sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Daniel Handler (Lemony Snicket) - fragmento

"Nenhuma história tem realmente um começo, e nenhuma história tem realmente um fim, uma vez que todas as histórias do mundo estão tão embaralhadas, com seus detalhes e segredos amontoados, do começo ao fim, dependendo de como você encara as coisas."

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Sobre Viver

 Sim, sobreviverás!!!
Porque, se necessário,
minha vida será tua!
E se não for suficiente
te prometo os céus e os infernos,
e todas as nossas histórias e vidas.
Não ferir e ferir-se não é uma opção.
Pois onde há desequilíbrio, há dor,
e a dor desmerecida não pode
nem deve ser suportada...
Sacia-te da luz dos meus olhos
seja firme, seja forte, Sejas!!
Pois o futuro a nós pertence,
e a vida, é mais que um sonho vão...


J.A.Cabral 12/10








Virgínia Woolf - Aforismo

Há sempre qualquer coisa de novo para compreender, 
uma dissonância para resolver, um erro para corrigir.



sábado, 25 de dezembro de 2010

Vinícius de Moraes - Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
– Por isso temos braços
longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a... terra. 
Assim será a nossa vida: 
Uma tarde sempre a esquecer 
Uma estrela a se apagar na treva 
Um caminho entre dois túmulos 
– Por isso precisamos velar 
Falar baixo, pisar leve, ver 
A noite dormir em silêncio. 
Não há muito que dizer: 
Uma canção sobre um berço 
Um verso, talvez, de amor 
Uma prece por quem se vai 
– Mas que essa hora não esqueça 
E por ela os nossos corações 
Se deixem, graves e simples. 
Pois para isso fomos feitos: 
Para a esperança no milagre 
Para a participação da poesia 
Para ver a face da morte 
– De repente nunca mais esperaremos... 
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas 
Nascemos, imensamente

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Clarice Lispector - citação

"À duração da minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios."

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Creedence Clearwater Revival - Have You Ever Seen The Rain?

Alguém me falou há muito tempo
que há uma calmaria antes da tempestade.
Eu sei; vem vindo há algum tempo.

Dizem que quando terminar
Choverá num dia ensolarado.
Eu sei; brilhando como água.

Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?
Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?
Caindo em um dia ensolarado?

Ontem, e dias antes
O Sol é frio e a chuva é forte
Eu sei, foi assim por toda minha vida

Até a eternidade
Através do círcula, rápido e devagar
Eu sei, isso não pode acabar, imagino

Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?
Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva
Caindo em um dia glorioso?

Yeah!

Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?
Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva
Caindo em um dia glorioso?
 

domingo, 19 de dezembro de 2010

Caio Fernando Abreu - Os dragões não conhecem o paraíso (frag.)

Então, que seja doce.
Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte:que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante.Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce , talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.Ninguém perguntará coisa alguma, penso. Depois continuo a contar para mim mesmo, como se fosse ao mesmo tempo o velho que conta e a criança que escuta, sentado no colo de mim(...)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sting - Desert Rose (tradução)

Ley leye ley leyee oh oh wow wow..

Hai beeno belep beeno
Venenha vesanowa ah dola dola dolati
Venenha vesanowa ah dola dola dolati
Venenha vesanowaa..
Ah me pasandi

Eu sonho com a chuva
Vesonowaa
Sonho com jardins na areia do deserto
Vesonowaa
Acordo com dores
Vesonowaa
Sonho com amor enquanto o tempo escorre pelas minhas mãos
Sonho com fogo
Esses sonhos estão atados a um cavalo que nunca cansa
E nas chamas
Sua sombra brinca na forma de um desejo masculino

Essa rosa do deserto
Cada um de seus véus, uma promessa escondida
Essa flor do deserto
Nenhum outro doce perfume me torturou mais do que esse

E quando ela vira
Desse jeito como ela caminha, na lógica de todos os meus sonhos
Esse fogo queima
Me dou conta de que nada é como parece ser

