"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre."
terça-feira, 27 de julho de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Deixa-me ser o que sou - Mário Quintana
O que sempre fui,
um rio que vai fluindo...
Em vão, em minhas margens
cantarão as horas
Me recamarei de estrelas
como um manto real
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão a mim as crianças banhar-se...
Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
As imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...
Toda a tristeza dos rios
É não poder parar!
um rio que vai fluindo...
Em vão, em minhas margens
cantarão as horas
Me recamarei de estrelas
como um manto real
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão a mim as crianças banhar-se...
Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
As imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...
Toda a tristeza dos rios
É não poder parar!
Fernado Pessoa
Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo.
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo.
domingo, 25 de julho de 2010
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Cecilia Meireles - De que são feitos os dias?
De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.
Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatuais esperanças.
De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias
- do medo que encadeia
todas essas mudanças.
Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças...
- De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.
Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatuais esperanças.
De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias
- do medo que encadeia
todas essas mudanças.
Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças...
Jorge Luis Borges - Das Coisas
A bengala, as moedas, o chaveiro,
a dócil fechadura,
essas tardias notas
que não lerão meus poucos dias
que restam,
o baralho e o tabuleiro,
um livro e dentro dele
a esmagada violeta,
monumento de uma tarde
por certo inolvidável e olvidada,
o rubro espelho ocidental em que arde
uma ilusória aurora.
Quantas coisas,
limas, umbrais, atlas, copos, cravos,
nos servem como tácitos escravos,
cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além do nosso olvido
e nunca saberão que já nos fomos.
a dócil fechadura,
essas tardias notas
que não lerão meus poucos dias
que restam,
o baralho e o tabuleiro,
um livro e dentro dele
a esmagada violeta,
monumento de uma tarde
por certo inolvidável e olvidada,
o rubro espelho ocidental em que arde
uma ilusória aurora.
Quantas coisas,
limas, umbrais, atlas, copos, cravos,
nos servem como tácitos escravos,
cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além do nosso olvido
e nunca saberão que já nos fomos.
José Saramago - in 'Os poemas possíveis'
Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Um Anel
- "Três Anéis para os Reis - Elfos sob este céu,
- Sete para os Senhores - Anões em seus rochosos corredores,
- Nove para Homens Mortais, fadados ao eterno sono,
- Um para o Senhor do Escuro em seu escuro trono
- Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam.
- Um Anel para a todos governar, Um Anel para encontrá-los,
- Um Anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los
- Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam."
21/07/1954: Lançamento do primeiro livro da trilogia O Senhor dos Anéis
O Senhor dos Anéis (título original em inglês: The Lord of the Rings) é um romance de fantasia criado pelo escritor, professor e filólogo britânico J.R.R. Tolkien. A história começa como sequência de um livro anterior de Tolkien, O Hobbit (The Hobbit), e logo se desenvolve numa história muito maior. Foi escrito entre 1937 e 1949, com muitas partes criadas durante a Segunda Guerra Mundial. Embora Tolkien tenha planejado realizá-lo em volume único, foi originalmente publicado em três volumes entre 1954 e 1955, e foi assim, em três volumes, que se tornou popular. Desde então foi reimpresso várias vezes e foi traduzido para mais de 40 línguas, somando os 3 livros publicados já venderam mais de 150 milhões de cópias, tornando-se um dos trabalhos mais populares da literatura do século XX.
terça-feira, 20 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
Emilie Simon - My old friend (tradução)
Meu velho amigo, meu velho amigo
Chegue perto de mim
Eu quero falar sobre o dia ensolarado
É quase como se o céu
Caísse sobre os meus ombros
É engraçado pois na minha cabeça
Parecia fácil falar com você
Meu velho amigo, meu velho amigo
Ela me deixou
Levou sozinha todos os dias ensolarados
É quase como se o céu
Caísse sobre os meus ombros
É engraçado pois na minha cabeça
Parecia fácil falar com você
Agora ela se foi, hoje neva sobre o meu sorriso
Agora ela se foi, e eu sei que está à milhas de distância
Agora ela se foi de uma maneira triste
É um dia triste
Meu velho amigo, meu velho amigo
Você me magoou
Eu confiei em você e eu estava errada
É quase como se o céu
Caísse sobre os meus ombros
É engraçado porque na minha cabeça
Eu não imaginei que isso fosse acontecer
Não imaginei que fosse acontecer
Não imaginei que fosse acontecer
Agora ela se foi, hoje neva sobre o meu sorriso
Agora ela se foi, e eu sei que está à milhas de distância
Agora ela se foi de uma maneira triste
É um dia triste
De uma maneira triste...
Chegue perto de mim
Eu quero falar sobre o dia ensolarado
É quase como se o céu
Caísse sobre os meus ombros
É engraçado pois na minha cabeça
Parecia fácil falar com você
Meu velho amigo, meu velho amigo
Ela me deixou
Levou sozinha todos os dias ensolarados
É quase como se o céu
Caísse sobre os meus ombros
É engraçado pois na minha cabeça
Parecia fácil falar com você
Agora ela se foi, hoje neva sobre o meu sorriso
Agora ela se foi, e eu sei que está à milhas de distância
Agora ela se foi de uma maneira triste
É um dia triste
Meu velho amigo, meu velho amigo
Você me magoou
Eu confiei em você e eu estava errada
É quase como se o céu
Caísse sobre os meus ombros
É engraçado porque na minha cabeça
Eu não imaginei que isso fosse acontecer
Não imaginei que fosse acontecer
Não imaginei que fosse acontecer
Agora ela se foi, hoje neva sobre o meu sorriso
Agora ela se foi, e eu sei que está à milhas de distância
Agora ela se foi de uma maneira triste
É um dia triste
De uma maneira triste...
Vento no Litoral - Legião Urbana
De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver
Se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora
Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos é que tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção
Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?
Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo o tempo todo
E Quando vejo o mar
Existe algo que diz:
- Que a vida continua e se entregar é uma bobagem
Já que você não está aqui,
O que posso fazer é cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos
Lembra que o plano era ficarmos bem?
-ei,ei,ei,ei,eh
olha só o que eu achei
uh,cavalos-marinhos
se que faço isso pra esquecer
eu deixo a onda me acertar
e o vento vai levando tudo embora
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora
Se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora
Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos é que tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção
Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?
Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo o tempo todo
E Quando vejo o mar
Existe algo que diz:
- Que a vida continua e se entregar é uma bobagem
Já que você não está aqui,
O que posso fazer é cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos
Lembra que o plano era ficarmos bem?
-ei,ei,ei,ei,eh
olha só o que eu achei
uh,cavalos-marinhos
se que faço isso pra esquecer
eu deixo a onda me acertar
e o vento vai levando tudo embora
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora
Canção Inutil - Dante Milano
A vida, a verdadeira vida,Aquela que não é vivida,
A que é perdida, sonhada,
A realidade irrealizada,
A que eu procuro e não encontro,
Houve por certo um desencontro...
Nenhum problema filosófico,
Trata-se de uma catástrofe.
Salva-se o corpo, é verdade,
Vive-se mas com humildade,
Em cima o montão de entulho,
E embaixo, humilhado, o orgulho.
Reveste-se um falso tédio
Qua adia o inútil suicídio.
A que é perdida, sonhada,
A realidade irrealizada,
A que eu procuro e não encontro,
Houve por certo um desencontro...
Nenhum problema filosófico,
Trata-se de uma catástrofe.
Salva-se o corpo, é verdade,
Vive-se mas com humildade,
Em cima o montão de entulho,
E embaixo, humilhado, o orgulho.
Reveste-se um falso tédio
Qua adia o inútil suicídio.
Pablo Neruda - In Residência na Terra II
Há tanta luz sombria no espaço
e tantas dimensões de súbito amarelas,
porque não cai o vento
nem respiram as folhas.
É um domingo detido no mar,
um dia como um navio submerso,
uma gota de tempo que assaltam as escamas
ferozmente vestidas de umidade transparente
Há meses seriamente acumulados numa vestimenta
que queremos cheirar chorando de olhos fechados,
e há anos em um só cego signo da água
depositada e verde,
há a idade que nem os dedos nem a luz apressaram,
muito mais estimável que um leque roto,
muito mais silenciosa que um peixe desenterrado,
há a nupcial idade dos dias dissolvidos
num triste túmulo que os peixes percorrem.
As pétalas do tempo caem imensamente
como vagos guarda-chuvas parecidos com o céu,
crescendo em torno, é apenas
um sino nunca visto,
uma rosa inundada, uma medusa, um longo
latejo quebrantado:
mas não é isso, é algo que toca e gasta apenas,
uma confusa pegada sem som e sem pássaros,
um desvanecimento de perfumes e raças.
