segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Mafalda

domingo, 30 de dezembro de 2012

Virgínia Woolf - Entre os atos (frag.)


"- Depois da cozinha, a biblioteca é sempre o aposento mais simpático de uma casa.- Depois acrescentara,atravessando o umbral: - Os livros são o espelho da alma."

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Olavo Bilac - Via láctea (frg.)


XXXIII

Como quisesse livre ser, deixando
As paragens natais, espaço em fora,
A ave, ao bafejo tépido da aurora,
Abriu as asas e partiu cantando.

Estranhos climas, longes céus, cortando
Nuvens e nuvens, percorreu: e, agora
Que morre o sol, suspende o vôo, e chora,
E chora, a vida antiga recordando...

E logo,. O olhar volvendo compungido
Atrás, volta saudosa do carinho,
Do calor da primeira habitação...

Assim por largo tempo andei perdido:
- Ah! que alegria ver de novo o ninho,
Ver-te, e beijar-te a pequenina mão!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

domingo, 23 de dezembro de 2012

Olavo Bilac - Via Láctea (frag)


XX

Olha-me! O teu olhar sereno e brando
Entra-me o peito, como um largo rio
De ondas de ouro e de luz, límpido, entrando
O ermo de um bosque tenebroso e frio.

Fala-me! Em grupos doudejantes, quando
Falas, por noites cálidas de estio,
As estrelas acendem-se, radiando,
Altas, semeadas pelo céu sombrio.

Olha-me assim! Fala-me assim! De pranto
Agora, agora de ternura cheia,
Abre em chispas de fogo essa pupila...

E enquanto eu ardo em sua luz, enquanto
Em seu fulgor me abraso, uma sereia
Soluce e cante nessa voz tranqüila!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Virginia Woolf - Rumo ao farol(frag)

Então, deixando os olhos deslizarem imperceptivelmente pela poça e descansarem na ondulante linha entre o céu e o mar, nos troncos das árvores que a fumaça dos navios a vapor fazia tremerem acima do horizonte, ficou hipnotizada por todo esse poder que se contraia selvagem e inevitavelmente se alastrava. E os dois sentidos, de amplidão e de insignificância, florescendo dentro da poça (que diminuíra outra vez), faziam-na sentir com as mãos e os pés amarrados e incapaz de se mover devido à intensidade de sentimentos que reduziam seu próprio corpo, sua própria vida e as vidas de todas as pessoas do mundo, para sempre, ao nada.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Manoel de Barros - citação

A gente só descobre isso depois de grande (…). Que o tamanho das coisas há de ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Abecedário de Deleuze: D - Desejo




