quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Manuel Bandeira - A morte absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma. 
Completamente.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne, 
A exangue máscara de cera, 
Cercada de flores, 
Que apodrecerão - felizes! - num dia, 
Banhada de lágrimas 
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.
Morrer sem deixar porventura uma alma errante... 
A caminho do céu? 
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra, 
A lembrança de uma sombra 
Em nenhum coração, em nenhum pensamento.
Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente 
Que um dia ao lerem o teu nome num papel 
Perguntem: "Quem foi?..."
Morrer mais completamente ainda, 
- Sem deixar sequer esse nome.

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