quinta-feira, 3 de abril de 2008

O suicídio de Sophia


Prólogo

Tudo é delírio, ilusão e desespero
na mente perturbada do poeta...

A lâmina insana em suas mãos
é a pena ensangüentada com que escreve...

Dilacerada a carne, os sonhos e a alma
transcreve seu canto de morte...

Do horror de sua carnificina literária
surge sua poesia imaculada...

Seu desespero tornou-se história...
E foi na dor que havia dentro dele
que eu pude compartilhar e assim escrever:




O suicídio de Sophia



O fim.

Porque nunca houve um começo
Para que eu pudesse me arrepender
de tê-lo vivido


Antes de todos os dias que não serão vividos
e do fim e do começo de todas as vãs esperanças

Acorda ela, para um dia normal
Mas esse dia, ela mal sabia,
Seria o seu último,
o último dia de sua vida...


Tudo estava bem
Tudo era bom
A vida passando como sempre
Mas naquele dia ela acordou
Sem vontade de continuar a ser quem era

O último dia de sua tão longa hipocrisia...

O que você vê
através dos olhos da mulher que sempre sorri?


O fim de nada que fosse realmente importante
O fim da vida de uma mulher sem importância
O fim de sua vida.


O fim da vida de Sophia.


Mas não era assim tão fácil.
Morrer exige muita força de vontade
E coragem


Ela sabia como
Ela queria
Queria morrer
mas não tinha coragem

Motivos sempre existem
sempre são o bastante bons
mas ela sabia que não era o suficiente
queria uma solução definitiva
e não tinha coragem...

Quando se quer algo
Procura-se tê-lo.

Então ela começou a buscar
pela justificativa ideal
e por alguém que a incentivasse

Velhas Amigas de escuridão, talvez
Velhas Amigas de Quarto...
Começou a conversar com a Morte
na esperança de se resolver


Eu quero morrer...
Porque não me ajuda?

Não é sua hora...
Apesar de ser muito tarde...
O que me mantém aqui?
Nada!
Este não é o meu lugar!
Aqui, nunca será meu lar!

Não é sua hora...
Apesar de não haver mais tempo...

A menina não queria viver
e a Morte não a queria levar

Eu trocaria
Esses 6372 dias de vida
que eu vivi até hoje
para sair desse corpo,vã matéria...
e voltar a ser um espírito
no vago ar do infinito

A morte não a levaria
e ela não queria ficar...

Tudo é delírio, ilusão e desespero
na mente perturbada do poeta...


Há muitos segredos escondidos...
No sorriso de uma mulher,de uma menina...
O que você através dos olhos
de uma mulher que sempre sorri?


Nunca manifestando sua verdadeira face
Seu Medo contínuo, crescendo...
O desespero, conflito interno
crescendo no seu inconsciente...


Mas ela preferia a Morte
Ao Medo.

Medo.
Saia de mim.
Eu não quero mais sentir.
Eu não quero você aqui junto de mim.
Vá embora.


Ele não iria deixa-la
Não assim, tão facilmente...


Quando ela acordou naquele dia
Acho que, no fundo, já sabia
Que não podia esperar mais nada de si mesma.


Morte.Morte.Morte.Morte.Morte.


Ela gritava.E gritava.
Mas não havia nenhum som.


Só o Medo.


Era o 6372º dia
E a morte não acontecia
deixando-a na escuridão...


Tudo é delírio, ilusão e desespero
na mente perturbada do poeta...


Liberdade.
Quero sair desse corpo.
Vã matéria.Vã poeira.
Aqui eu não tenho mais nada.
Eu nunca tive nada.
Verdadeiramente.

O que era meu?Nada.
Minha vida sempre foi
Um grande Nada.

Não é tão fácil morrer
Dê-me apenas um
Um único motivo
Para continuar com isso.


Ela nunca encontrou
Algo que justificasse sua existência
Nem nada que pudesse
Justificar seu fim.

Perdida em um labirinto
De memórias fugidias
Memórias de tudo que deveria ter feito
E não fez.

Seu maior erro era acreditar
Que seus pecados não tinham perdão.


Mas ela não queria se lembrar
Nem queria se esquecer.
O inferno dentro de si.

Eu quero arrancá-lo de mim.
Meu coração.
Talvez isso passe,
Se eu não tiver um coração.
Talvez a minha vida acabe
Se eu não tiver um coração.