O relógio que no campo se estendeu sobre o musgo
e golpeou uma anca com sua elétrica forma
corre destado e ferido debaixo da água temível
que ondula palpitando de correntes centrais.
e tantas dimensões de súbito amarelas,
porque não cai o vento
nem respiram as folhas.
É um domingo detido no mar,
um dia como um navio submerso,
uma gota de tempo que assaltam as escamas
ferozmente vestidas de umidade transparente
Há meses seriamente acumulados numa vestimenta
que queremos cheirar chorando de olhos fechados,
e há anos em um só cego signo da água
depositada e verde,
há a idade que nem os dedos nem a luz apressaram,
muito mais estimável que um leque roto,
muito mais silenciosa que um peixe desenterrado,
há a nupcial idade dos dias dissolvidos
num triste túmulo que os peixes percorrem.
As pétalas do tempo caem imensamente
como vagos guarda-chuvas parecidos com o céu,
crescendo em torno, é apenas
um sino nunca visto,
uma rosa inundada, uma medusa, um longo
latejo quebrantado:
mas não é isso, é algo que toca e gasta apenas,
uma confusa pegada sem som e sem pássaros,
um desvanecimento de perfumes e raças.
O relógio que no campo se estendeu sobre o musgo
e golpeou uma anca com sua elétrica forma
corre destado e ferido debaixo da água temível
que ondula palpitando de correntes centrais.
Sirenia - Lost In Life (tradução)
Uma esperança desbotada e um sonho quebrado
É tudo o que há para mim
É tudo que foi e sempre será
E eu estou caindo mais e mais
Nós estamos perdidos nesta vida, você e eu
Estamos vivendo uma mentira
O tempo continua a passar por nós, mas não podemos negar
Estamos perdendo todo o tempo
Não há nenhuma maneira de enfrentar estes anos desperdiçados
Nem perder tempo com essas lágrimas
Estou cedendo a todos os meus medos
Enquanto continuo caindo mais e mais
Nós estamos perdidos nesta vida, você e eu
Estamos vivendo uma mentira
O tempo continua a passar por nós, mas não podemos negar
Estamos perdendo todo o tempo
Nós estamos perdidos nesta vida, você e eu
Estamos vivendo uma mentira
O tempo continua a passar por nós, mas não podemos negar
Estamos perdendo todo o tempo
Nós estamos perdidos nesta vida, você e eu
Estamos vivendo uma mentira
O tempo continua a passar por nós, mas não podemos negar
Estamos perdendo todo o tempo
Estamos perdendo todo o tempo
É tudo o que há para mim
É tudo que foi e sempre será
E eu estou caindo mais e mais
Nós estamos perdidos nesta vida, você e eu
Estamos vivendo uma mentira
O tempo continua a passar por nós, mas não podemos negar
Estamos perdendo todo o tempo
Não há nenhuma maneira de enfrentar estes anos desperdiçados
Nem perder tempo com essas lágrimas
Estou cedendo a todos os meus medos
Enquanto continuo caindo mais e mais
Nós estamos perdidos nesta vida, você e eu
Estamos vivendo uma mentira
O tempo continua a passar por nós, mas não podemos negar
Estamos perdendo todo o tempo
Nós estamos perdidos nesta vida, você e eu
Estamos vivendo uma mentira
O tempo continua a passar por nós, mas não podemos negar
Estamos perdendo todo o tempo
Nós estamos perdidos nesta vida, você e eu
Estamos vivendo uma mentira
O tempo continua a passar por nós, mas não podemos negar
Estamos perdendo todo o tempo
Estamos perdendo todo o tempo
Baudelaire - O relogio
Relógio, deus sinistro, alarmante, impassível,
Dedo ameaçador a dizer: "Lembra bem!
As dores vivas para o teu coração vêm
E logo o acertarão com mira infalível;
"Como ninfa subindo ao fundo do cenário,
Foge para o horizonte o Prazer vaporoso;
Cada instante devora tua parte do gozo
Que cabe a cada um no seu itinerário.
"Três mil seiscentas vezes por hora, o Segundo
Sussura: Lembra bem! -- Indo depressa embora,
Voz de inseto, Agora fala: sou Outrora
E suguei tua vida com meu bico imundo!
"Remember! Souviens-toi! Lembra bem, sumidouro!
(Minha garganta de metal é poliglota.)
Os minutos são a ganga, mortal idiota,
Que não deves largar sem extrair o ouro!
"O Tempo, lembra bem, joga com teimosia,
Ganha sem trapacear, toda vez! Amém.
O dia cai; a noite aumenta; lembra bem!
O abismo tem sede, a ampulheta esvazia.
"Logo virá a hora em que o Acaso, e mais
A Virtude, esta virgem casada contigo,
O próprio Remorso (ah! o último abrigo!)
Em que tudo dirá: Morre! Tarde demais!
Dedo ameaçador a dizer: "Lembra bem!
As dores vivas para o teu coração vêm
E logo o acertarão com mira infalível;
"Como ninfa subindo ao fundo do cenário,
Foge para o horizonte o Prazer vaporoso;
Cada instante devora tua parte do gozo
Que cabe a cada um no seu itinerário.
"Três mil seiscentas vezes por hora, o Segundo
Sussura: Lembra bem! -- Indo depressa embora,
Voz de inseto, Agora fala: sou Outrora
E suguei tua vida com meu bico imundo!
"Remember! Souviens-toi! Lembra bem, sumidouro!
(Minha garganta de metal é poliglota.)
Os minutos são a ganga, mortal idiota,
Que não deves largar sem extrair o ouro!
"O Tempo, lembra bem, joga com teimosia,
Ganha sem trapacear, toda vez! Amém.
O dia cai; a noite aumenta; lembra bem!
O abismo tem sede, a ampulheta esvazia.
"Logo virá a hora em que o Acaso, e mais
A Virtude, esta virgem casada contigo,
O próprio Remorso (ah! o último abrigo!)
Em que tudo dirá: Morre! Tarde demais!
sábado, 17 de julho de 2010
O Teatro Mágico - Mágramática /Sintaxe À Vontade
Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
a partir de sempre
toda cura pertence a nós
toda resposta e dúvida
todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
todo verbo é livre para ser direto e indireto
nenhum predicado será prejudicado
nem tampouco a vírgula, nem a crase nem a frase e ponto final!
afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas
e estar entre vírgulas pode ser aposto
e eu aposto o oposto que vou cativar a todos
sendo apenas um sujeito simples
um sujeito e sua oração
sua pressa e sua verdade,sua fé
que a regência da paz sirva a todos nós... cegos ou não
que enxerguemos o fato
de termos acessórios para nossa oração
separados ou adjuntos, nominais ou não
façamos parte do contexto da crônica
e de todas as capas de edição especial
sejamos também o anúncio da contra-capa
mas ser a capa e ser contra-capa
é a beleza da contradição
é negar a si mesmo
e negar a si mesmo
pode ser também encontrar-se com Deus
com o teu Deus
Sem horas e sem dores
Que nesse encontro que acontece agora
cada um possa se encontrar no outro
até porque...
tem horas que a gente se pergunta...
por que é que não se junta
tudo numa coisa só?
Respeitável público pagão
a partir de sempre
toda cura pertence a nós
toda resposta e dúvida
todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
todo verbo é livre para ser direto e indireto
nenhum predicado será prejudicado
nem tampouco a vírgula, nem a crase nem a frase e ponto final!
afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas
e estar entre vírgulas pode ser aposto
e eu aposto o oposto que vou cativar a todos
sendo apenas um sujeito simples
um sujeito e sua oração
sua pressa e sua verdade,sua fé
que a regência da paz sirva a todos nós... cegos ou não
que enxerguemos o fato
de termos acessórios para nossa oração
separados ou adjuntos, nominais ou não
façamos parte do contexto da crônica
e de todas as capas de edição especial
sejamos também o anúncio da contra-capa
mas ser a capa e ser contra-capa
é a beleza da contradição
é negar a si mesmo
e negar a si mesmo
pode ser também encontrar-se com Deus
com o teu Deus
Sem horas e sem dores
Que nesse encontro que acontece agora
cada um possa se encontrar no outro
até porque...
tem horas que a gente se pergunta...
por que é que não se junta
tudo numa coisa só?
