quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Rainer Maria Rilke - Cartas a um jovem poeta (frag)

É tão jovem, tão inexperiente ainda diante das coisas, que desejaria pedir-lhe, o melhor que soubesse, uma grande paciência para tudo o que ainda não estiver decidido no seu coração. Esforça-se por amar as suas próprias dúvidas, como se cada uma delas fosse um quarto fechado, um livro escrito em idioma estrangeiro. Não procure, por ora, respostas que não lhe podem ser dadas, porque não saberia ainda colocá-las em prática e vivê-las. E trata-se, precisamente, de viver tudo. No momento, viva apenas as suas interrogações. Talvez que, somente vivendo-as, acabe um dia por penetrar, sem perceber, nas respostas. É possível que carregue em si o dom de formar, o dom de criar – forma de vida particularmente feliz. Persista neste sentido, mas, sobretudo, entregue-se a tudo o que vier. Quando o que vem é resultado de um apelo do seu ser, de qualquer necessidade, tome-o para o seu ativo e não lhe queira mal. É certo que as veredas da carne são difíceis, mas só o difícil nos interessa. Quase tudo o que é grave é difícil; e tudo é grave. Se conseguir reconhecê-lo, se chegar por si próprio, pelos seus dons inatos, pela sua natureza, pela sua experiência desde a infância, pela sua energia,, a criar um acordo entre si e a carne, acordo que seja bem seu, livre de convenções e de modas, – então não deve recear perder—e, ser indigno do seu bem mais valioso.

Nenhum comentário: