terça-feira, 24 de julho de 2012

Virgínia Woolf - Os anos (frag.)

"(...)Mas como ser feliz num mundo que rebenta de miséria? Em cada cartaz de cada esquina o que se estampa é a morte; ou, pior, a tirania; a brutalidade; a tortura; a derrocada da civilização; o fim da liberdade. Nós aqui, pensou, apenas nos abrigamos debaixo de uma folha, uma folha que será destruída. E Eleanor pretende que o mundo melhorou, só porque duas pessoas, dentro todos os milhões, são "felizes".(...)Por que observo assim as menores coisas? - pensou.Mudou de posição. Por que tenho de pensar? Quisera não pensar. Quisera ter cortinas na mente, como a dos vagões-leitos de estrada de ferro, cortinas que baixam e interceptam a luz; as cortinas que a gente puxa as viagens noturnas.Quisera ter o falcão da mente encapuzado, deixar de pensar, pois pensar é um tormento, e apenas vogar, vogar à deriva e sonhar. É a miséria do mundo, pensou, que me força a pensar.(...)"

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