D de Desejo
CP: D de Desejo. Tudo o que sempre quiseram saber sobre o desejo. Primeira lição: Só se pode desejar em um conjunto. Então, sempre se deseja um todo. Vamos passar a D. Para D, preciso de meus papéis, pois vou ler o que há no Petit Larousse Illustré, em "Deleuze", que também se escreve com D. Lê-se: "Deleuze, Gilles, filósofo francês, nascido em Paris, em 1925".
GD: Talvez hoje esteja no Larousse.
CP: Hoje, estamos em 1988.
GD: Eles mudam todo ano.
CP: "Com Félix Guattari, ele mostra a importância do desejo e seu aspecto revolucionário frente a toda instituição, até mesmo psicanalítica". E indicam a obra que demonstra tudo isso: O anti-Édipo, em 1972. Como você é, aos olhos de todos, o filósofo do desejo, eu gostaria que falássemos do desejo. O que era o desejo? Vamos colocar a questão do modo mais simples: quando O anti-Édipo...
GD: Não era o que se pensou, em todo caso. Estou certo disso, mesmo naquele momento, ou seja, as pessoas mais encantadoras que eram... foi uma grande ambigüidade, um grande mal-entendido, um pequeno mal-entendido. Queríamos dizer uma coisa bem simples. Tínhamos uma grande ambição, a saber, que até esse livro, quando se faz um livro é porque se pretende dizer algo novo. Achávamos que as pessoas antes de nós não tinham entendido bem o que era o desejo, ou seja, fazíamos nossa tarefa de filósofo, pretendíamos propor um novo conceito de desejo. As pessoas, quando não fazem filosofia, não devem crer que é um conceito muito abstrato, ao contrário, ele remete a coisas bem simples, concretas. Veremos isso. Não há conceito filosófico que não remeta a determinações não filosóficas, é simples, é bem concreto. Queríamos dizer a coisa mais simples do mundo: que até agora vocês falaram abstratamente do desejo, pois extraem um objeto que é, supostamente, objeto de seu desejo. Então podem dizer: desejo uma mulher, desejo partir, viajar, desejo isso e aquilo. E nós dizíamos algo realmente simples: vocês nunca desejam alguém ou algo, desejam sempre um conjunto. Não é complicado. Nossa questão era: qual é a natureza das relações entre elementos para que haja desejo, para que eles se tornem desejáveis? Quero dizer, não desejo uma mulher, tenho vergonha de dizer uma coisa dessas. Proust disse, e é bonito em Proust: não desejo uma mulher, desejo também uma paisagem envolta nessa mulher, paisagem que posso não conhecer, que pressinto e enquanto não tiver desenrolado a paisagem que a envolve, não ficarei contente, ou seja, meu desejo não terminará, ficará insatisfeito. Aqui considero um conjunto com dois termos, mulher, paisagem, mas é algo bem diferente. Quando uma mulher diz: desejo um vestido, desejo tal vestido, tal chemisier, é evidente que não deseja tal vestido em abstrato. Ela o deseja em um contexto de vida dela, que ela vai organizar o desejo em relação não apenas com uma paisagem, mas com pessoas que são suas amigas, ou que não são suas amigas, com sua profissão, etc. Nunca desejo algo sozinho, desejo bem mais, também não desejo um conjunto, desejo em um conjunto. Podemos voltar, são fatos, ao que dizíamos há pouco sobre o álcool, beber. Beber nunca quis dizer: desejo beber e pronto. Quer dizer: ou desejo beber sozinho, trabalhando, ou beber sozinho, repousando, ou ir encontrar os amigos para beber, ir a um certo bar. Não há desejo que não corra para um agenciamento. O desejo sempre foi, para mim, se procuro o termo abstrato que corresponde a desejo, diria: é construtivismo. Desejar é construir um agenciamento, construir um conjunto, conjunto de uma saia, de um raio de sol...
CP: De uma mulher.
GD: De uma rua. É isso. O agenciamento de uma mulher, de uma paisagem.
CP: De uma cor...
GD: De uma cor, é isso um desejo. É construir um agenciamento, construir uma região, é realmente agenciar. O desejo é construtivismo. O anti-Édipo, que tentava...
CP: Espere, eu queria...
GD: Sim?
CP: É por ser um agenciamento, que você precisou, naquele momento, ser dois para escrever por ser em um conjunto, que precisou de Félix, que surgiu em sua vida de escritor?
GD: Félix faria parte do que diremos, talvez, sobre a amizade, sobre a relação da filosofia com algo que concerne à amizade, mas, com certeza, com Félix, fizemos um agenciamento. Há agenciamentos solitários, e há agenciamentos a dois. O que fizemos com Félix foi um agenciamento a dois, onde algo passava entre os dois, ou seja, são fenômenos físicos, é como uma diferença, para que um acontecimento aconteça, é preciso uma diferença de potencial, para que haja uma diferença de potencial precisa-se de dois níveis. Então algo se passa, um raio passa, ou não, um riachinho... É do campo do desejo. Mas um desejo é isso, é construir. Ora, cada um de nós passa seu tempo construindo, cada vez que alguém diz: desejo isso, quer dizer que ele está construindo um agenciamento, nada mais, o desejo não é nada mais.
