quarta-feira, 7 de junho de 2023

Aqueles Cadernos

Achei um daqueles cadernos

as agendas, os fichários, tudo aquilo

para guardar seus nomes, telefones, e-mails

tudo aquilo para retê-los, como as fotos

nos tempos que limite era 5k, já devia

ter guardado mais de 50k, eram tantas

pastas, arquivos, montagens, mensagens

tudo aquilo para retê-los, como grãos de areia

escorriam e foram levados pelo mar, sem chance

de reter nenhum deles, e quando disseram

que era fácil a arte de perder, eu ri e chorei

pensando nos Livros dos Mortos, com seus

nomes, idade, matrícula e data do óbito, sempre

um registro para que a memória nunca falhasse

e ainda teve quem fizesse um desenho na mão

como uma tatuagem invisível marcando o tempo

tudo aquilo para retê-los, sem entender que 

toda perda é a primeira como todo dia é o último

tudo aquilo para retê-los, sem entender que

a arte de perder é como a pedir, e não se pode

pedir para ficar o que precisa partir, porque

a memória não é congelada em papéis, ela

é viva, vai e volta, e vai embora, como tudo

aquilo que você faz para retê-los em vão.