quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
Clarice Lispector - A Maça no Escuro (frag)
Que coisa estranha: até agora eu parecia estar querendo alcançar com a
última ponta de meu dedo a própria última ponta de meu dedo – é verdade
que nesse extremo esforço, cresci: mas a ponta de meu dedo continuou
inalcançável. Fui até onde pude. Mas como é que não compreendi que
aquilo que não alcanço em mim… já são os outros? Os outros, que são o
nosso mais profundo mergulho!
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Álvares de Azevedo - Noite na taverna (frag)
"A vida é assim. Tu o sabes como eu o sei. O que é o homem? É a escuma que ferve hoje na torrente e amanhã desmaia, alguma coisa de louco e movediço como a vaga, de fatal como o sepulcro! O que é a existência? Na mocidade é o caleidoscópio das ilusões, vive-se então da seiva do futuro. Depois envelhecemos: quando chegamos aos trinta anos e o suor das agonias nos grisalhou os cabelos antes do tempo e murcharam, como nossas faces, as nossas esperanças, oscilamos entre o passado visionário e este amanhã do velho, gelado e ermo despido como um cadáver que se banha antes de dar à sepultura! Miséria! Loucura!"
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
Charles Bukowski - Pedaços de um caderno manchado de vinho (frag)
Vão bater na sua porta e sentar numa cadeira e consumir seu tempo sem lhe acrescentar nada. Quando muitas pessoas nulas aparecem e seguem aparecendo você tem que ser cruel com elas, pois elas estão sendo cruéis com você. Você tem que botá-las pra correr.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
Virginia Woolf - Rumo ao farol (frag)
"Lia, ela pensou, como se estivesse guiando alguma coisa ou
conduzindo um grande rebanho de carneiros, ou abrindo caminho pela única
alameda existente, cada vez mais íngreme; e por vezes andava rápido e
direto, ao abrir caminho pelo bosque. Por vezes era como se um galho o
atingisse, um espinheiro o cegasse — mas ele não se deixava abater por
isso; prosseguia, arremessando-se, página a página."
sábado, 6 de dezembro de 2014
Isabel Allende - Paula (frag)
Agora vejo-me obrigada a permanecer quieta e calada; por muito que corra não chego a parte alguma, se grito ninguém me ouve. Deste-me silêncio para examinar a minha passagem por este mundo, Paula, para retornar ao passado verdadeiro e ao passado fantástico, para recuperar as memórias que outros esqueceram, recordar o que nunca aconteceu e o que talvez aconteça. Ausente, muda e paralisada, tu és a minha guia. O tempo decorre muito lento. Ou talvez o tempo nem passe, mas sejamos nos a passar através do tempo.
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Virginia Woolf - Ao farol (frag)
Se lançaram sobre ela os demônios que frequentemente a levavam à beira
das lágrimas e tornavam essa passagem da concepção à obra tão pavorosa
quanto a travessia de um corredor escuro para uma criança. Era assim que
frequentemente se sentia – lutando contra terríveis adversidades para
manter a coragem para dizer: “Mas isso é o que vejo; isso é o que vejo”,
e, assim, apertar contra o peito algum miserável resquício de sua
visão, que mil forças faziam tudo para lhe arrebatar. E foi então
também, neste caminho frio e ventoso, enquanto começava a pintar, que
foi assaltada por outras coisas, sua própria inadequação, sua
insignificância (…)
Joy Division - Decades(tradução)
Aqui estão os jovens, um peso em seus ombros
Aqui estão os jovens, bem, onde estiveram?
Batemos nas portas das salas mais sombrias do inferno
Levados aos limites, nos arrastamos para dentro
Observávamos as asas enquanto as cenas se repetiam
Nos vimos agora como nunca tínhamos visto
Retrato dos traumas e degeneração
As mágoas que sofremos e nunca fomos libertados
Onde estiveram?
Onde estiveram?
Onde estiveram?
Onde estiveram?
Cansados por dentro, agora nossos corações perdidos para sempre
Não podemos nos recompor do medo ou da ânsia da perseguição
Estes rituais nos mostraram a porta para nossas caminhadas sem rumo
Aberta e fechada, e então batida na nossa cara
Onde estiveram?
Onde estiveram?
Onde estiveram?
Onde estiveram?
Aqui estão os jovens, bem, onde estiveram?
Batemos nas portas das salas mais sombrias do inferno
Levados aos limites, nos arrastamos para dentro
Observávamos as asas enquanto as cenas se repetiam
Nos vimos agora como nunca tínhamos visto
Retrato dos traumas e degeneração
As mágoas que sofremos e nunca fomos libertados
Onde estiveram?
Onde estiveram?
Onde estiveram?
Onde estiveram?
Cansados por dentro, agora nossos corações perdidos para sempre
Não podemos nos recompor do medo ou da ânsia da perseguição
Estes rituais nos mostraram a porta para nossas caminhadas sem rumo
Aberta e fechada, e então batida na nossa cara
Onde estiveram?
Onde estiveram?
Onde estiveram?
Onde estiveram?
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Michael Cunningham - As Horas (frag)
Laura diz a Richie: "Você também fez um pedido?"
Ele acena que sim, embora a possibilidade não lhe tivesse ocorrido.
Parece-lhe que está sempre fazendo um pedido, a todo momento, e que seus
pedidos, assim como o pai, tem a ver sobretudo com continuidade. Assim
como o pai, o que ele quer mesmo, de verdade, é mais daquilo que já
tem(...) Assim como o pai, Richie pressente que mais do que já tem é
justamente o que talvez não consiga obter."
Clarice Lispector - A Maça no Escuro (frag)
(…) não existia essa coisa de não ter nada a perder. O que existia era
alguém que arrisca tudo; pois embaixo do nada e do nada e do nada,
estamos nós que, por algum motivo, não podemos perder.
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