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Alphonsus de Guimaraens - Biografia
Alphonsus de Guimaraens (Afonso Henriques da Costa Guimaraens), nasceu em Ouro Preto (MG), em 1870 e faleceu em Mariana (MG), em 1921. Bacharelou-se em Direito, em 1894, em sua terra natal. Desde seus tempos de estudante colaborava nos jornais “Diário Mercantil”, “Comércio de São Paulo”, “Correio Paulistano”, “O Estado de S. Paulo” e “A Gazeta”. Em 1895 tornou-se promotor de Justiça em Conceição do Serro (MG) e, a partir de 1906, Juiz em Mariana (MG), de onde pouco sairia. Seu primeiro livro de poesia, Dona Mística, (1892/1894), foi publicado em 1899, ano em que também saiu o “Setenário das Dores de Nossa Senhora. Câmara Ardente”. Em 1902 publicou “Kiriale”, sob o pseudônimo de Alphonsus de Vimaraens. Sua “Obra Completa” foi publicada em 1960. Considerado um dos grandes nomes do Simbolismo, e por vezes o mais místico dos poetas brasileiros, Alphonsus de Guimaraens tratou em seus versos de amor, morte e religiosidade. A morte de sua noiva Constança, em 1888, marcou profundamente sua vida e sua obra, cujos versos, melancólicos e musicais, são repletos de anjos, serafins, cores roxas e virgens mortas.
(fonte: Itaú Cultural)
(fonte: Itaú Cultural)
Alphonsus do Guimaraes - Ismália
Quando Ismália enloqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar...
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu,
Refluaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar...
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu,
Refluaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Alphonsus de Guimarães - Cisnes Brancos
Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Porque viestes, se era tão tarde?
O sol não beija mais os flancos
Da Montanha onde mora a tarde.
Ó cisnes brancos, dolorida
Minh’alma sente dores novas.
Cheguei à terra prometida:
É um deserto cheio de covas.
Voai para outras risonhas plagas,
Cisnes brancos! Sede felizes...
Deixai-me só com as minhas chagas,
E só com as minhas cicatrizes.
Venham as aves agoireiras,
De risada que esfria os ossos...
Minh’alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.
Queimando a carne como brasas,
Venham as tentações daninhas,
Que eu lhes porei, bem sob asas,
A alma cheia de ladainhas.
Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Doce afago da alva plumagem!
Minh’alma morre aos solavancos
Nesta medonha carruagem...
Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram no hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.
Foram-se as brancas horas sem rumo,
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.
Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: — Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!
Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.
Porque viestes, se era tão tarde?
O sol não beija mais os flancos
Da Montanha onde mora a tarde.
Ó cisnes brancos, dolorida
Minh’alma sente dores novas.
Cheguei à terra prometida:
É um deserto cheio de covas.
Voai para outras risonhas plagas,
Cisnes brancos! Sede felizes...
Deixai-me só com as minhas chagas,
E só com as minhas cicatrizes.
Venham as aves agoireiras,
De risada que esfria os ossos...
Minh’alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.
Queimando a carne como brasas,
Venham as tentações daninhas,
Que eu lhes porei, bem sob asas,
A alma cheia de ladainhas.
Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Doce afago da alva plumagem!
Minh’alma morre aos solavancos
Nesta medonha carruagem...
Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram no hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.
Foram-se as brancas horas sem rumo,
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.
Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: — Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!
Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.
Alphonsus de Guimarães - Árias e Canções
II
A suave castelã das horas mortas
Assoma à torre do castelo. As portas,
Que o rubro ocaso em onda ensangüentara,
Brilham do luar à luz celeste e clara.
Como em órbitas de fatias caveiras
Olhos que fossem de defuntas freiras,
Os astros morrem pelo céu pressago...
São como círios a tombar num lago.
E o céu, diante de mim, todo escurece...
E eu que nem sei de cor uma só prece!
Pobre alma, que me queres, que me queres?
São assim todas, todas as mulheres.
A suave castelã das horas mortas
Assoma à torre do castelo. As portas,
Que o rubro ocaso em onda ensangüentara,
Brilham do luar à luz celeste e clara.
Como em órbitas de fatias caveiras
Olhos que fossem de defuntas freiras,
Os astros morrem pelo céu pressago...
São como círios a tombar num lago.
E o céu, diante de mim, todo escurece...
E eu que nem sei de cor uma só prece!
Pobre alma, que me queres, que me queres?
São assim todas, todas as mulheres.
Alphonsus de Guimarães - Ossea Mea
II
Mãos de finada, aquelas mãos de neve,
de tons marfíneos, de ossatura rica,
pairando no ar, num gesto brando e leve,
que parece ordenar, mas que suplica.
Erguem-se ao longe como se as eleve
alguém que ante os altares sacrifica:
mãos que consagram, mãos que partem breve,
mas cuja sombra nos meus olhos fica...
mãos de esperança para as almas loucas,
brumosas mãos que vêm brancas, distantes,
fechar ao mesmo tempo tantas bocas...
sinto-as agora, ao luar, descendo juntas,
grandes, magoadas, pálidas, tateantes,
cerrando os olhos das visões defuntas...
Mãos de finada, aquelas mãos de neve,
de tons marfíneos, de ossatura rica,
pairando no ar, num gesto brando e leve,
que parece ordenar, mas que suplica.
Erguem-se ao longe como se as eleve
alguém que ante os altares sacrifica:
mãos que consagram, mãos que partem breve,
mas cuja sombra nos meus olhos fica...
mãos de esperança para as almas loucas,
brumosas mãos que vêm brancas, distantes,
fechar ao mesmo tempo tantas bocas...
sinto-as agora, ao luar, descendo juntas,
grandes, magoadas, pálidas, tateantes,
cerrando os olhos das visões defuntas...
quarta-feira, 14 de julho de 2010
J.R.R.Tolkien - O Hobbit (frag.)
No campo ressecado vento havia,
mas na floresta nada se movia:
Trevas soturnas, diurnas, noturnas,
O vento desceu dos montes gelados,
rugindo em ondas qual mar agitado;
os ramos fremiam, a floresta bramia,
de folhas o chão estava forrado.
De Oeste para Leste o vento em festa;
cessara o movimento na floresta,
mas aguda e fatal, pelo pantanal,
sua voz sibilante uiva e protesta.
Assobia o capim curvando as flores
batem os juncos, seguem-se temores:
sobre o lago agitado um céu calado,
nuvens correndo rasgadas e horrores.
As desertas montanhas lá se vão,
Varre ele agora a toca do dragão:
trevas e negrume, pedras em cardume,
fumaça impregna o ar de escuridão.
Deixa o mundo e sua fuga continua,
sobre os mares da noite ele recua.
Ao som doce da brisa a lua desliza,
acende-se uma estrela e a luz flutua.
mas na floresta nada se movia:
Trevas soturnas, diurnas, noturnas,
coisas turvas o calor escondia.
O vento desceu dos montes gelados,
rugindo em ondas qual mar agitado;
os ramos fremiam, a floresta bramia,
de folhas o chão estava forrado.
cessara o movimento na floresta,
mas aguda e fatal, pelo pantanal,
sua voz sibilante uiva e protesta.
Assobia o capim curvando as flores
batem os juncos, seguem-se temores:
sobre o lago agitado um céu calado,
nuvens correndo rasgadas e horrores.
As desertas montanhas lá se vão,
Varre ele agora a toca do dragão:
trevas e negrume, pedras em cardume,
fumaça impregna o ar de escuridão.
Deixa o mundo e sua fuga continua,
sobre os mares da noite ele recua.
Ao som doce da brisa a lua desliza,
acende-se uma estrela e a luz flutua.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Frida Kahlo - Biografia
Frida Nasceu em 1907 no México, mas gostava de declarar-se filha da revolução ao dizer que havia nascido em 1910. Sua vida sempre foi marcada por grandes tragédias; aos seis anos contraiu poliomelite, o que à deixou coxa. Já havia superado essa deficiência quando o ônibus em que passeava chocou-se contra um bonde. Por causa deste último fez várias cirurgias e ficou muito tempo presa em uma cama.
Começou a pintar durante a convalescença, quando a mãe pendurou um espelho em cima de sua cama. Frida sempre pintou a si mesma: "Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor". Suas angustias, suas vivências, seus medos e principalmente seu amor pelo marido Diego Rivera.
A sua vida com o marido sempre foi bastante tumultuada. Diego tinha muitas amantes e Frida não ficava atrás, compensava as traições do marido com amantes de ambos os sexos. A maior dor de Frida foi a impossibilidade de ter filhos (embora tenha engravidado mais de uma vez, as seqüelas do acidente a impossibilitaram de levar uma gestação até o final), o que ficou claro em muitos dos seus quadros.
