I
O sol oriental brilha nas nuvens,
Mais docemente a viração murmura
E mais doce no vale a primavera
Saudosa e juvenil é toda em rosa...
Como os ramos sem folhas
Do pessegueiro em flor.
O sol oriental brilha nas nuvens,
Mais docemente a viração murmura
E mais doce no vale a primavera
Saudosa e juvenil é toda em rosa...
Como os ramos sem folhas
Do pessegueiro em flor.
Ergue-te, minha noiva, ó natureza!
Somos sós — eu e tu: — acorda e canta
No dia de meus anos!
Somos sós — eu e tu: — acorda e canta
No dia de meus anos!
II
Debalde nos meus sonhos de ventura
Tento alentar minha esperança morta
E volto-me ao porvir...
A minha alma só canta a sepultura
E nem última ilusão beija e conforta
Meu ardente dormir...
Debalde nos meus sonhos de ventura
Tento alentar minha esperança morta
E volto-me ao porvir...
A minha alma só canta a sepultura
E nem última ilusão beija e conforta
Meu ardente dormir...
III
Tenho febre... meu cérebro transborda.
Eu morrerei mancebo, inda sonhando
Da esperança o fulgor...
Oh! cantemos ainda: a última corda
Treme na lira... morrerei cantando
O meu único amor!
Tenho febre... meu cérebro transborda.
Eu morrerei mancebo, inda sonhando
Da esperança o fulgor...
Oh! cantemos ainda: a última corda
Treme na lira... morrerei cantando
O meu único amor!
IV
Meu amor foi o sol que madrugava
O canto matinal da cotovia
E a rosa predileta...
Fui um louco, meu Deus, quando tentava
Descorado e febril nodoar na orgia
Os sonhos de poeta...
Meu amor foi o sol que madrugava
O canto matinal da cotovia
E a rosa predileta...
Fui um louco, meu Deus, quando tentava
Descorado e febril nodoar na orgia
Os sonhos de poeta...
V
Meu amor foi a verde laranjeira
Que ao luar orvalhoso entreabre as flores,
Melhor que ao meio-dia,
As campinas, a lua forasteira,
Que triste, como eu sou, sonhando amores
Se embebe de harmonia.
Meu amor foi a verde laranjeira
Que ao luar orvalhoso entreabre as flores,
Melhor que ao meio-dia,
As campinas, a lua forasteira,
Que triste, como eu sou, sonhando amores
Se embebe de harmonia.
VI
Meu amor!... foi a mãe que me alentava,
Que viveu e esperou por minha vida
E pranteia por mim...
E a sombra solitária que eu sonhava
Lânguida como vibração perdida
De roto bandolim...
Meu amor!... foi a mãe que me alentava,
Que viveu e esperou por minha vida
E pranteia por mim...
E a sombra solitária que eu sonhava
Lânguida como vibração perdida
De roto bandolim...
VII
Eu vaguei pela vida sem conforto,
Esperei o meu anjo noite e dia
E o ideal não veio...
Farto de vida, breve serei morto...
Não poderei ao menos na agonia
Descansar-lhe no seio...
Eu vaguei pela vida sem conforto,
Esperei o meu anjo noite e dia
E o ideal não veio...
Farto de vida, breve serei morto...
Não poderei ao menos na agonia
Descansar-lhe no seio...
VIII
Passei como Don Juan entre as donzelas,
Suspirei as canções mais doloridas
E ninguém me escutou...!
Oh! nunca à virgem flor das faces belas
Sorvi o mel nas longas despedidas...
Meu Deus! ninguém me amou!
Passei como Don Juan entre as donzelas,
Suspirei as canções mais doloridas
E ninguém me escutou...!
Oh! nunca à virgem flor das faces belas
Sorvi o mel nas longas despedidas...
Meu Deus! ninguém me amou!
IX
Vivi na solidão!... odeio o mundo
E no orgulho embucei meu rosto pálido
Como um astro na treva...
Senti a vida um lupanar imundo:
Se acorda o triste profanado, esquálido
— A morte fria o leva...
Vivi na solidão!... odeio o mundo
E no orgulho embucei meu rosto pálido
Como um astro na treva...