Eu sonho com a chuva
Sonho com jardins na areia do deserto
Acordo com dores
Sonho com amor enquanto o tempo escorre pelas minhas mãos

Sonho com a chuva
Ergo meu intenso olhar ao céu vazio
Fecho meus olhos, esse raro perfume
É a doce intoxicação de seu amor

Eu sonho com a chuva
Sonho com jardins na areia do deserto
Acordo com dores
Sonho com amor enquanto o tempo escorre pelas minhas mãos

Doce rosa do deserto
Cada um de seus véus, uma promessa secreta
Essa flor do deserto
Nenhum outro doce perfume me torturou mais do que esse

Doce rosa do deserto
Essa memória do éden assedia a nós todos
Essa flor do deserto, esse raro perfume
É a doce intoxicação do outono

William P.Young - A Cabana(frag.)

"A graça não depende da existência do sofrimento, mas onde há sofrimento você encontrará graça de inúmeras maneiras."

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Charles Baudelaire - Harmonia da tarde

Chegado é o tempo em que, vibrando o caule virgem,
Cada flor se evapora igual a um incensório;
Sons e perfumes pulsam no ar quase incorpóreo;
Melancólica valsa e lânguida vertigem!

Cada flor se evapora igual a um incensório;
Fremem violinos como fibras que se afligem;
Melancólica valsa lânguida vertigem!
É triste e belo o céu como um grande oratório.

Freme violinos como fibras que se afligem,
Almas ternas que odeiam o nada vasto e inglório!
É triste e belo o céu como um grande oratório;

O sol se afoga em ondas que de sangue o tingem.
Almas ternas que odeiam o nada vasto e inglório
Recolhem do passado as ilusões que o fingem!
O sol se afoga em ondas que de sangue o tingem...
Fulge a tua lembrança em mim qual ostensório!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Plabo Neruda - Assim é minha vida

Meus deveres 
caminham com meu canto. 
Sou e não sou: 
é esse meu destino. 
Não sou, 
se não acompanho as dores 
dos que sofrem: 
são dores minhas. 
Porque não posso ser 
sem ser de todos, 
de todos os calados 
e oprimidos. 
Venho do povo 
e canto para o povo. 
Minha poesia 
é cântico e castigo. 
Me dizem: 
"Pertences à sombra". 
Talvez, talvez, 
porém na luz caminho. 
Sou o homem 
do pão e do peixe, 
e não me encontrarão 
entre os livros, 
mas com as mulheres 
e os homens: 
eles me ensinaram o infinito

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

William P.Young - A Cabana(frag.)

"A graça não depende da existência do sofrimento, mas onde há sofrimento você encontrará graça de inúmeras maneiras."

Clarice Lispector - A fuga

"Começou a ficar escuro e ela teve medo. A chuva caía sem tréguas e as calçadas brilhavam úmidas à luz das lâmpadas. Passavam pessoas de guarda-chuva, impermeável, muito apressadas, os rostos cansados. Os automóveis deslizavam pelo asfalto molhado e uma ou outra buzina tocava maciamente.
Quis sentar-se num banco do jardim, porque na verdade não sentia a chuva e não se importava com o frio. Só mesmo um pouco de medo, porque ainda não resolvera o caminho a tomar. O banco seria um ponto de repouso. Mas os transeuntes olhavam-na com estranheza e ela prosseguia a marcha.
Estava cansada. Pensava sempre: "Mas que é que vai acontecer agora?" Se ficasse andando. Não era a solução. Voltar para casa? Não. Receava que alguma força a empurrasse para o ponto de partida."

Avelã

Morra Traidora! Morra!!
travaste uma batalha vã,
um sacrifício vergonhoso,
martírio inútil, tu bem sabes
tola donzela de olhos avelã
sabes que não resta mais honra
e mesmo assim te atiras ao abismo
na estúpida esperança
de nao mais voltar.