CP: É um acaso se... porque o desejo é sentido, enfim, existe em um conjunto ou em um agenciamento, que O anti-Édipo, onde você começa a falar do desejo, é o primeiro livro que você escreve com outra pessoa, com Félix Guattari?
GD: Não, você tem razão, era preciso entrar nesse agenciamento novo para nós, escrever a dois, que nós dois não vivíamos da mesma maneira, para que algo acontecesse, ou seja, e esse algo era, finalmente, uma hostilidade, uma reação contra as concepções dominantes do desejo, as concepções psicanalíticas. Era preciso ser dois, foi preciso Félix, vindo da psicanálise, eu me interessando por esses temas, era preciso tudo isso para dizermos que havia lugar para fazer uma concepção construtiva, construtivista do desejo.
CP: Você poderia definir, de modo sucinto, como vê a diferença entre o construtivismo e a interpretação analítica?
GD: Acho que é bem simples. Nossa oposição à psicanálise é múltipla, mas quanto ao problema do desejo, é... é que os psicanalistas falam do desejo como os padres. Não é a única aproximação, os psicanalistas são padres. De que forma falam do desejo? Falam como um grande lamento da castração. A castração é pior que o pecado original. É uma espécie de maledicência sobre o desejo, que é assustadora. O que tentamos fazer em O anti-Édipo? Acho que há três pontos, que se opõem diretamente à psicanálise. Esses três pontos são... isso por meu lado, acho que Félix Guattari também não, não temos nada para mudar nesses três pontos. Estamos persuadidos, achamos em todo caso, que o inconsciente não é um teatro, não é um lugar onde há Édipo e Hamlet que representam sempre suas cenas. Não é um teatro, é uma fábrica, é produção. O inconsciente produz. Não pára de produzir. Funciona como uma fábrica. É o contrário da visão psicanalítica do inconsciente como teatro, onde sempre se agita um Hamlet, ou um Édipo, ao infinito. Nosso segundo tema é que o delírio, que é muito ligado ao desejo, desejar é delirar, de certa forma, mas se olhar um delírio, qualquer que seja ele, se olhar de perto, se ouvir o delírio que for, não tem nada a ver com o que a psicanálise reteve dele, ou seja, não se delira sobre seu pai e sua mãe, delira-se sobre algo bem diferente, é aí que está o segredo do delírio, delira-se sobre o mundo inteiro, delira-se sobre a história, a geografia, as tribos, os desertos, os povos...
CP: ... o clima.
GD: ... as raças, os climas, é em cima disso que se delira. O mundo do delírio é: "Sou um bicho, um negro!", Rimbaud. É: onde estão minhas tribos? Como dispor minhas tribos? Sobreviver no deserto, etc. O deserto é... O delírio é geográfico-político. E a psicanálise reduz isso a determinações familiares. Posso dizer, sinto isso, mesmo depois de tantos anos, depois de O anti-Édipo, digo: a psicanálise nunca entendeu nada do fenômeno do delírio. Delira-se o mundo, e não sua pequena família. Por isso que... Tudo isso se mistura. Eu dizia: a literatura não é um caso privado de alguém, é a mesma coisa, o delírio não é sobre o pai e a mãe. O terceiro ponto... Significa isso, o desejo se estabelece sempre, constrói agenciamentos, se estabelece em agenciamentos, põe sempre em jogo vários fatores. E a psicanálise nos reduz sempre a um único fator, e sempre o mesmo, ora o pai, ora a mãe, ora não sei o que, ora o falo, etc. Ela ignora tudo o que é múltiplo, ignora o construtivismo, ou seja, agenciamentos. Dou um exemplo: falávamos de animal, há pouco. Para a psicanálise, o animal é uma imagem do pai. Um cavalo é uma imagem do pai. É ignorar o mundo! Penso no pequeno Hans. O pequeno Hans é uma criança sobre a qual Freud dá sua opinião, ele assiste um cavalo que cai na rua, e o charreteiro que lhe dá chicotadas, e o cavalo que dá coices para todos os lados. Antes do carro, era um espetáculo comum nas ruas, devia ser uma grande coisa para uma criança. A primeira vez que um garoto via um cavalo caído na rua e que um cocheiro meio bêbado tentava levantá-lo com chicotadas, devia ser uma emoção, era a chegada da rua, a chegada na rua, o acontecimento da rua, sangrento, tudo isso... E então ouvem-se os psicanalistas, falar, enfim, imagem de pai, etc., mas é na cabeça deles que a coisa não vai bem. O desejo foi movido por um cavalo que cai e é batido na rua, um cavalo morre na rua, etc. É um