Os seus quadros refletiam o momento pelo qual passava e, embora fossem bastante "fortes", não eram surrealistas: "Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei minha própria realidade". Frida contraiu uma pneumonia e morreu em 1954 de embolia pulmonar, mas no seu diário a última frase causa dúvidas: "Espero alegremente a saída - e espero nunca mais voltar - Frida". Talvez Frida não suportasse mais.
Começou a pintar durante a convalescença, quando a mãe pendurou um espelho em cima de sua cama. Frida sempre pintou a si mesma: "Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor". Suas angustias, suas vivências, seus medos e principalmente seu amor pelo marido Diego Rivera.
A sua vida com o marido sempre foi bastante tumultuada. Diego tinha muitas amantes e Frida não ficava atrás, compensava as traições do marido com amantes de ambos os sexos. A maior dor de Frida foi a impossibilidade de ter filhos (embora tenha engravidado mais de uma vez, as seqüelas do acidente a impossibilitaram de levar uma gestação até o final), o que ficou claro em muitos dos seus quadros.
Os seus quadros refletiam o momento pelo qual passava e, embora fossem bastante "fortes", não eram surrealistas: "Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei minha própria realidade". Frida contraiu uma pneumonia e morreu em 1954 de embolia pulmonar, mas no seu diário a última frase causa dúvidas: "Espero alegremente a saída - e espero nunca mais voltar - Frida". Talvez Frida não suportasse mais.
Frida Kahlo - Origem das duas Fridas. Recordação
Devia ter 6 anos quando vivi intensamente a amizade imaginária com uma menina de minha idade. (...) Não me lembro de sua imagem, nem de sua cor. Porém sei que era alegre e ria muito. Sem sons. Era ágil e dançava como se não tivesse nenhum peso. Eu a seguia em todos os seus movimentos e contava para ela, enquanto ela dançava, meus problemas secretos. Quais? Não me lembro. Porém ela sabia, por minha voz, de todas as minhas coisas..."
Frida Kahlo - Aforismo
"Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria."
treze de julho
Eu talvez só encontre paz
quando enfim puder gritar:
"Já não existo mais!"
J.A.Cabral 07/10
quando enfim puder gritar:
"Já não existo mais!"
J.A.Cabral 07/10
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Vinicius de Moraes - Biografia
Vinicius de Moraes (19 de outubro de 1913 - 9 de julho de 1980) foi um diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro.
Poeta essencialmente lírico, o poetinha (como ficou conhecido) notabilizou-se pelos seus sonetos. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua vida.
Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, o poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell e Carlos Lyra.
Vinicius nasceu em 1913 no bairro da Gávea, filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta e violonista amador, e Lidia Cruz, pianista amadora. Vinícius é o segundo de quatro filhos, Lygia (1911), Laetitia (1916) e Helius (1918). Mudou-se com a família para o bairro de Botafogo em 1916, onde iniciou os seus estudos na Escola Primária Afrânio Peixoto, onde já demonstrava interesse em escrever poesias. Em 1922, a sua mãe adoeceu e a família de Vinicius mudou-se para a Ilha do Governador, ele e sua irmã Lygia permanecendo com o avô, no Botafogo, para terminar o curso primário.
Vinicius de Moraes ingressou em 1924 no Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas, onde passou a cantar no coral e começou a montar pequenas peças de teatro. Três anos depois, tornou-se amigo dos irmãos Haroldo e Paulo Tapajós, com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas de amigos. Em 1929, concluiu o ginásio e no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje integrada à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.
Três anos depois, obteve o emprego de censor cinematográfico junto ao Ministério da Educação e Saúde. Dois anos depois, Vinicius de Moraes ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford. Em 1941, retornou ao Brasil empregando-se como crítico de cinema no jornal "A Manhã". Tornou-se também colaborador da revista "Clima" e empregou-se no Instituto dos Bancários.
No ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro concurso para o Ministério das Relações Exteriores (MRE). No ano seguinte, concorreu novamente e desta vez foi aprovado. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles. Com a morte do pai, em 1950, Vinicius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos 1950, Vinicius atuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda.
Além da carreira diplomática, de onde atuou até o final de 1968, Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro "Orfeu da Conceição", obra de 1954. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical começou a deslanchar em meados da década de 1950 - época em que conheceu Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria. Foram firmadas parcerias com compositores como Baden Powell, Carlos Lyra e Francis Hime.
Nos anos 1970, já consagrado e com um novo parceiro, o violonista Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.
Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia 9 de julho, Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso
(última esposa do poeta), mas não houve tempo e Vinicius de Moraes morreria pela manhã.
fonte:http://vinicius-de-moraes.blogspot.com/2009/07/vinicius-de-moraes-biografia.html
Poeta essencialmente lírico, o poetinha (como ficou conhecido) notabilizou-se pelos seus sonetos. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua vida.
Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, o poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell e Carlos Lyra.
Vinicius nasceu em 1913 no bairro da Gávea, filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta e violonista amador, e Lidia Cruz, pianista amadora. Vinícius é o segundo de quatro filhos, Lygia (1911), Laetitia (1916) e Helius (1918). Mudou-se com a família para o bairro de Botafogo em 1916, onde iniciou os seus estudos na Escola Primária Afrânio Peixoto, onde já demonstrava interesse em escrever poesias. Em 1922, a sua mãe adoeceu e a família de Vinicius mudou-se para a Ilha do Governador, ele e sua irmã Lygia permanecendo com o avô, no Botafogo, para terminar o curso primário.
Vinicius de Moraes ingressou em 1924 no Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas, onde passou a cantar no coral e começou a montar pequenas peças de teatro. Três anos depois, tornou-se amigo dos irmãos Haroldo e Paulo Tapajós, com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas de amigos. Em 1929, concluiu o ginásio e no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje integrada à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.
Três anos depois, obteve o emprego de censor cinematográfico junto ao Ministério da Educação e Saúde. Dois anos depois, Vinicius de Moraes ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford. Em 1941, retornou ao Brasil empregando-se como crítico de cinema no jornal "A Manhã". Tornou-se também colaborador da revista "Clima" e empregou-se no Instituto dos Bancários.
No ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro concurso para o Ministério das Relações Exteriores (MRE). No ano seguinte, concorreu novamente e desta vez foi aprovado. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles. Com a morte do pai, em 1950, Vinicius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos 1950, Vinicius atuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda.
Além da carreira diplomática, de onde atuou até o final de 1968, Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro "Orfeu da Conceição", obra de 1954. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical começou a deslanchar em meados da década de 1950 - época em que conheceu Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria. Foram firmadas parcerias com compositores como Baden Powell, Carlos Lyra e Francis Hime.
Nos anos 1970, já consagrado e com um novo parceiro, o violonista Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.
Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia 9 de julho, Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso
(última esposa do poeta), mas não houve tempo e Vinicius de Moraes morreria pela manhã.
fonte:http://vinicius-de-moraes.blogspot.com/2009/07/vinicius-de-moraes-biografia.html
Vinicius de Moraes - Labirinto
Não me lembro de onde vim
E já nem sei mesmo para onde é que eu vou
Não conheço o meu caminho
Estou começando a nem saber se estou
Sou um manequim, eu sou em sem mim
Sou um manequim que a vida já despiu
Que o vento já levou
Dentro deste labirinto
Sinto crescer a minha solidão
Passam braços que me enlaçam
Mãos que roçam pela escuridão
Que será de mim?
Eu sou eu sem mim
Sou um manequim que vai sem direção
Em busca de seu fim
Ah, quem me dera coragem
Ah, quem me dera a esperança
Ah, se eu pudesse encontrar o amor
E dizer-lhe que estou ao seu inteiro dispor
De onde surgem estas luzes?
Cruzes! Que medo, são assombrações
Sombras que se arrastam lentas
E, pelos espaços, mais estranhos sons
Estou chegando ao fim, eu sou eu sem mim
Sou um manequim sozinho e sem canções
Estou chegando ao fim
E já nem sei mesmo para onde é que eu vou
Não conheço o meu caminho
Estou começando a nem saber se estou
Sou um manequim, eu sou em sem mim
Sou um manequim que a vida já despiu
Que o vento já levou
Dentro deste labirinto
Sinto crescer a minha solidão
Passam braços que me enlaçam
Mãos que roçam pela escuridão
Que será de mim?
Eu sou eu sem mim
Sou um manequim que vai sem direção
Em busca de seu fim
Ah, quem me dera coragem
Ah, quem me dera a esperança
Ah, se eu pudesse encontrar o amor
E dizer-lhe que estou ao seu inteiro dispor
De onde surgem estas luzes?
