domingo, 20 de março de 2016

Victor Hugo - Os miseráveis (frag)

Quem quer que abrigue na alma uma revolta secreta contra um fato qualquer do Estado, da vida ou da sorte, se encerra na revolta e, asim que ela aparece, começa a agitar-se e a sentir-se impelido pelo turbilhão. 
O motim é uma espécie de tufão da atmosfera social que se forma repentinamente em certas condições de temperatura e que, em seu rodopio, sobe, corre, estoura, arranca, arrasa, esmaga, derruba, puxa as raízes, arrastando consigo as grandes naturezas bem como as mesquinhas, o homem forte e o espírito fraco, o tronco de árvore e o fragmento de palha. 
Infelizes tanto dos que arrebata quanto dos que atropela! Um é jogado contra o outro. 
Comunica as que a ele aderem não se sabe que poder extraordinário. Preenche os desavisados com a força dos acontecimentos; transforma tudo em projéteis. De um seixo faz uma bala, de um entregador faz um general. 
Se dermos crédito a certos oráculos da política hipócrita, do ponto de vista do poder, um pouco de revolta é desejável. Esquema: a revolta reforça os governos que não derruba; põe à prova o exército; concentra a burguesia; distende os músculos da polícia; constata a força da ossatura social. É uma ginástica; é quase uma higiene. O poder se sente melhor depois de um motim, como o homem depois de uma massagem.

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