agenciamento fantástico para um garoto, é perturbador até o fundo. Outro exemplo, posso dizer... Falávamos de animal. O que é um animal? Mas não há um animal que seria a imagem do pai. Os animais, em geral, andam em matilhas, são matilhas. Há um caso que me alegra muito. É um texto que adoro, de Jung, que rompeu com Freud, depois de uma longa colaboração. Jung conta a Freud que teve um sonho, um sonho de ossuário, sonhou com um ossuário. E Freud não compreende nada, literalmente, ele diz o tempo todo: se sonhou com um osso, é a morte de alguém, quer dizer a morte de alguém. E Jung não pára de lhe dizer: não estou falando de um osso, sonhei com um ossuário... Freud não compreende. Não vê a diferença entre um ossuário e um osso, ou seja, um ossuário são centenas de ossos, são mil, dez mil ossos. Isso é uma multiplicidade, é um agenciamento, é... passeio em um ossuário, o que significa isso? Por onde o desejo passa? Em um agenciamento é sempre um coletivo. Coletivo, construtivismo, etc. É isso o desejo. Onde passa meu desejo entre os mil crânios, os mil ossos? Onde passa meu desejo na matilha? Qual é minha posição na matilha? Sou exterior à matilha? Estou ao lado, dentro, no centro dela? Tudo isso são fenômenos de desejo. É isso o desejo.
CP: Como o O anti-Édipo foi escrito em 72, esse agenciamento coletivo vinha a calhar depois de 68, era toda uma reflexão... daqueles anos e contra a psicanálise, que continuava seu negócio de pequena loja...
GD: Só o fato de dizer: o delírio delira as raças e as tribos, delira os povos, delira a história e a geografia, me parece ter estado de acordo com 68. Ou seja, parece-me ter trazido um pouco de ar são a todo esse ar fechado e malsão dos delírios pseudo-familiais. Vimos que era isso, o desejo. Se começo a delirar, não é para delirar sobre minha infância, aí também, sobre minha história privada. Delira-se... O delírio é cósmico... Delira-se sobre o fim do mundo, delira-se sobre as partículas, os elétrons e não sobre papai-mamãe... é evidente.
CP: Sobre esse agenciamento coletivo do desejo, penso em certos contra-sensos. Lembro-me que em Vincennes, em 72, na faculdade, havia pessoas que punham em prática esse desejo e isso acabava em amores coletivos, não tinham compreendido bem. Houve muitos loucos em Vincennes, como vocês partiam de uma esquizo-análise para combater a psicanálise, todo mundo achava que era legal ser louco, ser esquizo. Víamos cenas inverossímeis entre os estudantes. Queria que contasse casos engraçados ou não desses contra-sensos sobre o desejo.
GD: Eu poderia falar dos contra-sensos abstratamente. Consistiam em duas coisas, havia dois casos, que dá no mesmo. Havia os que pensavam que o desejo era o espontaneísmo, e havia todo tipo de movimentos espontâneos, o espontaneísmo.
CP: Os célebres maos-spontex...
GD: E os outros que pensavam que o desejo era a festa. Para nós, não era nem um nem outro, mas não tinha importância, pois, de qualquer modo, havia agenciamentos que aconteciam, havia coisas que mesmo os loucos... havia tantos, de todos os tipos. Fazia parte do que acontecia naquele momento, em Vincennes. Mas os loucos tinham sua disciplina, tinham sua maneira de... faziam seus discursos, suas intervenções, entravam em um agenciamento, tinham seu agenciamento, mas entravam em agenciamentos. Tinham uma espécie de astúcia, de compreensão, de grande benevolência, os loucos. Se quiser, na prática, eram séries de agenciamentos que se faziam e desfaziam. Na teoria, o contra-senso era dizer: o desejo é a espontaneidade. De modo que éramos chamados de espontaneístas, ou então era a festa, mas não era isso. Era... a filosofia dita do desejo consistia, unicamente, em dizer para as pessoas: não vão ser psicanalizados, nunca interpretem, experimentem agenciamentos, procurem agenciamentos que lhes convenham. O que era um agenciamento? Um agenciamento, para mim, e Félix, não que ele pensasse diferentemente, pois era, talvez... não sei. Para mim, eu manteria que havia quatro componentes de agenciamento. Por alto, quatro, não prefiro quatro a seis... Um agenciamento remetia a estados de coisas, que cada um encontre estados de coisas que lhe convenha. Há pouco, para beber... gosto de um bar, não gosto de outro, alguns preferem certo bar, etc... Isso é um estado de coisas. Nas dimensões do agenciamento, enunciados, tipos de enunciados, e cada um tem seu estilo, há um certo modo de falar, andam juntos, no bar, por exemplo, há amigos, e há uma certa maneira de falar com os amigos, cada bar tem seu estilo. Digo bar, mas vale para qualquer coisa. Um agenciamento