Cruzes! Que medo, são assombrações
Sombras que se arrastam lentas
E, pelos espaços, mais estranhos sons
Estou chegando ao fim, eu sou eu sem mim
Sou um manequim sozinho e sem canções
Estou chegando ao fim
Vinicius de Moraes - Poética I e II
Poética I
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Poética II
Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo:
(Um templo sem Deus.)
Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
– Entrai, irmãos meus!
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Poética II
Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo:
(Um templo sem Deus.)
Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
– Entrai, irmãos meus!
Vinicius de Moraes - Epitáfio
Aqui jaz o Sol
Que criou a aurora
E deu a luz ao dia
E apascentou a tarde
O mágico pastor
De mãos luminosas
Que fecundou as rosas
E as despetalou.
Aqui jaz o Sol
O andrógino meigo
E violento, que
Possui a forma
De todas as mulheres
E morreu no mar.
Que criou a aurora
E deu a luz ao dia
E apascentou a tarde
O mágico pastor
De mãos luminosas
Que fecundou as rosas
E as despetalou.
Aqui jaz o Sol
O andrógino meigo
E violento, que
Possui a forma
De todas as mulheres
E morreu no mar.
Vinicius de Moraes - Poema de Auteil
A coisa não é bem essa.
Não há nenhuma razão no mundo (ou talvez só tu, Tristeza!)
Para eu estar andando nesse meio-dia por essa rua estrangeira com o nome de um pintor estrangeiro.
Eu devia estar andando numa rua chamada Travessa Di Cavalcanti
No Alto da Tijuca, ou melhor na Gávea, ou melhor ainda, no lado de dentro de lpanema:
E não vai nisso nenhum verde-amarelismo. De verde quereria apenas um colo de morro e de amarelo um pé de acácias repontando de um quintal entre telhados.
Deveria vir de algum lugar
Um dedilhar de menina estudando piano ou o assovio de um ciclista
Trauteando um samba de Antônio Maria. Deveria haver
Um silêncio pungente cortado apenas
Por um canto de cigarra, bruscamente interrompido
E o ruído de um ônibus varando como um desvairado uma preferencial vizinha.
Deveria súbito
Fazer-se ouvir num apartamento térreo próximo
Uma fresca descarga de latrina abrindo um frio vórtice na espessura irremediável do mormaço
Enquanto ao longe
O vulto de uma banhista (que tristeza sem fim voltar da praia!)
Atravessaria lentamente a rua arrastando um guarda-sol vermelho.
Ah, que vontade de chorar me subiria!
Que vontade de morrer, de me diluir em lágrimas
Entre uns seios suados de mulher! Que vontade
De ser menino, em vão, me subiria
Numa praia luminosa e sem fim, a buscar o não-sei-quê
Da infância, que faz correr correr correr...
Deveria haver também um rato morto na sarjeta, um odor de bogaris
E um cheiro de peixe fritando. Deveria
Haver muito calor, que uma sub-reptícia
Brisa viria suavizar fazendo festa na axila.
Deveria haver em mim um vago desejo de mulher e ao mesmo tempo
De espaciar-me. Relógios deveriam bater
Alternadamente como bons relógios nunca certos.
Eu poderia estar voltando de, ou indo para: não teria a menor importância.
O importante seria saber que eu estava presente
A um momento sem história, defendido embora
Por muros, casas e ruas (e sons, especialmente
Esses que fizeram dizer a um locutor novato, numa homenagem póstuma: "Acabaram de ouvir um minuto de silêncio…")
Capazes de testemunhar por mim em minha imensa
E inútil poesia.
Eu deveria estar sem saber bem para onde ir: se para a casa materna
E seus encantados recantos, ou se para o apartamento do meu velho Braga
De onde me poria a telefonar, à Amiga e às amigas
A convocá-las para virem beber conosco, virem todas
Beber e conversar conosco e passear diante de nossos olhos gratos
A graça e nostalgia com que povoam a nossa infinita solidão.
Não há nenhuma razão no mundo (ou talvez só tu, Tristeza!)
Para eu estar andando nesse meio-dia por essa rua estrangeira com o nome de um pintor estrangeiro.
Eu devia estar andando numa rua chamada Travessa Di Cavalcanti
No Alto da Tijuca, ou melhor na Gávea, ou melhor ainda, no lado de dentro de lpanema:
E não vai nisso nenhum verde-amarelismo. De verde quereria apenas um colo de morro e de amarelo um pé de acácias repontando de um quintal entre telhados.
Deveria vir de algum lugar
Um dedilhar de menina estudando piano ou o assovio de um ciclista
Trauteando um samba de Antônio Maria. Deveria haver
Um silêncio pungente cortado apenas
Por um canto de cigarra, bruscamente interrompido
E o ruído de um ônibus varando como um desvairado uma preferencial vizinha.
Deveria súbito
Fazer-se ouvir num apartamento térreo próximo
Uma fresca descarga de latrina abrindo um frio vórtice na espessura irremediável do mormaço
Enquanto ao longe
O vulto de uma banhista (que tristeza sem fim voltar da praia!)
Atravessaria lentamente a rua arrastando um guarda-sol vermelho.
Ah, que vontade de chorar me subiria!
Que vontade de morrer, de me diluir em lágrimas
Entre uns seios suados de mulher! Que vontade
De ser menino, em vão, me subiria
Numa praia luminosa e sem fim, a buscar o não-sei-quê
Da infância, que faz correr correr correr...
Deveria haver também um rato morto na sarjeta, um odor de bogaris
E um cheiro de peixe fritando. Deveria
Haver muito calor, que uma sub-reptícia
Brisa viria suavizar fazendo festa na axila.
Deveria haver em mim um vago desejo de mulher e ao mesmo tempo
De espaciar-me. Relógios deveriam bater
Alternadamente como bons relógios nunca certos.
Eu poderia estar voltando de, ou indo para: não teria a menor importância.
O importante seria saber que eu estava presente
A um momento sem história, defendido embora
Por muros, casas e ruas (e sons, especialmente
Esses que fizeram dizer a um locutor novato, numa homenagem póstuma: "Acabaram de ouvir um minuto de silêncio…")
Capazes de testemunhar por mim em minha imensa
E inútil poesia.
Eu deveria estar sem saber bem para onde ir: se para a casa materna
E seus encantados recantos, ou se para o apartamento do meu velho Braga
De onde me poria a telefonar, à Amiga e às amigas
A convocá-las para virem beber conosco, virem todas
Beber e conversar conosco e passear diante de nossos olhos gratos
A graça e nostalgia com que povoam a nossa infinita solidão.
Saramago - Provavelmente Alegria (frag.)
Ainda agora é manhã, e já os ventos
Adormecem no céu. Pouco a pouco,
A névoa antiga e baça se levanta.
Ruivamente, o sol abre uma estrada
Na prata nublada destas águas.
É manhã, meu amor, a noite foge,
E no mel dos teus olhos escurece
O amargo das sombras e das mágoas.
Adormecem no céu. Pouco a pouco,
A névoa antiga e baça se levanta.
Ruivamente, o sol abre uma estrada
Na prata nublada destas águas.
É manhã, meu amor, a noite foge,
E no mel dos teus olhos escurece
O amargo das sombras e das mágoas.
Delain - Stay Forever (tradução)
Silêncio na sala de estar horas sinto como dias
O silêncio quando eu falo pra você seus pensamentos a milhas de distância
Minha euforia, mas sim vale o seu premio
Porque quando a mente começa a duvidar eu esqueço sobre nossas lutas
Fique para sempre, Isso nunca sera de novo
Nossas palavras não faladas, elas virão no fim
Fique para sempre, Isso nunca sera de novo
Nossas palavras não faladas, elas virão no fim
energia artificial, correndo através das minhas veias
eu posso chamar o amor que sinto, por nomes sem faces?
Minha euforia, mas sim vale o seu premio
Porque quando a mente começa a duvidar eu esqueço sobre nossas lutas
Fique para sempre, Isso nunca sera de novo
Nossas palavras não faladas, elas virão no fim
Fique para sempre, Isso nunca sera de novo
Nossas palavras não faladas, elas virão no fim
Esta casa vazia não é um lar
deseja ficar sozinho
Sem a sua armadura
carne e sangue se tornaram pedra
deseja ficar sozinho
Muito tarde pra voltar
Fique para sempre, Isso nunca sera de novo
Nossas palavras não faladas, elas virão no fim
Fique para sempre, Isso nunca sera de novo
Nossas palavras não faladas, elas virão no fim(2x)
Pablo Neruda - Nasci para Nascer (frag)
"Os meus pensamentos foram-se afastando de mim, mas, chegado a um caminho acolhedor, rejeito os tumultuosos pesares e detenho-me, de olhos fechados, enervado num aroma de afastamento que eu próprio fui conservando, na minha pequena luta contra a vida. Só vivi ontem.
