quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Charles Baudelaire - Elevação

Por cima dos paúes, das montanhas agrestes, 
Dos rudes alcantis, das nuvens e do mar, 
Muito acima do sol, muito acima do ar, 
Para além do confim dos páramos celestes, 

Paira o espírito meu com toda a agilidade, 
Como um bom nadador, que na água sente gozo, 
As penas a agitar, gazil, voluptuoso, 
Através das regiões da etérea imensidade. 

Eleva o vôo teu longe das montureiras, 
Vai-te purificar no éter superior, 
E bebe, como um puro e sagrado licor, 
A alvinitente luz das límpidas clareiras! 

Neste bisonho dai' de mágoas horrorosas, 
Em que o fastio e a dor perseguem o mortal, 
Feliz de quem puder, numa ascensão ideal, 
Atingir as mansões ridentes, luminosas! 

De quem, pela manhã, andorinha veloz, 
Aos domínios do céu o pensamento erguer, 
— Que paire sobre a vida, e saiba compreender 
A linguagem da flor e das coisas sem voz! 




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