comporta estados de coisas e enunciados, estilos de enunciação. É interessante, a História é feita disto, quando aparece um novo tipo de enunciado? Por exemplo, na revolução russa, os enunciados do tipo leninista, quando eles aparecem, como, em que forma? Em 68, quando apareceram os primeiros enunciados ditos de 68? É bem complexo. Todo agenciamento implica estilos de enunciação. Implica territórios, cada um com seu território, há territórios. Mesmo numa sala, escolhemos um território. Entro numa sala que não conheço, procuro o território, lugar onde me sentirei melhor. E há processos que devemos chamar de desterritorialização, o modo como saímos do território. Um agenciamento tem quatro dimensões: estados de coisas, enunciações, territórios, movimentos de desterritorialização. E é aí que o desejo corre...
CP: Você não se sente responsável pelas pessoas que tomaram drogas? Ou, lendo muito ao pé da letra O anti-Édipo, não é como Catão, que incita os jovens a fazer bobagens?
GD: Sentimo-nos responsáveis por tudo, se algo dá errado.
CP: E os efeitos de O anti-Édipo?
GD: Sempre me esforcei para que desse certo. Em todo caso, nunca, acho, é minha única honra, nunca me fiz de esperto com essas coisas, nunca disse a um estudante: é isso, drogue-se você tem razão. Sempre fiz o que pude para que ele saísse dessa, porque sou muito sensível à coisa minúscula que de repente faz com que tudo vire trapo. Que ele beba, muito bem... Ao mesmo tempo, nunca pude criticar as pessoas, não gosto de criticá-las. Acho que se deve ficar atento para o ponto em que a coisa não funciona mais. Que bebam, se droguem, o que quiserem, não somos policiais, nem pais, não sou eu quem deve impedi-los ou ... mas fazer tudo para que não virem trapos. No momento em que há risco, eu não suporto. Suporto bem alguém que se droga, mas alguém que se droga de tal modo que, não sei, de modo selvagem, de modo que digo para mim: pronto, ele vai se ferrar, não suporto. Sobretudo o caso de um jovem, não suporto um jovem que se ferra, não é suportável. Um velho que se ferra, que se suicida, ele teve sua vida, mas um jovem que se ferra por besteira, por imprudência, porque bebeu demais... Sempre fiquei dividido entre a impossibilidade de criticar alguém e o desejo absoluto, a recusa absoluta de que ele vire trapo. É um desfiladeiro estreito, não posso dizer que há princípios, a gente sai fora como pode, a cada vez. É verdade que o papel das pessoas, nesse momento, é de tentar salvar os garotos, o quanto se pode. E salvá-los não significa fazer com que sigam o caminho certo, mas impedi-los de virar trapo. É só o que quero.
CP: Mas sobre os efeitos de O anti-Édipo, houve efeitos?
GD: Foi impedir que eles virassem trapos, que naquele momento... que um cara que desenvolvia... um início de esquizofrenia fosse colocado em boas condições, não fosse jogado num hospital repressivo, tudo isso... Ou então que alguém que não suportava mais, um alcoólatra, onde ia mal, fazer com que ele parasse...
CP: Porque era um livro revolucionário, na medida em que parecia, para os inimigos desse livro, e para os psicanalistas, uma apologia da permissividade, e dizer que tudo era desejo...
GD: De forma alguma... Esse livro, ou seja, quando se lê esse livro, ele sempre teve uma prudência, me parece, extrema. A lição era: não se tornem trapos. Quando nos opúnhamos..., não paramos de nos opor ao processo esquizofrênico como o que ocorre num hospital, e para nós, o terror era produzir uma criatura de hospital. Tudo, menos isso! E quase diria que louvar o aspecto de valor da "viagem", daquilo que, naquele momento, os anti-psiquiatras chamavam de viagem ou processo esquizofrênico, era um modo de evitar, de conjurar a produção de trapos de hospital, a produção dos esquizofrênicos, a fabricação de esquizofrênicos.
CP: Você acha, para terminar com O anti-Édipo, que há ainda efeitos desse livro, 16 anos depois?
GD: Sim, pois é um bom livro, pois há uma concepção do inconsciente. É o único caso em que houve uma concepção do inconsciente desse tipo, sobre os dois ou três pontos: as multiplicidades do inconsciente, o delírio como delírio-mundo, e não delírio-família, o delírio cósmico, das raças, das tribos, isso é bom. O inconsciente como máquina, como fábrica e não como teatro. Não tenho nada a mudar nesses três pontos, que continuam absolutamente novos, pois toda a psicanálise se reconstituiu. Para mim, espero, é um livro que será redescoberto, talvez. Rezo para que o redescubram.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Lacuna Coil - End Of Time(tradução)