(...)
Ontem é uma árvore de longas ramagens, e estou estendido à sua sombra, recordando.
De súbito, contemplo, surpreendido, longas caravanas de caminhantes... Com os olhos adormecidos na recordação, entoam canções e recordam. E algo me diz que mudaram para se deter, que falaram para se calar, que abriram os olhos atônitos ante a festa das estrelas para os fechar e recordar...
Estendido neste novo caminho, com os olhos ávidos florescidos de afastamento, procuro em vão interceptar o rio do tempo que tremula sobre as minhas atitudes. Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias..."
(...)
Ontem é uma árvore de longas ramagens, e estou estendido à sua sombra, recordando.
De súbito, contemplo, surpreendido, longas caravanas de caminhantes... Com os olhos adormecidos na recordação, entoam canções e recordam. E algo me diz que mudaram para se deter, que falaram para se calar, que abriram os olhos atônitos ante a festa das estrelas para os fechar e recordar...
Estendido neste novo caminho, com os olhos ávidos florescidos de afastamento, procuro em vão interceptar o rio do tempo que tremula sobre as minhas atitudes. Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias..."
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Shelley - Biografia
Um dos mais significativos poetas românticos da Inglaterra, Percy Bysshe Shelley nasceu em Field Place, na cidade de Horsham, condado de West Sussex, na Inglaterra, no dia 4 de agosto de 1792. Ele se tornaria célebre, particularmente, por seus poemas mais extensos, como “Prometheus Unbound”, “Alastor, or The Spirit of Solitude” e o inconcluso “The Triumph of Life“, entre outros. Descendente de nobres, ele cresceu numa família que se pautava por valores conservadores. Mesmo assim ele seguia um ideário radical que lhe apontava caminhos nada conformistas. Seu pai, Sir Timothy Shelley, era integrante do Partido Whig, de inclinação liberal, e ocupava uma cadeira no Parlamento inglês. Percy passou sua infância ao lado dos seis irmãos, dos quais uma irmã morreu ainda criança.
Seus primeiros estudos foram realizados junto ao Reverendo Evan Edwards, pois o pai pretendia educá-lo para ser um intelectual, um bom orador e ter uma ótima performance na vida pública. Sua primeira escola foi a Syon House Academy, uma instituição particular na qual ele ingressou em 1802; logo depois, em 1804, ele seguiu para o Eton College, localizado próximo ao castelo de Windsor. Aí ele tinha que se defender dos colegas, que o agrediam por ele ser franzino e cultivar ideais considerados exóticos.
Inspirado pelas experiências vividas nesta escola, Percy escreveu o romance Zastrozzi, de 1810, um thriller de natureza gótica, no qual ele revela uma percepção de mundo perpassada por valores ateus, condensados nas atitudes do vilão-protagonista. Ainda este ano ele lançou Original Poetry by Victor and Cazire, ao lado da irmã Elizabeth.
No dia 10 de abril de 1810 ele ingressou na Universidade de Oxford. Um ano depois ele lançou seu segundo livro gótico, St. Irvyne; or, The Rosicrucian, e escreveu um panfleto no qual propagava a necessidade de se disseminar o ateísmo. Por conta deste texto ele acabou sendo expulso de Oxford. O poeta rejeitou a chance de se desculpar e voltar atrás em suas crenças, o que provocou um sério conflito com o pai. Sua intenção, na verdade, era se dedicar aos estudos filosóficos.
Nesta época Percy retorna para Londres e encontra Harriet Westbrook, uma jovem de 16 anos, com quem se casa. Em 1812 ambos seguem para a capital irlandesa, Dublin, para divulgar a publicação de Adress to The Irish People. De volta à capital inglesa ele conhece Willian Godwin, um filósofo social extremista que contribui para o lançamento, em 1813, de sua primeira obra realmente significativa, Queen Mab, na qual reafirma a não existência de um Criador.
Em pouco tempo ele se afasta de Harriet e se apaixona por seu verdadeiro amor, a escritora Mary Woolstonecraft Godwin, mais conhecida como Mary Shelley. De forma polêmica ele se une a Mary, parte com ela para a França e convida a primeira mulher para se juntar a eles como se fosse sua irmã, o que lhe confere a fama de imoral ao lado da de ateu subversivo, especialmente depois que Harriet se suicida, em 1816. Percy é então impedido de permanecer com os filhos. Dois anos depois ele oficializa seu relacionamento com Mary, casa-se e parte para a Itália. O poeta nunca mais volta a pisar em solo inglês.
Neste país ele trava amizade com Byron e, na cidade de Pisa, criam o Círculo de Pisa, integrado também por Edward Trelawny. Em dois anos ele perde Clara e William, seus dois filhos, e a partir daí inicia em suas obras meditações mais profundas e complexas, como é possível encontrar em Prometheus Unbound e The Cenci. Seus poemas se tornam mais tristes e, após a morte do poeta Keats, ele cria para o amigo uma elegia conhecida como Adonais.
Seus parâmetros agora não são mais o viés gótico e as doutrinas sociais do século XVIII, mas sim as tragédias de origem grega, o poema de Milton, O Paraíso Perdido, e as Escrituras Sagradas. Na sua obra mais madura é possível perceber as inspirações dos textos platônicos e neoplatônicos.Apenas aos poucos Percy conquistou o circuito da crítica literária, pois durante muito tempo foi considerado um poeta nada maduro emocionalmente, um simulador de criações desconexas. O poeta morreu no dia 8 de julho de 1822, aos 29 anos, vítima de um naufrágio, ao lado do amigo Edward Williams.
Ele foi cremado, mas seu coração poupado e doado a Mary por Trelawney. Quando ela morreu, o coração de Percy foi sepultado junto com a escritora.
Fontes:
http://www.letras.ufrj.br/veralima/romantismo/poetas/shelley.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Percy_Bysshe_Shelley
http://www.infoescola.com/biografias/percy-bysshe-shelley/
Seus primeiros estudos foram realizados junto ao Reverendo Evan Edwards, pois o pai pretendia educá-lo para ser um intelectual, um bom orador e ter uma ótima performance na vida pública. Sua primeira escola foi a Syon House Academy, uma instituição particular na qual ele ingressou em 1802; logo depois, em 1804, ele seguiu para o Eton College, localizado próximo ao castelo de Windsor. Aí ele tinha que se defender dos colegas, que o agrediam por ele ser franzino e cultivar ideais considerados exóticos.
Inspirado pelas experiências vividas nesta escola, Percy escreveu o romance Zastrozzi, de 1810, um thriller de natureza gótica, no qual ele revela uma percepção de mundo perpassada por valores ateus, condensados nas atitudes do vilão-protagonista. Ainda este ano ele lançou Original Poetry by Victor and Cazire, ao lado da irmã Elizabeth.
No dia 10 de abril de 1810 ele ingressou na Universidade de Oxford. Um ano depois ele lançou seu segundo livro gótico, St. Irvyne; or, The Rosicrucian, e escreveu um panfleto no qual propagava a necessidade de se disseminar o ateísmo. Por conta deste texto ele acabou sendo expulso de Oxford. O poeta rejeitou a chance de se desculpar e voltar atrás em suas crenças, o que provocou um sério conflito com o pai. Sua intenção, na verdade, era se dedicar aos estudos filosóficos.
Nesta época Percy retorna para Londres e encontra Harriet Westbrook, uma jovem de 16 anos, com quem se casa. Em 1812 ambos seguem para a capital irlandesa, Dublin, para divulgar a publicação de Adress to The Irish People. De volta à capital inglesa ele conhece Willian Godwin, um filósofo social extremista que contribui para o lançamento, em 1813, de sua primeira obra realmente significativa, Queen Mab, na qual reafirma a não existência de um Criador.
Em pouco tempo ele se afasta de Harriet e se apaixona por seu verdadeiro amor, a escritora Mary Woolstonecraft Godwin, mais conhecida como Mary Shelley. De forma polêmica ele se une a Mary, parte com ela para a França e convida a primeira mulher para se juntar a eles como se fosse sua irmã, o que lhe confere a fama de imoral ao lado da de ateu subversivo, especialmente depois que Harriet se suicida, em 1816. Percy é então impedido de permanecer com os filhos. Dois anos depois ele oficializa seu relacionamento com Mary, casa-se e parte para a Itália. O poeta nunca mais volta a pisar em solo inglês.
