Achei um daqueles cadernos
as agendas, os fichários, tudo aquilo
para guardar seus nomes, telefones, e-mails
tudo aquilo para retê-los, como as fotos
nos tempos que limite era 5k, já devia
ter guardado mais de 50k, eram tantas
pastas, arquivos, montagens, mensagens
tudo aquilo para retê-los, como grãos de areia
escorriam e foram levados pelo mar, sem chance
de reter nenhum deles, e quando disseram
que era fácil a arte de perder, eu ri e chorei
pensando nos Livros dos Mortos, com seus
nomes, idade, matrícula e data do óbito, sempre
um registro para que a memória nunca falhasse
e ainda teve quem fizesse um desenho na mão
como uma tatuagem invisível marcando o tempo
tudo aquilo para retê-los, sem entender que
toda perda é a primeira como todo dia é o último
tudo aquilo para retê-los, sem entender que
a arte de perder é como a pedir, e não se pode
pedir para ficar o que precisa partir, porque
a memória não é congelada em papéis, ela
é viva, vai e volta, e vai embora, como tudo
aquilo que você faz para retê-los em vão.
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