Você construiu sua vida
Acima do pecado
Você segurou minha mão
Antes do fim chegar
Me perdoando pelo o que eu fiz até o fim dos dias


Porque eu pertenço a você
Porque eu sou parte de você
Estou morrendo em seus braços
É hora de ir, eu posso passar por isso


Eu me dei conta
Esta noite, minha querida, é o fim dos tempos
Não está tão longe
Não podemos orar para salvar nossas vidas


Eu posso sentir você e
Eu acho que tudo que você procurava em mim
Era o espelho dos seus sonhos
Mas eu não consegui acreditar no que você disse


Como eu pertenço a você
A minha carne e sangue em você
Eu estou queimando nesse fogo
É hora de ir
Eu não posso passar por isso


Eu me dei conta
Esta noite, minha querida, é o fim dos tempos
Não está tão longe
Não podemos orar para salvar nossas vidas


Eu me dei conta
Esta noite, meu amigo, é o fim dos tempos
Não está tão longe
Não podemos rezar para salvar nossas vidas


Estou voltando para casa outra vez
E agora eu sei onde eu pertenço
Rebobinando meus instintos
Porque eu percebi que não estou sozinha


Eu me dei conta
Esta noite, minha querida, é o fim dos tempos
Não está tão longe
Não podemos orar para salvar nossas vidas

Eu me dei conta
Esta noite, minha querida, é o fim dos tempos
Não está tão longe
Não podemos orar para salvar nossas vidas

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Oscar Wilde - Um marido ideal (frag)

"Tudo que sei é que a vida não pode ser entendida sem muita generosidade, não pode ser vivida sem muita generosidade.
É o amor, não a filosofia alemã, a verdadeira explicação para esse mundo, 
seja qual for a explicação para o outro." 

sábado, 1 de dezembro de 2012

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) - Às Vezes


XXVI 

Às vezes, em dias deluz perfeita e exata,
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza às cousas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas,
Perante as cousas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Oscar Wilde - A duquesa de Pádua (frag.)

O amor é o sacramento da vida. 
Ele põe virtude onde não havia virtude, 
e purifica os homens de toda a desprezível corrupção deste mundo;
é o fogo que separa o ouro da escória;
é o sopro que separa o joio do trigo;
é a primavera que, no solo invernoso, faz a inocência florescer como uma rosa.
Já se passaram os dias em que Deus andava entre os homens, mas o Amor,que é Sua imagem, mantém o seu lugar.
Quando um homem ama uma mulher, passa a conhecer o segredo de Deus e o segredo do mundo.



terça-feira, 13 de novembro de 2012

Fernando Pessoa - Livro do desassossego

Frag. 01

(...)

A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia. 

(...)

sábado, 10 de novembro de 2012

Neil Gaiman - Stardust (frag)

"Foi quando se lembrou de que cada avanço que tinha conseguido em sua busca até então tinha se concretizado por meio da aceitação da ajuda que alguém lhe oferecia."

terça-feira, 6 de novembro de 2012

L. Frank Baum - O mágico de Oz (frag.)


- Ainda assim - disse o Espantalho -, quero um cérebro em vez de um coração; porque um tolo não saberia o que fazer com um coração se tivesse um.
- Fico com o coração - respondeu o Homem de Lata. - Porque cérebro não faz ninguém feliz, e felicidade é a melhor coisa do mundo.
Dorothy não disse nada, porque não estava certa sobre qual dos dois amigos estava certo(...)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Fernando Pessoa - O livro do desassossego



Fragmento 400

"(...)Com que subtil plausibilidade de sabor-aroma reergo os cenários mortos e empresto outra vez as cores de um passado, tão século dezoito sempre pelo afastamento malicioso e cansado, tão medievais sempre pelo irremediavelmente perdido."

Eduardo Galeno - O Livro dos Abraços(frag)

Um homem da aldeia Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir ao céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas. 

- O mundo é isso - revelou - um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não aluminam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.

domingo, 4 de novembro de 2012

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

The Crow

Antigamente acreditava-se que quando alguém morria, um Corvo transportava a sua alma para a terra dos mortos.

