Quem não se satisfaz com um quinhão
normal de vida e deseja um maior,
parece-me em verdade um insensato.
Dias sem número nunca reservam
a ninguém nada mais que dissabores
mais próximos da dor que da alegria.
Quanto aos prazeres, não os discernimos
e nossa vista os buscará em vão
logo que para nossa desventura
chegamos ao limite prefixado.
E desde então o nosso alívio
único
será aquele que dará a todos
o mesmo fim, na hora de chegar
de súbito o destino procedente
do tenebroso reino onde não há
cantos nem liras, onde não há danças
— ou seja, a Morte, epílogo de tudo.
Melhor seria não haver nascido;
como segunda escolha bom seria
voltar logo depois de ver a luz
à mesma região de onde se veio.
Desde o momento em que nos abandona
a juventude, levando consigo
a inconsciência fácil dessa idade,
que dor não nos atinge de algum modo?
Que sofrimentos nos serão poupados?
Rixas, rivalidades, mortandade,
lutas, inveja, e como mal dos males
a velhice execrável, impotente,
insociável, inimiga, enfim,
na qual se juntam todas as desditas.
Não é apenas meu esse destino.
Vede este infortunado semelhante
a um promontório defrontando o norte,
açoitado em todas as direções
por altas ondas e duras tormentas.
Este infeliz também é flagelado
sem tréguas por desventuras horríveis,
como se fossem vagalhões, uns vindos
lá do Poente, outros lá do Levante,
outros lá de onde o sol lança seus raios
ao meio-dia, outros do alto Ripeu
sempre coberto pela noite escura.
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