Senti a vida um lupanar imundo:
Se acorda o triste profanado, esquálido
— A morte fria o leva...
X
E quantos vivos não caíram frios,
Manchados de embriaguez da orgia em meio
Nas infâmias do vício!
E quantos morreram inda sombrios,
Sem remorsos dos loucos devaneios...
— Sentindo o precipício!...
E quantos vivos não caíram frios,
Manchados de embriaguez da orgia em meio
Nas infâmias do vício!
E quantos morreram inda sombrios,
Sem remorsos dos loucos devaneios...
— Sentindo o precipício!...
XI
Perdoa-lhes, meu Deus! o sol da vida
Nas artérias ateia o sangue em lava
E o cérebro varia...
O século na vaga enfurecida
Levou a geração que se acordava
E nuta de agonia...
Perdoa-lhes, meu Deus! o sol da vida
Nas artérias ateia o sangue em lava
E o cérebro varia...
O século na vaga enfurecida
Levou a geração que se acordava
E nuta de agonia...
XII
São tristes deste século os destinos!
Seiva mortal as flores que despontam
Infecta em seu abrir...
E o cadafalso e a voz dos Girondino
Não falam mais na glória e não apontam
A aurora do porvir!
São tristes deste século os destinos!
Seiva mortal as flores que despontam
Infecta em seu abrir...
E o cadafalso e a voz dos Girondino
Não falam mais na glória e não apontam
A aurora do porvir!
XIII
Fora belo talvez, em pé, de novo,
Como Byron surgir, ou na tormenta
O herói de Waterloo...
Com sua idéia iluminar um povo,
Como o trovão nas nuvens que rebenta
E o raio derramou!
Fora belo talvez, em pé, de novo,
Como Byron surgir, ou na tormenta
O herói de Waterloo...
Com sua idéia iluminar um povo,
Como o trovão nas nuvens que rebenta
E o raio derramou!
XIV
Fora belo talvez sentir no crânio
A alma de Goethe e reunir na fibra,
Byron, Homero e Dante;
Sonhar-se num delírio momentâneo
A alma da criação e o som que vibra
A terra palpitante...
Fora belo talvez sentir no crânio
A alma de Goethe e reunir na fibra,
Byron, Homero e Dante;
Sonhar-se num delírio momentâneo
A alma da criação e o som que vibra
A terra palpitante...
XV
Mas ah! o viajor nos cemitérios
Nessas nuas caveiras não escuta
Vossas almas errantes,
Do estandarte da sombra nos impérios
A morte — como a torpe prostituta —
Não distingue os amantes.
Mas ah! o viajor nos cemitérios
Nessas nuas caveiras não escuta
Vossas almas errantes,
Do estandarte da sombra nos impérios
A morte — como a torpe prostituta —
Não distingue os amantes.
XVI
Eu pobre sonhador... em terra inculta,
Onde não fecundou-se uma semente,
Convosco dormirei...
E dentre nós a multidão estulta
Não vos distinguirá a fronte ardente
Do crânio que animei...
Eu pobre sonhador... em terra inculta,
Onde não fecundou-se uma semente,
Convosco dormirei...
E dentre nós a multidão estulta
Não vos distinguirá a fronte ardente
Do crânio que animei...
XVII
Ó morte! a que mistério me destinas?
Esse átomo de luz que inda me alenta,
Quando o corpo morrer,
Voltará amanhã... aziagas sinas!...
Da terra sobre a face macilenta
Esperar e sofrer?
Ó morte! a que mistério me destinas?
Esse átomo de luz que inda me alenta,
Quando o corpo morrer,
Voltará amanhã... aziagas sinas!...
Da terra sobre a face macilenta
Esperar e sofrer?
XVIII
Meu Deus, antes, meu Deus, que uma outra vida
Com teu sopro eternal meu ser esmaga
E minh’alma aniquila...
A estrela de verão no céu perdida
Também, às vezes, teu alento apaga
Numa noite tranqüila!...
Meu Deus, antes, meu Deus, que uma outra vida
Com teu sopro eternal meu ser esmaga
E minh’alma aniquila...
A estrela de verão no céu perdida
Também, às vezes, teu alento apaga
Numa noite tranqüila!...
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