quarta-feira, 6 de julho de 2016

Sófocles - Édipo em Colono (frag)

Quem não se satisfaz com um quinhão 
normal de vida e deseja um maior, 
parece-me em verdade um insensato. 
Dias sem número nunca reservam
a ninguém nada mais que dissabores
 mais próximos da dor que da alegria. 
Quanto aos prazeres, não os discernimos
e nossa vista os buscará em vão 
logo que para nossa desventura 
chegamos ao limite prefixado.
E desde então o nosso alívio 
único será aquele que dará a todos 
o mesmo fim, na hora de chegar 
de súbito o destino procedente 
do tenebroso reino onde não há 
cantos nem liras, onde não há danças 
— ou seja, a Morte, epílogo de tudo. 
Melhor seria não haver nascido; 
como segunda escolha bom seria 
voltar logo depois de ver a luz 
à mesma região de onde se veio.
Desde o momento em que nos abandona 
a juventude, levando consigo 
a inconsciência fácil dessa idade, 
que dor não nos atinge de algum modo? 
Que sofrimentos nos serão poupados? 
Rixas, rivalidades, mortandade, 
lutas, inveja, e como mal dos males 
a velhice execrável, impotente, 
insociável, inimiga, enfim, 
 na qual se juntam todas as desditas.
Não é apenas meu esse destino. 
Vede este infortunado semelhante 
a um promontório defrontando o norte, 
açoitado em todas as direções
por altas ondas e duras tormentas. 
Este infeliz também é flagelado 
sem tréguas por desventuras horríveis, 
como se fossem vagalhões, uns vindos 
lá do Poente, outros lá do Levante, 
outros lá de onde o sol lança seus raios 
ao meio-dia, outros do alto Ripeu 
sempre coberto pela noite escura.

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