J.A.Cabral 12/10








quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Edgar Allan Poe - Aforismo

"Mas como, na ética, o mal é uma consequência do bem, então, na verdade, da alegria nasce a dor.Ou a lembrança de bem-aventuranças passadas é a angústia de hoje, ou as agonias que existem têm sua origem nos extases que possam ter existido"

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Shophia Andresen - Aforismo

Nostalgia sem nome da paisagem,
Secreto murmurar de cada margem,
Que na escuridão se ergue e caminha

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Huberto Rohden - frag.

"Os fatos finitos da ciência não podem conduzir ao valor infinito da consciência, deveríamos optar pela consciência, porque ela conduz à realidade do valor. O melhor seria pôr a ciência a serviço da consciência, os fatos a serviço dos valores."

Einstein - frag.

A perfeição dos meios e a confusão dos objetivos parece caracterizara nossa época. Se desejamos sinceramente e com ardor a segurança, o bem-estar e o desenvolvimento livre dos talentos de todos os homens, não nos faltarão meios para atingir tal estado.Ainda que só uma pequena parte se esforce por tais objetivos, sua superioridade ficará comprovada a longo prazo.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Deixai

Deixai vir a mim o tempo, 
com seus segredos, e folhas, 
e seus momentos estanques


Deixai desfazer os véus da noite, 
as flores de morte, sem sorte 
e os risos calados


quem se importará??
se o não dito, concretizou-se 
num silêncio gélido, 
e as horas não avançaram mais?


Deixai... 
deixai que assim seja, 
e que esteja então na orla, 
na borda, onde mora
um imenso coração...


J.A.Cabral 11/10












sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Clarice Lispector - Devaneio e Embriaguez duma Rapariga (fragmento)

(...)E quando ela ficava a se envergonhar não sabia aonde havia de fitar os olhos. Ai que tristeza. Que é que se há de fazer. Sentada no bordo da cama, a pestanejar resignada. Que bem que se via a lua nessas noites de verão. Inclinou-se um pouquito, desinteressada, resignada. A lua. Que bem que se via. A lua alta e amarela a deslizar pelo céu, a coitadita. A deslizar, a deslizar... Alta, alta. A lua. (...)



quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Calvin 25 anos


"Não vou mais me preocupar. 
Vou ficar matando o tempo até que a vida me inunde de significado e felicidade"

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Deftones - The Chauffeur (Tradução)

Nas planícies de alcatrão
Os planadores estão se movendo
Todos procurando
Por um lugar pra dirigir
Você senta do meu lado
Tão charmosa
Suando gotas de orvalho que brilham
Refrescando o seu lado

E o sol derrama
Forragem pesada atrás
A frente do seu vestido
Todo desenhado com sombras
E os motores monótonos
Pulsam junto
Com o batimento do seu coração

Bem longe no fim da pista
Vivendo por outro dia
Pulgões se aglomeram

Na névoa que vaga
Gaivotas nadam pelo céu
Na direção de um vazio
Ilhas no oeste
Minha dama invejada
Te segura rápido
Com seu olhar

E o sol derrama
Forragem pesada atrás
A frente do seu vestido
Todo desenhado com sombras
E os motores monótonos
Pulsam junto
Com o batimento do seu coração

Cante Blue Silver

E assistindo amantes se separarem
Eu sinto você sorrindo
Farpas de vidro
Estão fundas em sua mente
Para rasgar os seus olhos
Com uma palavra para endurecer
Mentiras preocupantes
E eu só vou assistir
Você me deixar
Pra trás

E o sol derrama
Forragem pesada atrás
A frente do seu vestido
Todo desenhado com sombras
E os motores monótonos
Pulsam junto
Com o batimento do seu coração

Cante Blue Silver
Cante, Cante Blue Silver
 
 

Arthur Bispo do Rosário - Aforismo

“Faço o que faço (tento me mostrar pela arte)
para não sucumbir à invisibilidade 
decorrente das relações sincréticas em minha vida”

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Especial Arthur Rimbaud

"O poeta faz-se vidente através de um longo, 
imenso e sensato desregramento de todos os sentidos."



