sexta-feira, 29 de julho de 2016

Clarice Lispector - A paixão segundo G.H. (frag)

Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Dickens - Um conto de duas cidades (frag)

“Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário.”

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Ramón Sampedro - Cartas do Inferno (frag)

"Morrer é só isso. Deitar para dormir quando se está muito cansado, sereno e tranquilo, sem medo do sono, sem tristeza nem rancor mesquinho, deixando no mundo uma recordação boa de nós mesmos, em tudo o que amamos, como o sol deixou sua mais bela despedida gravada em minha lembrança. Mas para isso devemos ser tão livres, tão livres, tão bons, tão bons, que talvez seria desejar que os humanos fossem demasiado humanos." 

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Shakespeare - Macbeth (frag)

E eu, sou um homem tão cansado de desastres, tão esfaldado pela luta contra a fortuna que jogaria minha vida contra qualquer probabilidade, para melhorá-la ou então ficar livre dela.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Joy Division - 24 Hours (tradução)

Portanto, esta é a permanência, orgulho quebrado do amor.
O que uma vez foi inocência, virou-se de lado.
Uma nuvem paira sobre mim, marca cada movimento,
Profundo na memória, do que uma vez era o amor.
Oh, como eu percebi como eu queria tempo,
Posto em perspectiva, tentei tanto encontrar,
Só por um momento, pensei ter encontrado meu caminho.
Destino desdobrado, eu o assisti escapar.
Focos excessivos, além de todo alcance,
Solitárias exigências para tudo o que eu gostaria de manter.
Vamos dar um passeio fora, ver o que podemos encontrar,
Uma coleção sem valor de esperanças e desejos passados.
Eu nunca percebi os até onde eu tenho que ir,
Todos os cantos mais escuros de uma sensação que eu não conhecia.
Só por um momento, ouvi chamar alguém,
Olhei além do dia em mãos, não há nada afinal
Agora que percebo como tudo deu errado,
Tenho que encontrar alguma terapia, este tratamento leva muito tempoBem no coração de onde a simpatia reinava,
Tenho que encontrar meu destino, antes que seja tarde demais.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

The Doors - Unhappy Girl(tradução)

Menina triste
Deixada totalmente só
Jogando paciência
Enclausurando sua própria alma
Você está trancada numa prisão
que você mesma
criou.
E você não consegue acreditar
no que me acontece
Ao te ver
chorando
Menina triste
Rasgue essa sua rede
Arrebente todas as suas grades
Derreta sua cela hoje mesmo
Você foi condenada
a uma prisão
Que você mesma
criou.
Menina triste
Voe rápido para longe
Não perca a sua chance
De nadar no mistério
Você está morrendo
numa prisão
Que você mesma
criou.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Sylvia Plath - A redoma de vidro (frag)

Eu via minha vida se ramificando à minha frente como a figueira verde daquele conto. 
Da ponta de cada galho, como um enorme figo púrpura, um futuro maravilhoso acenava e cintilava. Um desses figos era um lar feliz com marido e filhos, outro era uma poeta famosa, outro, uma professora brilhante, outro era Ê Gê, a fantástica editora, outro era feito de viagens à Europa, África e América do Sul, outro era Constantin e Sócrates e Átila e um monte de amantes com nomes estranhos e profissões excêntricas, outro era uma campeã olímpica de remo, e acima desses figos havia muitos outros que eu não conseguia enxergar. 
Me vi sentada embaixo da árvore, morrendo de fome, simplesmente porque não conseguia decidir com qual figo eu ficaria. Eu queria todos eles, mas escolher um significava perder todo o resto, e enquanto eu ficava ali sentada, incapaz de tomar uma decisão, os figos começaram a encolher e ficar pretos e, um por um, desabaram no chão aos meus pés.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

J.R.R.Tolkien - Ferreiro de Bosque Grande (frag)

"[A Terra-Fada] Mais profundamente, ela representa o amor: isto é, um amor e um respeito por todas as coisas, “inanimadas” e “animadas”, um amor não possessivo com relação a elas como coisas “diferentes”. Esse “amor” produzirá ao mesmo tempo compaixão e deleite. As coisas que forem vistas à sua luz serão respeitadas e também parecerão deleitosas, belas, maravilhosas, até mesmo gloriosas. De fato, pode-se dizer que Terra-Fada representa a Imaginação (sem definição, uma vez que engloba todas as definições dessa palavra): estética; exploratória e receptiva; e artística; inventiva, dinâmica, (sub) criativa. Esse complexo — de consciência de um mundo ilimitado fora de nossa paróquia doméstica; de um amor (em compaixão e admiração) pelas coisas que há nele; e de um desejo de assombro e de maravilhas, tanto percebidas como concebidas –, essa “Terra-Fada” é tão necessária à saúde e ao pleno funcionamento do Humano quanto a luz do sol para a vida física: luz do sol vista como distinta do solo, digamos, apesar de na verdade permear e modificar até a ele."

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Sófocles - Édipo em Colono (frag)

Quem não se satisfaz com um quinhão 
normal de vida e deseja um maior, 
parece-me em verdade um insensato. 
Dias sem número nunca reservam
a ninguém nada mais que dissabores
 mais próximos da dor que da alegria. 
Quanto aos prazeres, não os discernimos
e nossa vista os buscará em vão 
logo que para nossa desventura 
chegamos ao limite prefixado.
E desde então o nosso alívio 
único será aquele que dará a todos 
o mesmo fim, na hora de chegar 
de súbito o destino procedente 
do tenebroso reino onde não há 
cantos nem liras, onde não há danças 
— ou seja, a Morte, epílogo de tudo. 
Melhor seria não haver nascido; 
como segunda escolha bom seria 
voltar logo depois de ver a luz 
à mesma região de onde se veio.
Desde o momento em que nos abandona 
a juventude, levando consigo 
a inconsciência fácil dessa idade, 
que dor não nos atinge de algum modo? 
Que sofrimentos nos serão poupados? 
Rixas, rivalidades, mortandade, 
lutas, inveja, e como mal dos males 
a velhice execrável, impotente, 
insociável, inimiga, enfim, 
 na qual se juntam todas as desditas.
Não é apenas meu esse destino. 
Vede este infortunado semelhante 
a um promontório defrontando o norte, 
açoitado em todas as direções
por altas ondas e duras tormentas. 
Este infeliz também é flagelado 
sem tréguas por desventuras horríveis, 
como se fossem vagalhões, uns vindos 
lá do Poente, outros lá do Levante, 
outros lá de onde o sol lança seus raios 
ao meio-dia, outros do alto Ripeu 
sempre coberto pela noite escura.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Neil Gaiman - Deuses Americanos (frag)

"Em um mundo onde as pessoas morrem todos os dias, acho que a coisa mais importante a ser lembrada é que, pra cada momento de aflição que temos quando uma pessoa deixa este mundo, há um momento correspondente de alegria quando um bebê chega a este mundo. Esse primeiro lamento é... bom, é magia, não é? Talvez seja uma coisa difícil de se dizer, mas alegria e aflição são como arroz e feijão. Isso serve pra descrever como se dão bem juntas."