e sem dor
Sem dor
Eu não sei porquê
Mas em qualquer lugar
Eu olho no seu rosto
No seu rosto
Eu sou pego e recaio novamente

Siga em frente - isso é para sempre
O desejo afasta más lembranças para longe

Siga em frente e eu continuarei para sempre

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Nietzsche - frag de O crepusculo dos ídolos

Aprender a ver - habituar os olhos à calma, à paciência, ao deixar-que-as-coisas-se-aproximem-de-nós; aprender a adiar o juízo, a rodear e a abarcar o caso particular a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preliminar para o espírito: nãoreagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que põem obstáculos, que isolam. Aprender a ver, tal como eu o entendo, é já quase o que o modo afilosófico de falar denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, opoder não «querer», o poder diferir a decisão. Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo — tem que se reagir, seguem-se todos os impulsos. Em muitos casos esse ter que é já doença, decadência, sintoma de esgotamento, — quase tudo o que a rudeza afilosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade fisiológica de não reagir. — Uma aplicação prática do ter-aprendido-a-ver: enquanto discente em geral, chegar-se-á a ser lento, desconfiado, teimoso. Ao estranho, aonovo de qualquer espécie deixar-se-o-á aproximar-se com uma tranquilidade hostil, — afasta-se dele a mão. O ter abertas todas as portas, o servil abrir a boca perante todo o facto pequeno, o estar sempre disposto a meter-se, a lançar-se de um salto para dentro de outros homens e outras coisas, em suma, a famosa «objetividade» moderna é mau gosto, é algo não-aristocrático por excelência.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Within Temptation - All I need (tradução)

Estou morrendo para recuperar meu fôlego
Oh, porque eu nunca aprendo?
Eu perdi toda a minha confiança embora tenha tentado dar a volta por cima.

Você ainda pode ver um coração em mim?
Toda minha agonia desaparece
Quando você me envolve em seu abraço

Não me deixe mal por tudo que eu preciso
Faça do meu coração um lugar melhor
Me dê algo em que eu possa acreditar
Não me deixe mal
Você abriu a porta agora, não a deixe fechar

Estou aqui segurando as pontas novamente
Eu queria conseguir deixar isso de lado
Eu sei que estou a um só passo de dar a volta por cima.

Você ainda pode ver um coração em mim?
Toda minha agonia desaparece
Quando você me envolve em seu abraço

Não me deixe mal por tudo que eu preciso
Faça do meu coração um lugar melhor
Me dê algo em que eu possa acreditar
Não acabe com isso, tudo o que resta de mim
Faça do meu coração um lugar melhor

Tentei tantas vezes, mas nenhuma foi real
Faça isso ir embora, não me quebre em pedaços
Quero acreditar que dessa vez é de verdade
Me salve do meu medo, não me deixe mal

Não arranque de mim tudo o que eu preciso
Faça do meu coração um lugar melhor

Não me deixe mal por tudo que eu preciso
Faça do meu coração um lugar melhor
Me dê algo em que eu possa acreditar
Não arranque tudo o que ainda me resta
Faça do meu coração um lugar melhor
Faça do meu coração um lugar melhor


Legião Urbana - Teatro dos Vampiros

Sempre precisei de um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto.
E destes dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos
Esse é o nosso mundo:
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez é sempre a última chance.
Ninguém vê onde chegamos:
Os assassinos estão livres, nós não estamos.
Vamos sair - mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas.
Vamos lá, tudo bem - eu só quero me divertir.
Esquecer, dessa noite ter um lugar legal pra ir...
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas possam se encontrar.
Quando me vi tendo de viver comigo apenas
E com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo, eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir
Comparamos nossas vidas
E mesmo assim, não tenho pena de ninguém.