De Wikipédia, a enciclopédia livre

Jean-Nicolas Arthur Rimbaud (20 de outubro de 1854, Charleville - 10 de novembro de 1891,Marselha) foi um poeta fracês.
Na maioria das vezes, a história de Rimbaud é apresentada como principal ponto de partida para a leitura de sua obra, o que torna quase impossível olhar a obra de Rimbaud com olhos livres.
Por outro lado, o Rimbaud que partiu para traficar armas de fogo no norte da África de um lado e deu cor às vogais (revista em Alquimia do Verbo) por outro, tornou-se um tipo de referência para a poesia no século seguinte: servindo como argumento à tese que nascia sobre a impossibilidade de ser considerada a dissociação entre o poeta e sua poesia. O poeta, assim, vive e é sua poesia - pensamento em voga ainda hoje segundo algumas escolas.
O norte-americano Henry Miller, um dos grandes admiradores da poesia simbolista de Rimbaud, diz, diante disso, que o tipo Rimbaud chegará a superar tipos clássicos de comportamento; como o introspectivo e inquieto jovem estampado pelo personagem Hamlet, de Shakespeare. "Acho que existem muitos Rimbauds neste mundo e que seu número aumentará com o tempo. Acho que o tipo Rimbaud tomará o lugar, nos próximos tempos, do tipo Hamlet e do tipo Fausto. Até que o velho mundo morra de vez, o indivíduo 'anormal' será cada vez mais a norma. O novo homem se encontrará quando a guerra e a coletividade entre o indivíduo cessar. Veremos então o tipo de homem em sua plenitude e esplendor".

Rimbaud - Farto

Farto de ver. A visão que se reecontra em toda parte.
Farto de ter. O ruído das cidades, à noite, e ao sol, e sempre.
Farto de saber. As paradas da vida. - Ó Ruídos e Visões!
Partir para afetos e rumores novos.

Rimbaud - “O BARCO ÉBRIO” (frag.)

E desde então no Poema do Mar mergulhei,
Cheio de astros, latescentes, devorando
Os verdes céus, onde às vezes se vê,
Lívido e feliz, um sonhador boiando.

Onde tingindo de repente o infinito, delírios
E ritmos lentos sob o dia em esplendor
Mais fortes que o álcool, mais vastos que nossas liras,
Fermentam as sardas amargas do amor!

Sei dos céus rasgando-se em raios, e das trombas,
Das ressacas e da noite e das correntes,
Da Alba exaltada igual a um bando de pombas,
E o que o homem acreditou ver viram meus olhos videntes!
(....)
E se anseio mares de Europa, é a poça
Escura e fria onde ao crepúsculo perfumado
Uma criança se abaixa triste e solta
Qual borboleta de maio um barco delicado.

Rimbaud

Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível.
Fixava vertigens.
Criei todas as festas, todos os triunfos, todos os dramas.
Tentei inventar novas flores, novos astros, novas carnes, novos idiomas.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Teatro Mágico - Na Varanda

Na varanda
Onde o ar anda depressa
Vai embora na conversa
Nossa pressa de ficar
Na varanda
Onde a flor se arremessa
Onde o vento prega peça
Nos traz festa pelo ar
Na varanda
A criança se debruça
Mãe, menina ainda fuça
Nos cabelos a ninar
Na varanda
Onde a lua se levanta
Nossa rede se balança
Serenata pra acordar
Joga a trança
Busca o chão e não o céu
Qual barquinho de papel
Sonha ir de encontro ao mar (2x)
E a noite vem
Sendo o descanso do sol
E a ponte vem
Sendo a distancia de quem tá só
Um sol
Com a cabeça na lua
A lua que gira, que gira, que gira...
E a noite vem
Sendo o descanso do sol
E a ponte vem
Sendo a distancia de quem tá só
Um sol
Com a cabeça na lua
A lua que gira, que gira, que girassol

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vinícius de Moraes - O Haver

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
– Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo 
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo 
De ferir tocando, essa forte mão de homem 
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos 
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito 
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível 
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética 
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história...