Neste país ele trava amizade com Byron e, na cidade de Pisa, criam o Círculo de Pisa, integrado também por Edward Trelawny. Em dois anos ele perde Clara e William, seus dois filhos, e a partir daí inicia em suas obras meditações mais profundas e complexas, como é possível encontrar em Prometheus Unbound e The Cenci. Seus poemas se tornam mais tristes e, após a morte do poeta Keats, ele cria para o amigo uma elegia conhecida como Adonais.
Seus parâmetros agora não são mais o viés gótico e as doutrinas sociais do século XVIII, mas sim as tragédias de origem grega, o poema de Milton, O Paraíso Perdido, e as Escrituras Sagradas. Na sua obra mais madura é possível perceber as inspirações dos textos platônicos e neoplatônicos.Apenas aos poucos Percy conquistou o circuito da crítica literária, pois durante muito tempo foi considerado um poeta nada maduro emocionalmente, um simulador de criações desconexas. O poeta morreu no dia 8 de julho de 1822, aos 29 anos, vítima de um naufrágio, ao lado do amigo Edward Williams.
Ele foi cremado, mas seu coração poupado e doado a Mary por Trelawney. Quando ela morreu, o coração de Percy foi sepultado junto com a escritora.
Fontes:
http://www.letras.ufrj.br/veralima/romantismo/poetas/shelley.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Percy_Bysshe_Shelley
http://www.infoescola.com/biografias/percy-bysshe-shelley/
Shelley - Tempo
Mar insondável, cujas ondas são os anos,
Oceano do tempo, cujas águas da aflição
Receberam o sal do pranto dos humanos!
Tu, mar sem praias, que na cheia e na vazão
Abraças os limites da mortalidade,
E uivando por mais vítimas, em tua saciedade,
Vomitas teu despojo em sua costa inóspita;
Traiçoeiro em calma, horror em tempestade,
Velejar em ti quem há de,
Insondável mar!
Oceano do tempo, cujas águas da aflição
Receberam o sal do pranto dos humanos!
Tu, mar sem praias, que na cheia e na vazão
Abraças os limites da mortalidade,
E uivando por mais vítimas, em tua saciedade,
Vomitas teu despojo em sua costa inóspita;
Traiçoeiro em calma, horror em tempestade,
Velejar em ti quem há de,
Insondável mar!
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Sophia Andresen - Soneto
Esperança e desespero de alimento
Me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é meu tormento
Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que mo dês – pois o que eu quero
Ninguém o dá senão por um momento.
Mas como é belo, amor, de não durares,
De ser tão breve e fundo o teu engano,
E de eu te possuir sem tu te dares.
Amor perfeito dado a um ser humano:
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano.
Me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é meu tormento
Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que mo dês – pois o que eu quero
Ninguém o dá senão por um momento.
Mas como é belo, amor, de não durares,
De ser tão breve e fundo o teu engano,
E de eu te possuir sem tu te dares.
Amor perfeito dado a um ser humano:
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano.
Baudelaire - A música
Arrasta me por vezes como um mar, a música!
Rumo à minha estrela,
Sob o éter mais vasto ou um tecto de bruma,
Eu levanto a vela;
Com o peito prá frente e os pulmões inchados
Como rija tela,
Escalo a crista das ondas logo amontoadas
Que a noite me vela;
Sinto vibrar em mim as inúmeras paixões
De uma nau sofrendo;
O vento, a tempestade e as suas convulsões
Sobre o abismo imenso
Embalam me. Outras vezes é a calma, esse espelho
Do meu desespero!
Rumo à minha estrela,
Sob o éter mais vasto ou um tecto de bruma,
Eu levanto a vela;
Com o peito prá frente e os pulmões inchados
Como rija tela,
Escalo a crista das ondas logo amontoadas
Que a noite me vela;
Sinto vibrar em mim as inúmeras paixões
De uma nau sofrendo;
O vento, a tempestade e as suas convulsões
Sobre o abismo imenso
Embalam me. Outras vezes é a calma, esse espelho
Do meu desespero!
Dante Milano - Música Surda
Como num louco mar, tudo naufraga.
A luz do mundo é como a de um farol
Na névoa. E a vida assim é coisa vaga.
O tempo se desfaz em cinza fria,
E da ampulheta milenar do sol
Escorre em poeira a luz de mais um dia.
Cego, surdo, mortal encantamento.
A luz do mundo é como a de um farol...
Oh, paisagem do imenso esquecimento.
A luz do mundo é como a de um farol
Na névoa. E a vida assim é coisa vaga.
O tempo se desfaz em cinza fria,
E da ampulheta milenar do sol
Escorre em poeira a luz de mais um dia.
Cego, surdo, mortal encantamento.
A luz do mundo é como a de um farol...
Oh, paisagem do imenso esquecimento.
Goethe - Fausto (frag)
Antes, em voo ousado, a imaginação
Subia até aos céus, plena de alento:
Hoje basta um estreito espaço para a ilusão
Se afundar nos abismos do tempo.
Logo o cuidado se aninha bem dentro
Do peito e traz secreto sofrimento;
Balança inquieto, estorva prazer e paz,
São sempre novas as máscaras que traz:
É casa e bens, mulher, os filhos que tiverdes,
Água, fogo, punhal, veneno, eu sei lá;
E tu tremes com medo do que nunca virá,
E choras sem cessar aquilo que não perdes.
Subia até aos céus, plena de alento:
Hoje basta um estreito espaço para a ilusão
Se afundar nos abismos do tempo.
Logo o cuidado se aninha bem dentro
Do peito e traz secreto sofrimento;
Balança inquieto, estorva prazer e paz,
São sempre novas as máscaras que traz:
É casa e bens, mulher, os filhos que tiverdes,
Água, fogo, punhal, veneno, eu sei lá;
E tu tremes com medo do que nunca virá,
E choras sem cessar aquilo que não perdes.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Caio Fernando Abreu - Frag.
Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
domingo, 4 de julho de 2010
Todesbonden - Angus Og's Fiddle(tradução)
Ao sentar-se sob a sombra das árvores
Como aqueles que estavam lá antes de mim
Eu corto desta árvore velha
Um cantor de graça e beleza
Através dos campos ele vai gritar seu nome
E soletrar seu futuro em chamas
Enquanto movimenta as pastagens além
Um nebuloso terreno das montanhas
Ouça atentamente o sopro do vento
É o sussuro de Aengus Og
Uma passagem para a antiguidade, uma relíquia para que todos possam ver
Com cada passo estou derramando é a pele
Ele respira agora dentro do meu coração
Através dos campos ele vai gritar seu nome
Um nebuloso terreno das montanhas
Ouça atentamente o sopro do vento
É o sussuro de Aengus Og
sábado, 3 de julho de 2010
Sartre - A República do Silêncio (frag.)
As circunstâncias tantas vezes atrozes do nosso combate punham-nos a viver, sem fingimento nem véus nem véus, a situação atormentada, insuportável, a que se chama condição humana. O exílio, o cativeiro e principalmente a morte, que é habilmente disfarçada nas épocas felizes, tornavam-se os objetos perpétuos das nossas preocupações, aprendíamos que não são acidentes inevitáveis, nem mesmo ameaças constantes, mas exteriores: era preciso ver nisso o nosso quinhão, o nosso destino, a origem profunda da nossa realidade de homens; em cada segundo vivíamos plenamente o sentido da pequenina frase banal: "todos os homens são mortais".
Paradise Lost - Lydia (Tradução)
Através dos holofotes que tecem e escurecem
Vem o estranho que não liga para o seu coração
A dor de viver a vida desta forma
Deve cobrar seu preço a você algum dia.
Seus olhos exaustos podem ver embaraço ou dano
A pele que sangra emocionalmente em guarda
As formas mais baixas de vida te socam por dentro
Sua aparência oca e fria, seu cansado baile de máscaras
Deixe a imagem que você apresenta seduzir
Diferente do espelho que mostra as tensões do vício
Este ato de contato, sua decadência
Enquanto as almas dispostas irão mais que pagar
Alfred de Musset - Tristeza
Eu perdi minha vida e o alento,
E os amigos, e a intrepidez,
E até mesmo aquela altivez
Que me fez crer no meu talento.
Vi na Verdade, certa vez,
A amiga do meu pensamento;
Mas, ao senti-la, num momento
O seu encanto se desfez.
Entretanto, ela é eterna, e aqueles
Que a desprezaram - pobres deles! -
Ignoraram tudo talvez.
Por ela Deus se manifesta.
O único bem que ainda me resta
É ter chorado uma ou outra vez.
E os amigos, e a intrepidez,
E até mesmo aquela altivez
Que me fez crer no meu talento.
Vi na Verdade, certa vez,
A amiga do meu pensamento;
Mas, ao senti-la, num momento
O seu encanto se desfez.
