terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Pedro Homem de Mello - Eternidade

A minha eternidade neste mundo 
Sejam vinte anos só, depois da morte! 
O vento, eles passados, que, enfim, corte 
A flor que no jardim plantei tão fundo. 

As minhas cartas leia-as quem quiser! 
Torne-se público o meu pensamento! 
E a terra a que chamei — minha mulher — 
A outros dê seu lábio sumarento! 

A outros abra as fontes do prazer 
E teça o leito em pétalas e lume! 
A outros dê seus frutos a comer 
E em cada noite a outros dê perfume! 

O globo tem dois pólos: Ontem e hoje. 
Dizemos só: — Meu pai! ou só:— Meu filho! 
O resto é baile que não deixa trilho. 
Rosto sem carne; fixidez que foge. 

Venham beijar-me a campa os que me beijam 
Agora, frágeis, frívolos e humanos! 
Os que me virem, morto, ainda me vejam 
Depois da morte, vivo, ainda vinte anos! 

Nuvem subindo, anis que se evapora... 
Assim um dia passe a minha vida! 
Mas, antes, que uma lágrima sentida 
Traga a certeza de que alguém me chora! 

Adro! Cabanas! Meu cantar do Norte! 
(Negasse eu tudo acreditava em Deus!) 
Não peço mais: — Depois da minha morte 
Haja vinte anos que ainda sejam meus! 

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