Resta essa vontade de chorar diante da beleza 
Essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido 
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa 
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.


Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado 
De pequenos absurdos, essa capacidade 
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil 
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza 
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser 
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa 
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior 
De mundos inexistentes, e esse heroísmo 
Estático, e essa pequenina luz indecifrável 
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos 
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória 
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade 
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto 
Esse eterno levantar-se depois de cada queda 
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha 
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo 
Infantil de ter pequenas coragens.




domingo, 7 de novembro de 2010

sete de novembro

Pense nas flores, 
amanhecem tão bonitas 
sem se quer sonhar 
com a morte 
ao fim do dia... 
é triste, e cruel
o encanto fugaz 
do não-saber...










terça-feira, 2 de novembro de 2010

Shakespeare - Soneto LXXI

“Não chores por mim, quando eu estiver morrido,
mais que o sino soturno e triste,
anunciar ao mundo que hei partido
deste para outro mais vil ainda.
Se acaso, um dia veres estes versos,
não lembres desta mão que os escreveu,
pois te adoro e tanto, que prefiro
que te esqueças de mim, e que não sofras,
quando eu estiver misturado com a argila.
Não murmures meu nome sem valia.
Que se finde o amor ao findar-se a vida!
Para que o sábio mundo não ouça teus lamentos
e não zombe de ti, quando eu estiver partido."


Shelley - À Noite

I
’Spectro da Noite, célere atravessa
Os mares do Ocidente!
Das brumosas grutas do Oriente vem depressa,
De onde, enquanto o dia refulgente
Se alonga em solidão, tu teces sonhos
Os mais benévolos e os mais medonhos
– Vem, ó Noite envolvente!

II
Esconde teu vulto em manto sem cor,
Teus astros benfazejos!Venda os olhos do Dia
[com o negror
De teu cabelo, e exaure-o com teus beijos,
Depois toca a cidade, e a terra, e o mar,
Com teu condão de ópio, a apaziguar
– Noite de meus desejos!

III
Quando acordei e vi o amanhecer,
Eu suspirei por ti;
E quando vi o orvalho esvanecer,
O sol pesar sobre o mundo, e senti
Que o Dia demorava-se, cansado,
Tal qual um hóspede indesejado,
Eu suspirei por ti.

IV
Veio tua irmã, a Morte, e perguntou:
Tu me chamaste aqui?
Teu doce filho, o Sono, se achegou,
E entre suaves murmúrios ouvi:
Queres que me acomode ao lado teu?
Chamaste-me aqui? — Respondi-lhe eu:
Não, não chamei a ti!

V
A Morte? Só quando houveres morrido,
Em breve, ah, em breve –
O Sono? Quando tiveres partido.
Que não me venha o Sono, nem me leve
A Morte, e sim tu, Noite, ó bem-amada
– Vem súbita, vem célere, alada;
Teu vôo seja breve!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Opeth - Black Rose Immortal (Tradução)

Em nome do desespero
Chamo teu nome
Uma lamentação que suspiro
Repetidamente

Eclipse espiritual
Os portões se fecharam para minha procura

A noite...
Um véu de estrelas, olhando
Minha sombra nasce da luz
A luz do olho, na escuridão

Sobre águas turbulentas as memórias pairam
Infinitamente, procurando por dias e noites
A luz da lua acaricia uma colina solitária
Com a calma de um sussurro

Visto uma alma nua
Um semblante pálido na água fluente
Está frio aqui
A geada marcou meu casaco com o pó

Os olhos que se fixam no teu mudo retrato
Nós falávamos apenas por pensamentos
Juntos nós contemplamos, e esperamos
As horas trouxeram a sede e o sol nascente

Os pássaros abandonam seus descansos
As sombras douram as arcadas

Não vire o rosto em minha direção
Confrontando-me com a minha solidão
Você está numa floresta desconhecida
O pomar secreto
E a tua voz é vasta e acromática
Mas ainda tão preciosa

