quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Miguel Torga - Dies Irae

Apetece cantar, mas ninguém canta. 
Apetece chorar, mas ninguém chora. 
Um fantasma levanta 
A mão do medo sobre a nossa hora. 

Apetece gritar, mas ninguém grita. 
Apetece fugir, mas ninguém foge. 
Um fantasma limita 
Todo o futuro a este dia de hoje. 

Apetece morrer, mas ninguém morre. 
Apetece matar, mas ninguém mata. 
Um fantasma percorre 
Os motins onde a alma se arrebata. 

Oh! maldição do tempo em que vivemos, 
Sepultura de grades cinzeladas, 
Que deixam ver a vida que não temos 
E as angústias paradas! 

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