quinta-feira, 22 de julho de 2010

Jorge Luis Borges - Das Coisas

A bengala, as moedas, o chaveiro,
a dócil fechadura, 
essas tardias notas 
que não lerão meus poucos dias
que restam,
o baralho e o tabuleiro,
um livro e dentro dele
a esmagada violeta, 
monumento de uma tarde
por certo inolvidável e olvidada,
o rubro espelho ocidental em que arde
uma ilusória aurora. 
Quantas coisas,
limas, umbrais, atlas, copos, cravos,
nos servem como tácitos escravos,
cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além do nosso olvido
e nunca saberão que já nos fomos.

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