A canção de ninar da lua crescente te levou
Hipnotizado, seu semblante caleidoscópico
Presentou-te com um olhar vazio
Outra alma dentro do rebanho divino

Eu o guardei,
O símbolo do amaranto
Escondido dentro do templo dourado,
Até que nos regozijemos nos campos
Do fim
Quando nós dois andarmos pelas sombras
Ele queimará e desaparecerá
Rosa Negra Imortal

Está escurecendo novamente
O anoitecer se move por entre os campos
As árvores noturnas lamentam, como se soubessem
À noite, eu sempre sonho contigo

The Cure - Close to me (tradução)

Eu estive esperando horas por isso
Eu fiz eu mesmo ficar doente
Eu queria ter ficado dormindo hoje
Eu nunca pensei que esse dia fosse acabar
Eu nunca pensei que esta noite pudesse estar
Tão perto de mim

Apenas tente enxergar na escuridão
Apenas tente fazer isso dar certo
Para sentir o medo antes de você estar aqui
Eu fiz as imagens chegarem perto demais
Eu arranquei os meus olhos
Prendi a respiração
E esperei até começar a tremer

Mas se eu tivesse a sua confiança
Então eu poderia fazer isto seguro e claro
Se apenas eu tivesse certeza
Que a minha cabeça na porta era um sonho

Eu estive esperando horas por isso
Eu fiz eu mesmo ficar doente
Eu queria ter ficado dormindo hoje
Eu nunca pensei que esse dia fosse acabar
Eu nunca pensei que esta noite pudesse estar
Tão perto de mim

Mas se eu tivesse a sua confiança
Então eu poderia fazer isto seguro e claro
Se apenas eu tivesse certeza
Que a minha cabeça na porta
era um sonho

sábado, 30 de outubro de 2010

Assassinos da meia-noite

Assassinatos à meia-noite
Assassinos de meia-vida
São como a morte, sem a foice
São toda dor e agonia.

Quando sua matança começa
Para longe fuja - esconda-se!
Pois não há o que os impeça
De torturar e matar nesta noite.

Não espere deles clemência
Nem afirme sua inocência
Não terão piedade, só maldade
São a encarnação da crueldade.

E quando a matança termina
Só o que resta são corpos pelo chão
Pois diabólicas são as almas perdidas
Assassinas, que vagam pela escuridão.

J.A.Cabral 11/08










sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Draculea

Beba do doce cálice de meu sangue
vampiro maldito, trovador de infâmias!
Tu não pertences mais a humanidade,
crueldade é o que fazes de melhor,
e teu único prazer é espalhar horror.
Traga a mim a dor da morte imunda
os teus desejos maculando minha carne pura...
Volte tuas trevas para este triste espelho
quebrado - já não reflete coisa alguma,
volte seus olhos para meu desespero,
para o terror de todos os demônios,
dentro do meu coração descarnado.
Oh vampiro maldito, não me poupe a morte
sirva-se de mim, serva de estranha sorte,
que se entrega a ti, nesse insano amor.

J.A.Cabral 10/10









Gritos em Silêncio

grito sufocado na garganta. 
vontade de degolar a dor maldita. 
sangra, sangra e sangra. 
mas não, não vou morrer...


Fato que não ousaria 
revelar-te tal coisa, 
tal sentimento, tal vergonha. 
A brancura de teus sonhos 
permanecerá intacta 
e meus desejos insanos...


quem me dera coragem de contar-te!!
Ah quem me dera!! 
mas a vida me fez muda, 
logo que o coração calou-se 
diante da imensidão de tal amor...


e só de sombras 
de impossibilidades 
me sustento.
em trevas densas, 
desfazem minha vida 
em tão tristes tormentos


pensamentos aqueles,
da covarde que amou 
e não ousou se quer tocar-te
ou estender a mão,
num gesto ingênuo
para poder amar teus olhos
na eternidade.


J.A.Cabral 10/10