Entretanto, ela é eterna, e aqueles
Que a desprezaram - pobres deles! -
Ignoraram tudo talvez.
Por ela Deus se manifesta.
O único bem que ainda me resta
É ter chorado uma ou outra vez.
Epica - Veniality (Tradução)
Procurando por algo que ela não pode achar
Por seu próprio pedaço de alma
Ela não pode perdoar, não esquece o passado
Esse sentimento inexplicável que machuca eternamente
Lamente a verdade, a face do destino, e vença todo o passado
Não use a si mesmo, deixe a penitencia começar
Você tem de abrir seu coraçao
Para ver o confinamento
Lamente a verdade, a face do destino, e vença todo o passado
(2x)
Isso pareece tão fútil, esqueça isto, sua liberdade
O estado presente da venialidade
Lamente a verdade, a face do destino, e vença todo o passado
(3x)
Procure pelo certo, e você vai achar
Seu próprio pedaço de alma
Augusto dos Anjos - Queixas Noturnas
Quem foi que viu a minha Dor chorando?!
Saio. Minh'alma sai agoniada.
Andam monstros sombrios pela estrada
E pela estrada, entre estes monstros, ando!
Não trago sobre a túnica fingida
As insígnias medonhas do infeliz
Como os falsos mendigos de Paris
Na atra rua de Santa Margarida.
O quadro de aflições que me consomem
O próprio Pedro Américo não pinta...
Para pintá-lo, era preciso a tinta
Feita de todos os tormentos do homem!
Como um ladrão sentado numa ponte
Espera alguém, armado de arcabuz.
Na ânsia incoercível de roubar a luz.
Estou à espera de que o Sol desponte!
Bati nas pedras dum tormento rude
E a minha mágoa de hoje é tão intensa
Que eu penso que a Alegria é uma doença
E a Tristeza é minha única saúde.
As minhas roupas, quero até rompê-las!
Quero, arrancado das prisões carnais.
Viver na luz dos astros imortais,
Abraçado com todas as estrelas!
A Noite vai crescendo apavorante
E dentro do meu peito, no combate.
A Eternidade esmagadora bate
Numa dilatação exorbitante!
E eu luto contra a universal grandeza
Na mais terrível desesperação...
É a luta, é o prédio enorme, é a rebelião
Da criatura contra a natureza!
Parai essas lutas, uma vida é pouca
Inda mesmo que os músculos se esforcem,
Os pobres braços do imortal se torcem
E o sangue jorra, em coalhos, pela boca.
E muitas vezes a agonia é tanta
Que, rolando dos últimos degraus,
O Hércules treme e vai tombar no caos
De onde seu corpo nunca mais levanta!
E natural que esse Hércules se estorça,
E tombe para sempre nessas lutas,
Estrangulado pelas rodas brutas
Do mecanismo que tiver mais força.
Ah! Por todos os séculos vindouros
Há de travar-se essa batalha vã
Do dia de hoje contra o de amanhã,
Igual à luta dos cristãos e mouros!
Sobre histórias de amor o interrogar-me
E vão, é inútil, é improfícuo, em suma;
Não sou capaz de amar mulher alguma
Nem há mulher talvez capaz de amar-me.
O amor tem favos e tem caldos quentes
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;
O coração do Poeta é um hospital
Onde morreram todos os doentes.
Hoje é amargo tudo quanto eu gosto;
A bênção matutina que recebo...
E é tudo: o pão que como, a água que bebo,
O velho tamarindo a que me encosto!
Vou enterrar agora a harpa boêmia
Na atra e assombrosa solidão feroz
Onde não cheguem o eco duma voz
E o grito desvairado da blasfêmia!
Que dentro de minh'alma americana
Não mais palpite o coração — esta arca,
Este relógio trágico que marca
Todos os atos da tragédia humana!
Seja esta minha queixa derradeira
Cantada sobre o túmulo de Orfeu;
Seja este, enfim, o último canto meu
Por esta grande noite brasileira!
Melancolia! Estende-me a tua asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o Prazer vier procurar-me
Diz a este monstro que eu fugi de casa!
Saio. Minh'alma sai agoniada.
Andam monstros sombrios pela estrada
E pela estrada, entre estes monstros, ando!
Não trago sobre a túnica fingida
As insígnias medonhas do infeliz
Como os falsos mendigos de Paris
Na atra rua de Santa Margarida.
O quadro de aflições que me consomem
O próprio Pedro Américo não pinta...
Para pintá-lo, era preciso a tinta
Feita de todos os tormentos do homem!
Como um ladrão sentado numa ponte
Espera alguém, armado de arcabuz.
Na ânsia incoercível de roubar a luz.
Estou à espera de que o Sol desponte!
Bati nas pedras dum tormento rude
E a minha mágoa de hoje é tão intensa
Que eu penso que a Alegria é uma doença
E a Tristeza é minha única saúde.
As minhas roupas, quero até rompê-las!
Quero, arrancado das prisões carnais.
Viver na luz dos astros imortais,
Abraçado com todas as estrelas!
A Noite vai crescendo apavorante
E dentro do meu peito, no combate.
A Eternidade esmagadora bate
Numa dilatação exorbitante!
E eu luto contra a universal grandeza
Na mais terrível desesperação...
É a luta, é o prédio enorme, é a rebelião
Da criatura contra a natureza!
Parai essas lutas, uma vida é pouca
Inda mesmo que os músculos se esforcem,
Os pobres braços do imortal se torcem
E o sangue jorra, em coalhos, pela boca.
E muitas vezes a agonia é tanta
Que, rolando dos últimos degraus,
O Hércules treme e vai tombar no caos
De onde seu corpo nunca mais levanta!
E natural que esse Hércules se estorça,
E tombe para sempre nessas lutas,
Estrangulado pelas rodas brutas
Do mecanismo que tiver mais força.
Ah! Por todos os séculos vindouros
Há de travar-se essa batalha vã
Do dia de hoje contra o de amanhã,
Igual à luta dos cristãos e mouros!
Sobre histórias de amor o interrogar-me
E vão, é inútil, é improfícuo, em suma;
Não sou capaz de amar mulher alguma
Nem há mulher talvez capaz de amar-me.
O amor tem favos e tem caldos quentes
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;
O coração do Poeta é um hospital
Onde morreram todos os doentes.
Hoje é amargo tudo quanto eu gosto;
A bênção matutina que recebo...
E é tudo: o pão que como, a água que bebo,
O velho tamarindo a que me encosto!
Vou enterrar agora a harpa boêmia
Na atra e assombrosa solidão feroz
Onde não cheguem o eco duma voz
E o grito desvairado da blasfêmia!
Que dentro de minh'alma americana
Não mais palpite o coração — esta arca,
Este relógio trágico que marca
Todos os atos da tragédia humana!
Seja esta minha queixa derradeira
Cantada sobre o túmulo de Orfeu;
Seja este, enfim, o último canto meu
Por esta grande noite brasileira!
Melancolia! Estende-me a tua asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o Prazer vier procurar-me
Diz a este monstro que eu fugi de casa!
Tacere - Black roses(tradução)
O tempo congelou.
Todos os momentos são roubados.
Tudo parece tão cinzento.
E mesmo o silêncio é silêncio agora.
Mas eu ainda sinto.
Os sussurros do meu coração.
O anseio por alguma coisa.
Perdi muito tempo atrás.
Não sei o que, nem onde.
Não sei quando, nem porquê.
As rosas pretas ela me deu. Eu realizei essa contradição.
O único mentindo para mim era eu.
Já não é necessário tempo para congelar ...
Aqueles momentos capturados voltam com a brisa..
Eu ainda estou sozinho e ainda assim para sempre
As rosas pretas ela me deu. Eu realizei essa contradição.
O único mentindo para mim era eu.
Já não é necessário tempo para congelar ...
Aqueles momentos capturados voltam com a brisa..
Eu ainda estou sozinho e ainda assim para sempre
Por quê? Não sei porquê ...
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Nietzsche - frag.
"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás de passar para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem número, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio, mas isso te custaria a tua própria pessoa: tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Aonde leva? Não perguntes, segue-o!"
Manoel de Barros - A maior riqueza do homem
A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Lou Salomé - Aforismo
"A vida humana- Ah!
A vida sobretudo - é poesia.
Inconscientes, nós a vivemos, dia a dia
passo a passo- mas em sua intengível
plenitude ela vive e se nos traduz em poesia".
A vida sobretudo - é poesia.
Inconscientes, nós a vivemos, dia a dia
passo a passo- mas em sua intengível
plenitude ela vive e se nos traduz em poesia".
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