Mas ás vezes aconteciam coisas tão más, que uma terrível tristeza o acompanhava e a alma não conseguia descansar.

E ás vezes, apenas ás vezes o Corvo pode trazer a alma de volta para acertar as coisas.



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Fernando Pessoa - O livro do desassossego



Fragmento 379.

(...)

Cansar-me a rua? Canso-me só quando penso. Quando olho a rua, ou a sinto, não penso: trabalho com um grande repouso íntimo, último naquele canto, escriturantemente ninguém.

(...)

domingo, 28 de outubro de 2012

Viviane Mosé - Pensamento chão: poemas em prosa e verso (frag.)

Tem gente que tem costume de vazar pelos cantos.
No começo vaza calada. Aos poucos. Aos pingos.
Mas se pega gosto, principia o derrame.
Escorre quando fala. Escorre quando anda.
Não tem mais braço nem cabelo que segure.

Parece que vicia em ficar transbordada.

Mas tem gente que quando transborda é pra dentro.
E corre o risco de ficar represada. E represa você sabe.
Se aumenta muito arrebenta.

Mas se a pessoa ensaia um jeito de derramar pra fora.
Aí vai fazendo leito. Vai abrindo seu caminho na terra.
E a terra parece que se abre pra ela passar.

sábado, 27 de outubro de 2012

The Smiths - There Is A Light That Never Goes Out (tradução)


Me leve para sair esta noite
Onde haja música e pessoas
Que sejam jovens e vivas
Sendo levado no seu carro
Eu nunca mais quero ir para casa
Porque eu não tenho mais
Uma casa

Me leve para sair esta noite
Porque quero ver gente
E eu quero ver luzes
Passeando no seu carro
Oh por favor não me deixe em casa
Porque esta não é minha casa
Esta é a casa deles
E eu não sou mais bem-vindo

E se um ônibus de dois andares
Colidisse contra nós
Morrer ao seu lado
Que jeito divino de morrer
E se um caminhão de dez toneladas
Matasse a nós dois
Morrer ao seu lado
Bem, o prazer e o privilégio seriam meus

Me leve para sair esta noite
Oh me leve para qualquer lugar
Eu não me importo, não me importo
E numa passagem subterrânea escurecida
Eu pensei "Oh Deus, minha chance finalmente chegou!"
Mas então um medo estranho me tomou
E eu simplesmente não pude pedir

Me leve para sair esta noite
Me leve para qualquer lugar
Eu não me importo, não me importo, não me importo
Simplesmente indo no seu carro
Eu nunca mais quero ir para casa
Porque não tenho mais uma casa
Oh, eu não tenho mais

Há uma luz que nunca se apaga
Há uma luz que nunca se apaga
Há uma luz que nunca se apaga
Há uma luz que nunca se apaga...

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Oscar Wilde - O leque de Lady Windermere (frag)

"Atualmente as pessoas parecem olhar a vida como um tipo de especulação. 
Não é uma especulação.
 É um sacramento.
 O ideal da vida é o amor.
E o sacrifício é sua exaltação"

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Bauhaus - Who Killed Mr. Moonlight? (traduação)


Considere os lagos verdes
E a idiotice dos relógios
Alguém roubou a nostalgia da escuridão
Alguém roubou nossa inocência

Um flecha quebrada em uma poça sangrenta
Na face
De propostas do luar
Alguém roubou a nostalgia da escuridão
Alguém roubou nossa inocência

Na sombra de seu sorriso
Na sombra de seu sorriso
Na sombra de seu sorriso
Na sombra de seu sorriso

Todos os nossos sonhos se derreteram
Nos escondemos nos arbustos
De homens mortos
Fazendo estátuas de Douglas

Todos as nossas histórias queimadas
Nossos filmes perdidos no ápice
Não podemos pintar um quadro sequer
A lua tem nossos pincéis

Tirando os ferrões da vespa em pleno vôo
Quem matou o Senhor Luar?
Quem matou o Senhor Luar?
Na sombra de seu sorriso
Quem matou o Senhor Luar?
Na sombra de seu sorriso

terça-feira, 23 de outubro de 2012

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Pedro Bandeira - Mais respeito, eu sou criança!


Prestem atenção no que eu digo,

pois eu não falo por mal:

os adultos que me perdoem,

mas ser criança é legal!



