................. Ah, nada é tarde demais
Até que o coração, cansado, cesse de pulsar.
Aos oitenta anos Catão grego aprendeu; Sófocles
Escreveu seu Édipo e Simônides
Conquistaram a admiração de seus pares
Quando ambos contavam mais de oitenta anos;
E Teofrasto, nonagenário,
Havia iniciado seu Caracteres dos Homens
Chaucer, em Woodstock, junto aos seus rouxinóis,
Escreveu, sexagenário, os Contos de Canterbury;
Em Weimer, Goethe, mourejando até ao derradeiro instante,
Concluiu o Fausto quando passadas oitenta primaveras.
Sem dúvida, são exceções; porem, provam
Até que ponto se prolonga o fluxo criativo na juventude
Em direções às regiões árticas de nossas vidas,
Nas quais pouco mais sobrevive do que a própria vida.
Seja qual for o poeta, orador ou sábio
Que sobre ela fale, a velhice é ainda a velhice.
Não é ela a lua crescente, mas a decrescente;
Não é o brilho do meio-dia, mas o crepúsculo da tarde;
Não a força, mas a fragilidade; não o desejo,
Mas a cessação; não o calor medonho do fogo,
O elemento candente e devastador,
Mas aquele consumido pelas cinzas e brasas,
Por entre as quais algumas fagulhas persistem visíveis,
Suficientes ainda para aquecer, porém incapazes de queimar.
O que, então, fazer-se? Devemos sentar-nos indolentemente e dizer:
“A noite chegou, o dia já se foi?”
A noite está chegando; não estamos ainda
Ao cair da noite desobrigados do trabalho
Alguma coisa nos resta para fazer ou ousar;
Até mesmo a árvore mais velha algum fruto pode dar.
Não é o Édipo Coloneus, ou a Ode grega,
Ou os contos dos peregrinos que, certa manhã, saíram
Pelos portões da Estalagem do Tabardo,
Porém, outras coisas mais que mal havíamos começado;
Porquanto a velhice é oportunidade não menor
Do que a juventude com roupa diferente.
E, à proporção que a tarde vai morrendo,
O firmamento se nos desvela prenhe de estrelas, invisíveis à luz do dia.
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