Tudo é delírio, ilusão e desespero
na mente perturbada do poeta... 


E ela trazia o inferno dentro de si.

Olá, velha Amiga.
Melhor Amiga minha
vindo de qualquer outra
isso seria uma facada traiçoeira
mas vindo de você,
é algo como um elogio sádico


Você venceu
Mas a guerra é minha.
Eu vejo através de você
Nós somos iguais.

Sua alma presa a tormentos
Sem encontrar descanso
ou apoio em quem quer que seja


No papel ela tecia poemas
Com tinta negra amargurada
Com a dor do seu coração


O coração do poeta
Torturado por seus medos
Despedaçando sonhos
Entoando seu canto de morte


Seiva vital minha
Que nessa fugacidade
luminosa me inebria,
não se encontra, não se finda
Mas se esvai além da poesia
A lâmina rasgando os versos
Tudo é sangue e agonia.


Morrer não é tão fácil assim
Ela queria, mas não tinha coragem.
Falhou mais uma vez
E prometeu que essa seria a última.

Morrer não é assim tão fácil
Ela queria, e estava começando a se convencer.


Olá! Minha velha Amiga
Você já sabe o que vai ser
O que eu vou fazer
e com a sua ajuda
eu chegarei ao fim.


As situações contribuíram para a loucura
E ela nada fez para impedir.
Era o pior tipo de enferma
Estava doente e não queria se curar.

Estava apaixonada pela dor.

Infelizmente
A tristeza nos faz tremendamente egoístas.


Decadência.Declínio.Dor.

E eu...bem aqui....parada.
Esperando...o fim desse pesadelo.


Quem a via não perceberia,
não saberia como ela estava
verdadeiramente.
Ela era uma mentirosa
e sua vida...
uma grande hipocrisia...


Eu vejo através de você
Nós somos iguais.
Minha velha Amiga...
Você já sabia o que tinha de fazer
o momento exato...
a hora certa...
Desde o começo
Desde sempre...


Você já sabia
Que eu não era quem aparentava ser
e também já sabia
o que tinha de fazer.


Você venceu
Mas essa guerra é minha.
Tudo tomba.
Declínio pavoroso.
Mente só gera pesadelos
Eu não quero mais viver
Nessa fachada.


Essa mentira
eu não posso mais fingir
que tudo isso não me incomoda.


Ela viveu bem todos os seus 6372 dias
Mas estava decidida a não viver
mas nenhum minuto sequer.


Vou.Eu vou.
Eu vou para longe.
Para longe eu vou.
Eu vou.Vou


Não.
Assim não posso ir.
Não antes de me despedir
De você...


Adeus minha velha amiga
talvez essa seja a única saída
Você sempre soube
Como isso acabaria.


Desculpe-me por fazer sofrer
Todas as pessoas que de alguma forma
Amaram-me.
Mas esse é o meu adeus
Pois não vivo mais para magoar
A mim ou a você.


E na manhã daquele dia
Igual a todos os outros
Ela estava decidida.


Livrarei-me desse corpo
Vã matéria, vã poeira.


Lâmina.
Para mim trouxe o som
A liberdade


O correr do sangue
Vermelho.
Tonalidade:Rubro-Morte.
Manchando a carta
de despedida.

Suicídio justo?
Não sei...


só sei que
Estou indo para casa.


E naquele dia
O dia da escuridão eterna
Dia igual a todos os outros
Sophia foi chamada
ao cuidados de seu verdadeiro lar
aos cuidados do mundo sombrio.


Tudo é delírio, ilusão e desespero
na mente perturbada do poeta...

Suas lágrimas, seus lamentos
Sua coroa de estrelas negras

Seu sangue lavando seu corpo
Maculando a poesia

A Morte do poeta
A minha Morte.


Fim.


Ou apenas um novo começo...


Epílogo


A princesa das sombras
A Filha do eclipse
Voltou ao seu lar
E tornou-se Rainha.

O canto de morte perfeito
escrito com o sangue do poeta

Que em seus 6372 dias de vida
Achou que não mais suportaria
A agonia de sua existência
E então matou sua personagem favorita

Quem o puder compreender
Saberá que mesmo com
Todos os seus delírios
E seus versos sem nexo

O que ele queria na verdade era:
Um final feliz para Sophia...




J.A.Cabral 03/08

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