Vocês já esqueceram, eu sei.



Por isso ou vou lhes lembrar:

pra que ver por cima do muro,

se é mais gostoso escalar?

Pra que perder tempo engordando,

se é mais gostoso brincar?

Pra que fazer cara tão séria,

se é mais gostoso sonhar?



Se vocês olham pra gente,

é chão que vêem por trás.

Pra nós, atrás de vocês,

Há o céu, há muito, muito mais!



Quando julgarem o que eu faço,

olhem seus próprios narizes:

lá no seu tempo de infância,

será que não foram felizes?



Mas se tudo o que fizeram

já fugiu de sua lembrança,

fiquem sabendo o que eu quero:

mais respeito, eu sou criança!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Lya Luft - Citação

Constituir um ser humano, um nós, é trabalho que não dá ferias nem concede descanso: Haverá paredes frágeis, cálculos malfeitos, rachaduras. Quem sabe um pedaço que vai desabar.
Mas se abrirão também janelas para a paisagem e varandas para o sol...

Clarice Lispector - Lição de Filho

Recebi uma lição de um de meus filhos, antes dele fazer 14 anos. Haviam me telefonado avisando que uma moça que eu conhecia ia tocar na televisão, transmitido pelo Ministério da Educação. Liguei a televisão, mas em grande dúvida. Eu conhecera essa moça pessoalmente e ela era excessivamente suave, com voz de criança, e de um feminino-infantil. E eu me perguntava: terá ela força no piano? Eu a conhecera num momento muito importante: quando ela ia escolher a “camisola do dia” para o casamento. As perguntas que me fazia era de uma franqueza ingênua que me surpreendia. Tocaria ela piano?

Começou. E, Deus, ela possuía a força. Seu rosto era um outro, irreconhecível. Nos momentos de violência apertava violentamente os lábios. Nos intantes de doçura entreabria a boca, dando-se inteira. E suava, da testa escorria para o rosto o suor. De surpresa de descobrir uma alma insuspeita, fiquei com os olhos cheios de água, na 

verdade eu chorava. Percebi que meu filho, quase uma criança, notara, expliquei:estou emocionada, vou tomar um calmante.
E ele:

-Você não sabe diferenciar emoção de nervosismo? você está tendo uma emoção.

Entendi, aceitei, e disse-lhe:

-Não vou tomar nenhum calmante.

E vivi o que era pra ser vivido.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Virgínia Woolf - Os anos (frag.)

"Os anos nos transformam; destroem coisas; amontoam coisas, aborrecimentos, cuidados."



domingo, 23 de setembro de 2012

Mário Quintana - Canção da Primavera(frag)


Virgínia Woolf - Os anos (frag.)

"O vento começou a soprar quando ela se viu sob as copas das arvores - ou assim lhe pareceu.Cantava alto na ramaria, mas era silente junto ao chão alcatifado.As folhas secas estalavam sob seus pés; por entre elas apontavam pálidas flores da primavera, as mais lindas do ano - flores azuis e flores brancas, trêmulas em almofadas de musgo verde. A primavera é tão triste sempre, pensou, sempre traz lembranças sombrias. "

Fernando Pessoa - Poemas de Alberto Caeiro - XL


Mafalda

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Persephone - Lullaby(tradução)


Feche os olhos
Não tenha medo
Eu vou te abraçar
Eu não vou ir embora
Até você adormecer

Durma bem, durma bem
Nada pode prejudicá-lo
A canção de ninar de lágrimas não choradas, eu vou cantar para você
Durma bem, durma bem

Você protegido em meus braços
Seu coração cheio de dor
Ninguém pode te machucar mais
Sua alma cessará

Acaricio seus cabelos
Você não estará sozinho
Você está indo para um lugar melhor
Onde reina a alegria e felicidade
Quando você cai no sono

Durma bem, durma bem
Nada pode prejudicá-lo
A canção de ninar dos sonhos não sonhados, eu vou cantar para você
Durma bem, durma bem

Feche os olhos
Vou cobri-lo com flores
Lírios, jasmins, rosas
Serão os guardiões dos seus sonhos
Até que você se encontra abaixo do solo

Eu queria ir com você
Eu não sei vocês, mas ainda estamos tão perto
Há sentimentos, Acho que muito esquecidos
Achei você, mas agora você se foi
Mas em breve eu vou segui-lo

Quando eu adormecer...